“As alterações climáticas são um ator na transformação económica de Portugal”
“Quando chegamos ao Governo no final de 2015, já sabíamos que o maior desafio estratégico com que a humanidade está confrontada chama-se alterações climáticas”. O primeiro-ministro, António Costa, que falou, na manhã desta sexta-feira, na cerimónia de apresentação das carruagens ARCO no Parque Oficinal de Guifões, em Matosinhos, no distrito do Porto, reconheceu, contudo, o caminho longo que já foi feito na área da energia: “Tínhamos um bom ponto de partida”.
Na componente da mobilidade o mesmo já não se pode dizer, com Portugal a testemunhar um longo atraso: “Metade das emissões têm mesmo a ver com a mobilidade e grande parte delas concentram-se nas cidades”. Para combater este atraso, o Governo centrou muitos dos investimentos neste setor, em várias dimensões: “Conhece-se o investimento que foi feito, nomeadamente, no estímulo à procura, com o PART (Programa de Apoio à Redução Tarifária nos Transportes), o investimento lançado no metro do Porto e em Lisboa, na Carris ou nas competências atribuídas às Áreas Metropolitanas”.
Numa outra dimensão, encontra-se a Ferrovia: “Em 2016, aprovamos o Plano (de Investimentos) Ferrovia 2020”. Um plano que, lembra o primeiro-ministro, foi durante anos “muito atacado” por não apresentar resultados: “Não se faz um percurso sem se ter uma rota pré definida e, por isso, a estratégia é essencial”. Aliás, este foi o primeiro esforço: “Encomendar o que não havia, realizar projetos para infraestruturas e, depois, lançar concursos para execução da infraestrutura”. E “só na linha que liga Sines à fronteira trata-se do maior investimento em infraestrutura ferroviária dos últimos 100 anos”, exemplifica.
Numa terceira dimensão está o “material circulante”, refere António Costa, destacando o forte investimento que tem sido feito na “modernização do transporte rodoviário ou na aquisição de novas composições para os metropolitanos do Porto e de Lisboa”. Contudo, o primeiro-ministro, usando as palavras do ministro das Infraestruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos, lembra que o investimento no material circulante dos comboios não é o mesmo do que nos carros: “De facto não há stands onde vamos comprar as composições. E não basta querer comprar e ter dinheiro, é preciso fazer a encomenda e gerir num tempo necessário à sua produção”. E, foi precisamente, isso que se fez: “Criar condições para podermos ter material circulante”, declara.
“Durante mais de uma década estas oficinas (de Guifões) estiveram encerradas. Viemos em janeiro de 2020 reabri-las. E hoje podemos dizer que foi possível: entre automotoras, locomotivas e carruagens, são mais de 67 que estão aqui intervencionadas”, disse o governante, acrescentando que a requalificação das carruagens ARCO vai permitir “preencher o período de tempo que Portugal vai ter de aguardar pela entrega da maior encomenda de material circulante que alguma vez a CP (Comboios de Portugal) fez”.
O concurso aprovado para a aquisição de 117 novas automotoras elétricas pela CP, num valor de 819 milhões de euros, é a prova de que se governa com os olhos postos no futuro do país: “Ao contrário do que muitos dizem, que não estamos a governar para amanhã porque, de facto, a primeira composição só chega em 2026, ou seja, quase no final da próxima legislatura”, sublinhou.
Voltando às alterações climáticas, António Costa reforçou a importância de tornar este desafio num “ator-chave” na transformação económica de Portugal: “É verdade que há atividades descontinuadas, mas é verdade também que há novas atividades que podem ser criadas e há atividades que podem ganhar uma nova força e uma nova dinâmica”.
Quando se fala em “competitividade da economia portuguesa” o primeiro-ministro acredita que só é possível atingir uma “maior competitividade” quando se produz “bens de maior valor acrescentado”, dando como exemplo as diversas indústrias portuguesas que se reinventaram, como a agroalimentar, o têxtil ou vestuário. Mas, “aumentar o valor acrescentado” implica “não perder nenhum dos setores tradicionais, investir fortemente na inovação e qualificação desses setores para termos um melhor preço e um melhor valor acrescentado”, reforça.
A estratégia do Governo não se esgota na infraestrutura, nem na recuperação do material circulante: “Não podemos perder a esperança de voltarmos, nós próprios, a produzir as nossas composições. Vamos conseguir? Não sabemos, mas a nossa obrigação é tentar e fazer tudo para que seja possível”, rematou.