Artista plástico recorre a brinquedos descartados e à cultura local para dar uma “nova vida” ao Galo de Barcelos
Em Portugal pela primeira vez, Robert Bradford, artista plástico, traz consigo a exposição “Toy Stories” que estará no Amoreiras Shopping Center até ao dia 11 de junho. Inaugurada oficialmente esta quinta-feira, 11 de maio, a “Toy Stories” contempla no seu total 14 obras de artes, onde se destaca a peça inédita com dois metros de altura inspirada num símbolo cultural português: o Galo de Barcelos.
As esculturas feitas partir de brinquedos descartados foi o que, em 2004, deu reconhecimento internacional a Robert Bradford: “Comecei a considerar as possibilidades que os brinquedos esquecidos dos meus filhos poderiam ser parte de algo maior. Consigo visualizar a beleza e o potencial artístico nos objetos descartados e encontrei uma maneira única de os transformar em obras de arte significativas”.
À Ambiente Magazine, Robert Bradford revela que a “Toy Stories” é uma retrospetiva daquele que tem sido o seu trabalho de esculturas de brinquedos e trabalhos mais recentes de pintura: “É uma representação visual da importância da reciclagem, reutilização e do potencial artístico de materiais considerados inusitados ou lixo, incentivando a consciencialização sobre a sustentabilidade e a importância de proteger o nosso meio ambiente”. Uma consciência ambiental que começou por coincidência: “Sempre gostei de usar materiais usados que têm a sua própria história como livros, revistas, madeira velha, resíduos de árvores etc. Um certo dia, descobri no meu estúdio uma velha caixa de brinquedos e comecei a juntá-los”. O facto de ter trabalhado como “profissional de saúde mental”, o artista vê “muitos paralelismos” entre a arte e a psicoterapia: “O trabalho em arteterapia transformou a minha perspetiva e visão de vida. Ganhei uma nova consciência, começando a reaproveitar brinquedos e resíduos, dando-lhes uma nova forma e significado”. Ao tornar resíduos em arte, “quero mudar a perspetiva dos visitantes, convidando-os a olhar de forma diferente para os materiais descartados, mostrando que estes podem ser transformados em peças valiosas e significativas”, explicita. Nesta retrospetiva artística, Robert Bradford pretende também “estimular a reflexão sobre a relação entre a arte, a sustentabilidade e a cultura local”, onde se destaca a peça inédita inspirada no símbolo cultural português: o Galo de Barcelos.
Desta exposição fazem parte 14 obras de arte, das quais 11 são esculturas coloridas e impactantes feitas a partir de brinquedos descartados: “Procuro transformar materiais reciclados em esculturas cheias de cor, ironia e energia positiva”. Além das esculturas, destaque para “três pinturas recentes e abstratas da série Trash Art e que incorporam materiais reciclados”, como “desenhos reciclados recortados ou postais retro”, refere.
“A arte é um espaço extremamente livre num mundo de muitos constrangimentos, de vulgaridade, de injustiças e de tédio”
Com a “Toy Storys” Robert Bradford pretende passar uma mensagem importante sobre sustentabilidade e reciclagem, mas também sobre a importância de encontrar significado em objetos inusitados e descartados: “Ao criar as obras com materiais reciclados ou que já não têm mais uso, destaco a necessidade de repensar o nosso consumo excessivo e o impacto ambiental do desperdício”. As esculturas reforçam a “importância da reciclagem, da reutilização e do potencial artístico de materiais considerados lixo”, estimulando a importância de proteger o meio ambiente, reitera. Ainda assim, não existe “uma mensagem única” por detrás destes trabalhos: “Embora goste de experimentar vários tipos de forma e conteúdo e tente, tanto quanto possível, não me repetir, não gosto de desperdícios e, de uma forma simbólica, acredito fazer a minha parte para dar uma nova utilização a plásticos e peluches velhos. Com isso, espero que as obras questionem um pouco o que pode ser visto como arte num contexto contemporâneo”.
Nesta exposição, em específico, a base de inspiração vem de todo o lado: “De um novo material, de um trabalho anterior, de uma combinação de cores, de trabalhos de outras pessoas ou até de conceitos psicoterapêuticos”, refere o artista, partilhando que, “hoje em dia, tenho mais ideias do que mãos para as realizar: o interesse nunca diminui verdadeiramente”. Robert Bradford olha para a arte como sendo “um espaço extremamente livre num mundo de muitos constrangimentos, de vulgaridade, de injustiças e de tédio”.
E como surgiu a ideia do Galo de Barcelos?
“É uma forma de homenagear e incorporar a cultura local na exposição. Foi de facto a maneira que encontrei para conectar a minha arte com a cultura local e criar uma obra que fosse relevante para o público português”, explica o artista, acrescentando que ao “explorar a interseção entre a cultura local e a sustentabilidade, quis destacar a importância de preservar tradições culturais enquanto se adotam práticas sustentáveis, e ainda transmitir a minha visão sobre a importância da preservação cultural e do uso criativo de materiais reciclados na arte contemporânea”. Após ter aprendido de como é um “elemento importante e significativo na cultura portuguesa e explorar todo o mito do Galo”, Robert Bradford viu ainda exemplos de esculturas feitas inspiradas neste símbolo nacional ao longo das últimas décadas: “Gostei das formas abstratas que outros artistas utilizaram, mas quis tornar a minha escultura reconhecível como a versão do “Galo por Bradford”, sendo o único, até hoje (pelo menos que saiba), feito a partir de brinquedos e outros objetos reciclados e descartados”. Para esta obra, foram utilizadas cerca de “1.500 a 2.000 peças de madeira e plástico, embora, nem todas as peças utilizadas no Galo sejam estritamente brinquedos, contendo por exemplo, fichas de póquer, paus de gelado, entre outras peças”, refere.
O convite para apresentar esta exposição em Portugal deve-se ao facto de Robert Bradford partilhar do mesmo objetivo da State of the Art e do Amoreiras Shopping Center: “Enriquecer a experiência cultural dos visitantes do shopping com uma exposição inédita no país, proporcionando uma oportunidade única para estes apreciarem arte contemporânea, ao mesmo tempo em que incentivamos a reflexão sobre questões importantes da atualidade”. Foi ainda importante o facto de ser “um local de acesso público e de grande circulação”, ampliando o “alcance da arte para além dos espaços tradicionais de galerias e museus”, tornando-a mais “acessível e inclusiva para um público diversificado”, acrescenta.
“Portugal parece estar realmente “lá em cima” no que diz respeito a implementar as medidas necessárias para resolver o problema”
Para o artista plástico, é “muito louvável” ver a dimensão dos esforços que Portugal está a fazer para dar resposta ao problema do plástico: “Assume a liderança dos seus homólogos europeus na adoção de legislação sobre plásticos de utilização única”. Apesar de que, “a nível global, poderíamos todos ter sido um pouco mais rápidos” no que à problemática diz respeito, Robert Bradford é da opinião de que “mais vale tarde do que nunca: e, em comparação com outros países, Portugal parece estar realmente “lá em cima” no que diz respeito a implementar as medidas necessárias para resolver o problema”.