Aquecimento dos mares no Atlântico Nordeste pode ter um impacto devastador nas populações de peixes

A onda de calor marinho que está a registar temperaturas recorde no Atlântico Norte, aliada ao aquecimento dos mares, que resulta da aceleração das alterações climáticas, pode ter um impacto devastador, afetando as espécies icónicas de peixes pelágicos no Atlântico Norte. O alerta é do Marine Stewardship Council (MSC), Organização Não Governamental que estabelece uma norma global para a pesca sustentável, que atenta no facto de espécies como a cavala, o arenque atlanto-escandinavo e o verdinho dependerem das águas mais frias do Atlântico Norte para se reproduzirem e manterem populações saudáveis.

De acordo com o MSC, o aquecimento dos mares pode também influenciar a deslocação dos peixes para norte, em direção a temperaturas mais frescas, pelo que é importante que os Governos trabalhem em conjunto, para além das suas fronteiras nacionais, a fim de assegurarem uma monitorização e uma gestão eficazes das populações de peixes partilhadas.

No mesmo comunicado, a ONG atenta que estas espécies já estão a ser sobre-exploradas porque as principais nações pesqueiras, como o Reino Unido, a Noruega, a UE, a Islândia, as Ilhas Faroé, a Gronelândia e a Rússia, não conseguem chegar a acordo sobre as quotas de pesca totais em conformidade com os pareceres científicos: “Este impasse político, associado ao aquecimento dos mares, que empurra os peixes mais para norte e altera os seus padrões de distribuição, está a criar a tempestade perfeita que coloca em risco a saúde futura destes importantes stocks de peixes”.

À medida que os mares se tornam mais quentes e as ondas de calor marinhas mais frequentes, o MSC reitera para a necessidade de os Governos darem prioridade à gestão sustentável destas unidades populacionais, por forma a garantir a sua resistência aos impactos das alterações climáticas.

“Sabemos que estas espécies pelágicas são sensíveis às mudanças de temperatura. Já vimos que o clima afeta a sua distribuição, a sua capacidade de desova e as suas taxas de mortalidade. O rápido aquecimento dos mares poderá acelerar estas alterações. Com base em análises recentes, poderão também ter um impacto significativo na capacidade de reprodução do arenque e do verdinho”, atenta Olav Sigurd Kjesbu, cientista principal do Instituto de Investigação Marinha da Noruega.

Já Christopher Free, do Instituto Marinho da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, dá nota que, “na última década, as ondas de calor marinhas afetaram as pescas em todo o mundo. Se as condições no Atlântico Norte se mantiverem quentes, podem avizinhar-se catástrofes semelhantes”.

O fenómeno El Niño, que, segundo as previsões, vai provocar ondas de calor em 50% dos oceanos até setembro, já levou a maior pescaria pelágica do mundo, a pescaria peruana de Anchoveta, a cancelar a campanha de pesca deste ano, atenta a ONG.

Erin Priddle, Diretora Regional do MSC para a Europa, alertou que “os responsáveis políticos têm de encontrar uma forma de incorporar as mudanças nas unidades populacionais, como a alteração da distribuição dos pelágicos do Atlântico Nordeste, em planos de gestão pesqueira sólidos e a longo prazo. Sem um planeamento conjunto e eficaz, os nossos recursos haliêuticos podem ser colocados em risco de sobre-exploração, sobrepesca e mesmo de rutura das populações de peixes”.