Tal como as folhas das árvores, o cabelo humano também cai.
É um processo normal de renovação: 12-15% do nosso cabelo está sempre em fase de substituição. Cada pessoa perde cerca de 100 cabelos por dia, são mais de 36.500 cabelos/ano. Imagine esse número multiplicado pelos mais de 10 milhões de pessoas que vivem em Portugal… No entanto, quando pensamos em resíduos, o cabelo não é a primeira coisa que nos vem à cabeça. Talvez por não estarmos conscientes do seu potencial para entupir os sistemas de tratamento de águas residuais.
O cabelo é biodegradável, mas é um processo lento. Pode demorar várias semanas ou anos a decompor-se, por isso não se degradam nas estações de tratamento de águas residuais.
Por serem tão finos, passam pelas fases de desbaste e de peneiração, que são operações anteriores aos processos de tratamento propriamente ditos, e fazem parte do pré-tratamento, cujo objetivo é reter os resíduos sólidos que, devido à sua natureza/dimensão, danificariam o equipamento e prejudicariam a eficiência das fases de tratamento subsequentes.
Os cabelos degradam-se pouco no tratamento biológico, cuja etapa pertence ao tratamento secundário e consiste em reduzir o teor de matéria orgânica da água, ou seja, o seu teor de nutrientes. O tratamento biológico é levado a cabo por uma série de processos que utilizam microrganismos para remover componentes solúveis na água. Os microrganismos alimentam-se da matéria orgânica e dos nutrientes (azoto e fósforo) dissolvidos nas águas residuais para o seu próprio crescimento, convertendo-os em substâncias inorgânicas.
Após estes processos biológicos da água, cerca de 90% das águas residuais estão isentas de substâncias biodegradáveis. No entanto, muitas vezes os cabelos também passam esta fase, e são encaminhados para a linha de lamas nos digestores das estações de tratamento de águas residuais, onde podem causar problemas.
No digestor, as lamas são continuamente misturadas pelos sistemas de bombagem. O problema é que o material fibroso (cabelos e outras fibras) tende a aglomerar-se e a formar novelos, o que pode causar bloqueios e entupimentos e levar a avarias na estação de tratamento.
O que é que nós podemos fazer?
- Utilizar filtros que recolham os cabelos no duche. Reduziria consideravelmente o volume de cabelo que chega à estação de tratamento de águas residuais e também evitaria problemas com tubagens entupidas, o que seria bom, tanto para a sua casa, como para a ETAR.
- Não deitar o cabelo na sanita. Quer o apanhe do chão, do lavatório ou do filtro de cabelo, não o deite na sanita. Acabará na estação de tratamento de águas residuais e não evitará quaisquer problemas
- Deve deitá-lo no caixote do lixo, mas não juntamente com o lixo orgânico – ecoponto castanho, deve ser colocado no ecoponto amarelo – Plástico e metal.
Adicionando os dados das toalhitas…
As toalhitas, os cabelos, os cotonetes… que são deitados na sanita, juntamente com gorduras, óleos, e outras substâncias que chegam aos sistemas de esgotos, geram uma massa compacta que causa um impacto negativo direto em várias áreas: em casas e cidades, uma vez que entope os canos e as condutas dos edifícios; nas estações de tratamento de águas residuais, devido ao entupimento das estações e aos custos adicionais envolvidos; no ambiente, devido ao seu potencial impacto no ecossistema.
Este custo é repercutido em todos os consumidores através das faturas de água, independentemente de utilizarem ou não estes produtos.
*Este texto é da responsabilidade da Aqualia e foi publicado na edição 108 da Ambiente Magazine