Em cenários de elevada penetração renovável, são vários os desafios que se colocam, nomeadamente, envolver mais os cidadãos na transição energética, havendo mesmo a necessidade de uma maior proatividade, e convencê-los a perceberem que vale mesmo a pena tornarem-se prosumers.
Esta foi uma das conclusões retiradas do painel “Funcionamento do MIBEL em cenários de elevada penetração renovável”, promovido na conferência anual da APREN (Associação Portuguesa de Energias Renováveis) que se realizou, em formato digital, nos dias 6 e 7 de outubro.
Em entrevista à APREN, Nuno Ribeiro da Silva, presidente da Endesa Portugal, reconhece que a falta de ação por parte dos cidadãos não é estranha, até porque há outros aspetos técnicos: “Nós fomos criados a receber a fatura e a pagar”. Portanto, “sermos agora chamados para ser atores” exige um “processo de adaptação” num tema que tem “bastante tecnicidade”, diz, acreditando que “as pessoas vão levar tempo a entrar no assunto” e a “serem convidadas” para “ser mais seletivas e críticas”, relativamente à “melhor forma de otimizarem a fatura energética”.
No que diz respeito à literacia, o presidente da Endesa Portugal defende que haja mais e boa informação, mas também “não pensar que cada um de nós vai ser engenheiro eletrotécnico”. Também é importante haver sinais em termos de fiscalidade que levem as pessoas a interessar-se e a serem chamadas para atuar. Um bom exemplo disso é “dar estímulos para que as pessoas instalem os seus sistemas de produção, como os painéis solares, para que invistam em equipamentos mais eficientes ou mesmo que sejam atores na mudança para a mobilidade elétrica”, refere. E, nestas matérias, Nuno Ribeiro da Silva afirma que há muitas coisas por onde se pode começar, como por exemplo, “criar comunidades energéticas”, fazendo “revenda do que posso produzir nos meus telhados ou chão” para os vizinhos: “As pessoas precisam de ter sinais adequados para se tornarem de interessados a atores no terreno”.
As renováveis na recuperação económica
A recuperação económica é agora um dos vetores em qualquer país na Europa e a descarbonização está dentro dos planos de recuperação. “Grande parte dos fundos que têm sido alocados no plano de recuperação” centram-se no tema das “renováveis” e da “descarbonização” a par da “digitalização” recorda o responsável, que não tem dúvidas de que a temática está bem presente em Portugal e na Europa. Além disso, o presidente da Endesa Portugal considera que a União Europeia tem agora a “oportunidade para se afirmar a nível mundial” em termos de tecnológicos e procedimentos, numa liderança que “todo o mundo vai ter que seguir”.