#APREN: “O falhanço eventual do Green Deal significaria o falhanço de uma estratégia de recuperação da UE”, afirma Carlos Zorrinho
Maria da Graça Carvalho e Carlos Zorrinho, ambos eurodeputados, foram os oradores do painel “O papel do Green Deal na recuperação económica” promovido na conferência anual da APREN (Associação Portuguesa de Energias Renováveis) que, este ano, tem como tema central “A eletricidade renovável no centro da descarbonização”
Maria da Graça Carvalho iniciou o seu discurso dando nota de que o Green Deal é uma “estratégia associada uma série de diretivas que, no seu conjunto, vão conduzir à grande visão da União Europeia”. Como é o caso da “Lei do Clima” que é vista como uma das mais ambiciosas no que diz respeito à redução das emissões, refere. O programa “Horizonte Europa” que vai financiar as “novas tecnologias” e onde uma percentagem será dedicada ao Green Deal, é também um exemplo de que, nesta estratégia, “não há apenas uma diretiva a ser negociada”: “Esta Comissão Europeia escolheu toda a questão ambiental como a sua agenda de crescimento e o Green Deal é essa agenda”, sustenta.
Também Carlos Zorrinho olha para o Green Deal como o “resultado” de muitas negociações e programas: “É o resultado de um esforço conjunto para atingir a meta da descarbonização em 2050 e a meta ambiciosa da redução entre 55% e 60% de emissões até 2030”. Tais metas, recorda o deputado europeu, vão implicar “30% quer dos planos recuperação nacionais, quer dos fundos comunitários que são a isso dedicados” e, ainda, uma “estratégia de transformação” nos modelos industriais, coesão territorial ou na mobilidade limpa. E quer a União Europeia (UE) quer Portugal fizeram um “esforço muito grande na aposta da união de energia”, afirma, exemplificando com os exemplos das “renováveis”, a “segurança de abastecimento” ou na “investigação para as energias limpas”, tendo agora a “possibilidade” de, pela primeira vez, ter “energia limpa, renovável e com preços competitivos à escala mundial”.
Nestas matérias, Carlos Zorrinho acredita que “o falhanço eventual do Green Deal significaria o falhanço de uma estratégia de recuperação e resiliência da UE”. O eurodeputado frisa que o Acordo Verde Europeu tem tudo para ser um projeto bem sucedido e “muito importante” no qual “Portugal tem particular histórico e oportunidade de ser bem sucedido no futuro”.
Relativamente às dificuldades no sucesso da implementação do Green Deal, o responsável refere que “nem todos os países estão igualmente colocados para beneficiar desta oportunidade”, havendo para tal recursos muito importantes como o da “transição justa” e “outros recursos para fazer a este nível uma lógica de convergência”. Mas, do ponto de vista de Carlos Zorrinho, um fator-chave é a questão de cárcere geopolítico: “Esta CE afirmou-se como uma comissão geopolítica e que se quer afirmar de uma estratégia diferenciada no plano global”. E só essa ambição geopolítica é que tornou possível o “pacote solidário” de que “estamos agora beneficiar e a implementar”. Carlos Zorrinho acredita mesmo que, “se conseguirmos que a estratégia do Acordo de Paris e da transformação verde se imponha no plano global, podemos ser não só os inspiradores mas também os vendedores do conceito, da tecnologia e da oportunidade”, defendendo ser importante fazer uma aposta numa “perspetiva de visão global de posicionamento da EU, algo que motiva os governos e os parlamentos e dar benefícios aos cidadãos”.
Também Maria da Graça Carvalho sustenta a importância de se “escutar” a “ciência” e a “tecnologia” para o bom desenvolvimento do Green Deal: “Se uma tecnologia ainda não está pronta, devemos investir um pouco mais em projetos piloto ou de demonstração e depois aplicar em alta escala”. Uma outra barreira que deve ser combatida é o “financiamento necessário para as infraestruturas”, algumas delas transfronteiriças como a “mobilidade elétrica” ou o “hidrogénio”. Para a responsável, “são financiamentos muito grandes” que precisam de ser aplicados. Outra questão crucial é “ganharmos as pessoas”, refere, considerando que “são poucas as que produzem a sua própria energia e que encontram soluções para maior eficiência energética no dia-a-dia”. Maria da Graça Carvalho destaca a carência de “conhecimento acessível” e “know-how suficiente” nestas matérias, sendo fundamental maior “capacitação para termos uma maior descentralização”, onde “cada um de nós seja ator e tenha um papel ativo nesta ação”.