A Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN) e a consultora Deloitte apresentaram esta semana o estudo “Impacto da eletricidade de origem renovável” realizado este ano pela Deloitte.
O estudo disponibiliza dados relativos ao impacto da eletricidade de origem renovável em Portugal entre 2014 e 2018, no sistema elétrico, economia, sociedade e ambiente, assim como projeções desse impacto até 2030 no contexto da política energéticas e objetivos estabelecidos pelo país para esse período, ao abrigo do Plano Nacional Energia-Clima para 2030 (PNEC 2030).
De acordo com a APREN, para a elaboração do estudo foi “recolhida informação junto dos principais organismos nacionais e internacionais responsáveis pela definição das políticas e regulação do setor energético” (em particular da eletricidade e da energia renovável), bem como de “empresas que operam no setor da eletricidade de origem renovável em Portugal”.
Principais conclusões:
- Energia Renovável no setor da eletricidade
A capacidade instalada de centros produtores de eletricidade renovável aumentou 2.549 MW, entre 2014 e 2018, correspondendo a uma taxa de crescimento médio anual superior à verificada entre 2010 e 2013.
A produção de eletricidade de fontes renováveis incide sobretudo nas FER hídrica e eólica, e as restantes fontes têm ainda uma representatividade residual, na sua globalidade as FER representam mais de 50% da produção total de eletricidade.
A priorização do tema da descarbonização da economia e da sociedade tem marcado a agenda política do setor da energia desde o Acordo de Paris. A tendência tem sido estabelecer metas de redução de emissões cada vez mais exigentes e vinculativas aos diferentes países da UE, sendo o seu cumprimento apenas possível com o desenvolvimento das energias renováveis.
O PNEC 2030, em linha com o regulamento europeu, pretende promover a descarbonização da economia e a transição energética, apontando à próxima década como fulcral na concretização destes objetivos.
Em linha com os objetivos propostos no PNEC 2030, o setor renovável deverá ser alvo de um crescimento de capacidade instalada em novos e existentes centros produtores de eletricidade renovável para mais do dobro do valor de 2015.
Para alcançar os objetivos propostos no PNEC 2030, será necessário um investimento significativo no setor renovável que é absolutamente essencial para materializar o ambicioso crescimento de capacidade instalada.
- Impacto no mercado de eletricidade
Os principais impactos na tarifa de eletricidade oriundos da utilização de FER são repercutidos na tarifa de uso global de sistema através dos CIEG e no custo de compra e comercialização de eletricidade no Mercado Ibérico.
O diferencial de custo da PRE renovável é uma componente significativa dos CIEG e repercute-se na tarifa de venda a clientes finais.
O impacto das fontes renováveis influencia positivamente o preço de mercado da eletricidade transacionada no Mercado Ibérico devido ao seu reduzido custo marginal.
Considerando o diferencial de custo da PRE renovável e o seu impacto no preço do mercado diário de eletricidade, verifica-se um efeito líquido positivo para o sistema, com um valor acumulado de cerca de 2,4 mil milhões de euros nos últimos 9 anos.
- Impacto social/económico
A contribuição acumulada das FER para o PIB superou os 15 mil milhões de euros no período 2014-2018, correspondente a um valor médio anual de 3 mil milhões de euros.
De acordo com os objetivos estabelecidos até 2030, estima-se que o VAB proveniente das FER cresça a um ritmo de 9% ao ano, atingindo 11 mil milhões de euros em 2030, representando mais de 4,5% do PIB.
Em 2030, e de acordo com as metas estabelecidas no PNEC 2030, a geração de eletricidade solar fotovoltaica será a maior contribuinte das FER para o PIB, representando cerca de 59% do total, seguindo-se a eólica com cerca de 30%.
Entre 2014 e 2018, as FER geraram mais de 41 mil empregos (em média anual), com um valor acrescentado por colaborador muito superior à média nacional.
Com o crescimento previsto da potência instalada e da geração de eletricidade de fonte renovável para os próximos anos, o impacto do setor das FER no emprego continuará a acentuar-se, devido ao crescimento da capacidade instalada e geração de eletricidade renovável. Entre 2018 e 2030, prevê-se que o impacto das FER no emprego irá mais do que triplicar, gerando um adicional de cerca de 114 mil colaboradores no setor.
Em 2030 as contribuições para a Segurança Social provenientes das FER alcançarão mais de 100 milhões de euros, das quais 2,7% provêm da empregabilidade direta no setor.
Entre 2014 e 2018, o Estado português arrecadou em média, em cada ano mais de 213 milhões de euros de IRC e cerca de 12 milhões de euros com a Derrama Municipal provenientes do setor das FER. Estima-se que, em 2030, o valor cresça para mais de 650 milhões de euros.
- Impacto ambiental
A eletricidade de fonte renovável, ao substituir fontes mais poluentes, permitiu evitar a emissão de 11,3 milhões de toneladas de CO2 em 2018.
Para 2030, perspetiva-se uma poupança total de cerca de 784 milhões de euros com licenças de CO2, devido às emissões de CO2 que se prevê evitar nesse ano.
- Impacto na dependência energética
Entre 2014 e 2018, a produção de eletricidade de origem renovável permitiu poupar aproximadamente 5 mil milhões de euros em importação de carvão e gás natural.
A dependência energética tende a reduzir de forma considerável até 2030, notabilizando-se o caso do carvão, sobre o qual se estima o término da sua importação.
A aposta na produção de eletricidade a partir de fontes endógenas e renováveis tenderá a reduzir a dependência energética no exterior em valores de mais de 25 p.p. em 2030.
Este estudo constitui assim uma ferramenta de suporte para os principais players do mercado energético renovável em Portugal, numa altura em que a estratégia de transição energética ocupa uma importância crescente no mercado nacional. Para além da mitigação das alterações climáticas, os benefícios incluem a diminuição da importação de combustíveis fósseis, da dependência energética, o aumento da eficiência energética da economia e a poupança de custos que se refletem no consumidor de energia. Estes benefícios são fundamentais para manter a qualidade de vida dos cidadãos e a competitividade das empresas.