A REN21 publicou no passado dia 18 de junho a edição de 2019 do seu relatório anual Renewables Global Status Report (GSR), que apresenta o ponto de situação mundial do desenvolvimento da energia renovável e assinala as medidas e objetivos a que cada país se compromete de forma a possibilitar a incorporação massiva destas tecnologias. Este ano, o relatório alerta para “políticas erráticas” que têm vindo a ser aplicadas em alguns países, que servem de barreira ao necessário desenvolvimento das energias renováveis, responsáveis por cerca de um quarto (26%) da produção mundial de eletricidade.
O relatório destaca a crescente representatividade dos centros eletroprodutores renováveis no portefólio mundial, que hoje se estima ser acima de 33% da capacidade instalada total (cerca de 7 000 gigawatts (GW)). Em 2018 foram instalados 181 GW de nova capacidade renovável, dos quais 100 GW correspondem a solar fotovoltaica (capacidade suficiente para, por exemplo, suprir mais de 25% da procura de eletricidade em França).
No que se refere à incorporação de renovável variável no mix de produção de eletricidade, Portugal surge no 5.º lugar do top mundial, posicionando-se entre a Alemanha e a Espanha, conforme representado na figura abaixo.
No entanto, a falta de políticas ambiciosas e continuadas em vários países que promovam a descarbonização nos setores de aquecimento, arrefecimento e transportes indica que não se está a maximizar os benefícios da transição energética, que incluem, por exemplo, a melhoria da qualidade do ar e, consequentemente, a da saúde das populações.
Segundo Rana Adib, secretário executivo da REN21, “poderia haver um avanço importante se os países eliminassem os seus subsídios aos combustíveis fósseis, que estão a impulsionar a energia suja”. Políticas ambiciosas e a criação de enquadramentos regulatórios adequados são medidas consideradas como fundamentais para a criação de condições favoráveis e competitivas, que permitam o crescimento da energia renovável e a substituição dos combustíveis fósseis que, além de mais caros, são emissores de Gases com Efeito de Estufa. De facto, o relatório afirma que em 2017 foram ainda aplicados subsídios aos combustíveis fósseis em 112 países, estimados em aproximadamente 300 mil milhões de dólares.
No que se refere aos setores do aquecimento, arrefecimento e transportes, os desenvolvimentos não são tão pronunciados, uma vez que as renováveis integram apenas 10% da energia utilizada para aquecimento e arrefecimento e pouco mais de 3% nos transportes, existindo ainda um leque de oportunidades para que estes desempenhem o seu relevante papel na transição energética. Este desequilíbrio deve-se, em grande parte, ao apoio insuficiente ou instável das políticas existentes, tendo mesmo sido verificada uma redução do número de países com políticas específicas para incorporação de renováveis nestes setores.
Apesar do apoio deficitário, estão a ser implementadas iniciativas nestes setores. Os biocombustíveis sustentáveis, os veículos elétricos e as políticas de mobilidade sustentável estão a reduzir a dependência geral de combustíveis fósseis no setor dos transportes. Ao nível do aquecimento e arrefecimento, as políticas incluem certificação energética de edifícios, incentivos ao calor renovável e objetivos específicos de incorporação de renovável neste setor, bem como abordagens indiretas como a aplicação de taxas de carbono (consideradas subutilizadas pela REN21).
Este relatório serve assim de chamada de atenção ao longo percurso que ainda temos pela frente, destacando que são necessárias metas climáticas mais ambiciosas a nível mundial, e como base para identificação de um conjunto de oportunidades que podem servir de benchmarking para a transição energética.
A APREN congratula a REN21 por mais uma publicação de grande qualidade, que é já uma referência para o setor da energia renovável, e agradece a oportunidade que lhe foi dada de participar e colaborar na caraterização do panorama nacional.