A aposta de Moçambique na indústria extrativa vai gerar problemas climáticos a longo prazo, colocando o país na lista de nações poluentes, segundo a ambientalista moçambicana Dipti Bhatnagar. “Ao apostar na indústria extrativa, Moçambique vai entrar para a lista dos causadores dos problemas ambientais”, disse à Lusa Dipti Bhatnagar, coordenadora do setor da energia e justiça climática da Justiça Ambiental, uma organização não-governamental de proteção do meio ambiente, à margem da 2.ª Conferência Anual sobre Mudanças Climáticas, que decorre desde ontem em Maputo.
Dipti Bhatnagar entende que mais do que políticas de educação ambiental, o país precisa de alterar “todo o sistema”, considerando que apostar numa economia baseada na exploração de recursos é criar um “problema ambiental a longo prazo”.
Para Dipti Bhatnagar, a ideia de que a exploração de recursos minerais vai garantir o desenvolvimento do país é ilusória, na medida em que, na prática, são as elites políticas e as multinacionais que beneficiam dos resultados, esquecendo-se do povo, que, considera, sofre diretamente com as consequências da destruição do meio ambiente.
“Na realidade, as populações nem chegam a beneficiar desta exploração”, observou a ativista, apontando o caso da Nigéria, que, apesar de ser um dos países mais ricos em petróleo a nível do continente africano, os níveis de pobreza das populações ainda são muito altos.
“Parece que as pessoas ainda não perceberam que este é um problema de todos nós”, referiu Dipti Bhatnagar, sustentando que a deficiente aplicação do acordo da 21.ª Conferência do Clima (COP21), que decorreu em dezembro de 2015 em Paris, mostra que o problema ambiental não está a ser encarado seriamente.
“O acordo de Paris foi um passo, mas a implementação mostra um certo desinteresse, principalmente por parte das grandes potências, responsáveis pela poluição ambiental”, declarou a ativista, acrescentando que a mais adequada estratégia para a resolução do problema do meio ambiente é acabar com uso de combustíveis fosseis.
Por sua vez, Samuel Mondlane, ativista da Justiça Ambiental, entende que as grandes potências devem reconhecer que foram os mentores do problema e investir em projetos de uso de energias renováveis em países mais pobres, como forma de “pagar a dívida climática” que possuem.
“Estas grandes potências cresceram a partir de um modelo que afetou a todos nós e, por isso, têm uma dívida”, sustentou Samuel Mondlane, observando que, além de não apresentar uma forma concreta para a superação do problema da poluição ambiental, o acordo de Paris não apresenta um mecanismo para a responsabilização dos Estados signatários que não cumpram o que está no documento.
Sob o lema “Semeando Justiça Climática”, a 2.ª Conferência Anual sobre Mudanças Climáticas junta mais de 100 pessoas durante três dias em Maputo para debaterem sobre os desafios de Moçambique na proteção do meio ambiente.
A cerimónia de abertura contou com a participação do ministro da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural, Celso Correia, além de ativistas, estudantes e pesquisadores de vários países.