#Apemetalks: As lições da Covid-19 para o setor dos resíduos
Há ilações a tirar dos efeitos da Covid-19 no setor dos resíduos. Esta foi uma das conclusões do webinar “Perspetivas para o Setor dos Resíduos, um olhar sobre os efeitos da pandemia” da APEMETA (Associação Portuguesa de Empresas de Tecnologias Ambientais).O Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos (PERSU 2030) serviu de mote para especialistas reiterarem a necessidade de não ser esquecido o princípio de autossuficiência do setor.
Para Cátia Borges, diretora-geral da GESAMB (Gestão Ambiental e de Resíduos, EIM), a definição estratégica do PERSU 2030 é fundamental para serem cumpridas as metas a que Portugal se propôs como, por exemplo, “diminuir a quantidade de aterros e aumentar a quantidade (de resíduos) que se valoriza” mas sem “ignorar que alguma capacidade de reserva tem que ser garantida”, isto é, a “possibilidade de eliminar resíduos, sejam eles valorizados ou não, tem que ser mantida”.
Relativamente às recolhas, é incontornável perceber que “temos que identificar os utilizadores do sistema”, refere a responsável, sublinhando que a Covid-19 trouxe essa “dificuldade em comunicar de forma eficaz”. E não faltam exemplos dessa dificuldade: as “mudanças operacionais”, que decorreram no tempo da pandemia, eram fundamentais serem explícitas, de forma a que “tivesse sido possível identificar de onde é que vinham os resíduos de pessoas que estiveram em quarentena”, refere a responsável, sublinhando que “pensar que deve ser feito de forma voluntária é ignorar o que tem acontecido. Tem que ser uma estratégia nacional”. O desafio é claro: “Melhorar sistemas e formas de gerir”.
“Os desafios atuais são diferentes dos de há 20 anos”
A visão de Feliz Mil-Homens, assessor da direção da AVALER (Associação de Entidades de Valorização Energética de Resíduos Sólidos Urbanos), é de que 2020 marca o “fim” de um ciclo que se iniciou em 1995 onde foi definido o modelo de organização do setor que, por sua vez, foi “muito eficaz para construir um setor que temos hoje”. No entanto, e do ponto de vista do “financiamento” ou da “organização do sistema”, há problemas que se “eternizam e não se resolvem”, acreditando que o mesmo pode ser “menos eficaz” perante “os novos desafios que o setor enfrenta” no horizonte 2030. “Os desafios atuais são diferentes dos de há 20 anos”, diz, sublinhando que a “descarbonização, economia circular ou eficiência” são questões do futuro. O setor dos resíduos está num “momento vital” e o PERSU 2030 vai “proporcionar uma reflexão aprofundada” sobre “aquilo que tem de ser alterado”, acredita o responsável.
Da pandemia, há lições que devem ser tidas em conta: “Além de ser um serviço público essencial”, o setor de gestão de resíduos é “estratégico” para qualquer país, algo que não tem sido “salvaguardado”, sublinha Feliz Mil-Homens. A questão das fronteiras fechadas são a prova de que os países têm que “estrategicamente” ter capacidade própria e que o “princípio da autosuficiência tem que ser levado muito a sério”. Outra lição que deve ser tida em conta é a necessidade do sistema em ser resiliente: “Não chega falar do sistema como se fosse uma espécie de uma receita de bolo, onde 65% vão para reciclagem, 10% para aterro e 25% para valorização energética”. O sistema é bem mais complexo e “exige que se pense nele com complexidade”, criando a longo-prazo a “resiliência que ele tem que ter”, remata.