APDA: As respostas das entidades gestoras em tempo de pandemia (II)
A APDA (Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas) juntou num webinar várias entidades gestoras para falarem sobre o impacto que o confinamento teve na gestão diárias destas entidades e na sua eficiência. Através da Comissão Especializada de Sistemas de Distribuição de Água da APDA, o webinar debruçou-se sobre o tema “A Gestão do Abastecimento de Água em Tempo de Pandemia”.
[blockquote style=”2″] Qualidade da proteção de fugas [/blockquote]
Com 26 anos de existência, o grupo Indaqua conta atualmente com uma “estrutura” e um “conjunto de processos operacionais” maduros e uniformizados entre as suas concessionárias. Além disso, acresce o “robusto sistema de gestão” que, em conjunto, confere uma “elevada resiliência” face a “situações adversas e extraordinária” como é o caso da pandemia. É assim que Paulo Nunes, diretor de Contratos de Performance (Ganhos Partilhados) para Redução de Perdas de Água da entidade, inicia a sua intervenção.
Relativamente ao eventual impacto da pandemia, a análise do responsável centrou-se nas “perdas reais” de água: “Não temos evidências de que a pandemia e o estado de confinamento tenham impacto significativo em qualquer uma das duas componentes das perdas aparentes”. E, mais uma vez, a “resiliência” do grupo fez com que o período crítico da pandemia “não alterasse de forma significativa” os “trabalhos operacionais com impacto nas perdas de água”. Além disso, continuou a ser dada a prioridade à “qualidade da proteção de fugas” bem como a “rapidez das reparações das anomalias detetadas”, embora com “algumas adaptações na forma de trabalhar”, no sentido de “salvaguardar a segurança dos trabalhadores”. O mesmo período também não obrigou a parar ou a reduzir os trabalhos de pesquisa de fugas e anomalias: “A atividade de reparação de fugas teve continuidade a um ritmo normal”. No entanto, o responsável nota que, na “monitorização do caudal mínimo noturno”, registou-se uma “ligeira descida”. Aquilo que se verificou, segundo a análise, é que “o número de roturas acompanha de forma direta as variações de temperaturas”. E, por sua vez, “o caudal mínimo noturno acompanha de forma direta o número de roturas identificadas na rede”, refere o responsável. Quando comparado o “número de roturas” no período de confinamento com o período homólogo do ano anterior, os registos são muito semelhantes e o mesmo acontece nos caudais mínimos noturnos: “As ligeiras variações no registo de caudal mínimo noturno com influência direta nas perdas reais terão maior relação com a quantidade de roturas e com as alterações introduzidas ao nível operacional na gestão do sistema e da atividade”, refere.
[blockquote style=”2″] Melhores condições para fazer a pesquisa ativa de fugas [/blockquote]
Do lado dos SMAS de Sintra, esteve André Duarte, engenheiro civil da entidade. De acordo com o responsável, desde há cinco anos que a entidade se tem focado na redução das perdas de água: “(Nesse período,) recuperamos mais de 40% do volume de perdas de água”. Tal resultado deve-se, sobretudo, à “ estratégia adotada pela empresa em melhorar estes valores” com “recurso a grandes investimentos nas redes” e ao “trabalho de campo”. E foi precisamente o “trabalho de campo” que o confinamento mais afetou: “Passámos a trabalhar mais em back-office e a interação entre equipas ficou afetada”, refere.
Relativamente a perdas reais, o engenheiro diz que, na teoria, “tivemos melhores condições para fazer a pesquisa ativa de fugas”; já na prática, “houve uma redução de dois terços” no número de deteção de fugas visíveis e tratadas, quando comparado com o mesmo período (março, abril e maio) de 2019. Este valor terá “certamente” um impacto no balanço hídrico.
Embora o número de intervenções tenha reduzido, André Duarte refere que o “tempo entre a deteção e o fecho de água” também reduziu. A ação dos SMAS de Sintra centrou-se, assim, numa “ação incisiva”, com incidência nos “trabalhos de fugas com alguma expressão” e “aquelas pequenas que são detetadas pela população”, refere.
Ao nível de perdas de água, o engenheiro prevê que este ano, fiquem “abaixo dos 17%”, significando isso “baixar 200 mil metros cúbicos de perdas de água”.
Quanto ao impacto da pandemia e tendo em conta as estimativas, André Duarte refere que, em termos de volume de perda de águas, os números pioraram: “As leituras dos contadores entre março e abril estiveram paradas e isso vai criar um fosso em termos de balanço hídrico. Só mais tarde iremos estabilizar estes valores”. Mesmo assim, o responsável afirma que as “equipas responderam de forma incansável” durante o período crítico, tendo “respondido” às dificuldades.
[blockquote style=”2″] Perdas reais [/blockquote]
Para a Empresa Municipal de Água e Saneamento (EMAS) de Beja, o ano de 2020 é muito importante, no que diz respeito ao indicador de água não faturada: “Queremos chegar ao final do ano abaixo dos 20%”. João Santos, coordenador do gabinete da Gestão de Redes e Controlo de Perdas, afirma que o período de confinamento trouxe muitas incertezas: “O foco da empresa centrou-se nas perdas reais”.
No período de confinamento, João Santos refere que a “gestão” e o “controlo” do sistema de abastecimento de água passou a ser feita em teletrabalho, a “equipa de deteção de fugas retomou após os primeiros 15 dias”, e as “equipas de manutenção reduziram-se a um terço”. Mesmo assim, no que diz respeito às reparação de roturas e fugas invisíveis, “conseguimos diminuir o tempo de resposta”, algo que, segundo o responsável, foi um “bom indicador para a água não faturada”.
Ao nível estatísticas, de janeiro a setembro de 2020 e, comprado com o mesmo período do ano passado, verificou-se uma “diminuição do consumo dos grandes clientes, comércio e autarquias” e o “aumento de consumo dos clientes domésticos”. Portanto, se 2020 terminasse em setembro, o responsável nota um “aumento de 0,9% do faturado” e uma “redução de 1,5% do valor adquirido em Alta”. Já no indicador da água não faturada destaca-se uma “redução de 2,4%”, destacando-se um “boa qualidade de serviço” da entidade.
Os próximos meses são vistos com otimismo mas a situação pandémica tende a trazer “mais incertezas” ao sistema, remata.