Análise mostra que ainda existem muitos produtos que contêm substâncias perigosas, alerta ZERO

Os produtos que são usados no dia-a-dia podem conter substâncias tóxicas, que podem ter efeitos negativos na saúde e no ambiente: plastificantes em plásticos, corantes em têxteis ou retardadores de chama em móveis e eletrodomésticos são apenas alguns exemplos. A app Scan4Chem, desenvolvida  no âmbito do projeto ‘LIFE AskREACH’, facilita a comunicação entre o consumidor e o produtor para a obtenção de tal informação.

No âmbito do mesmo projeto, que juntou 20 organizações, incluindo a Associação ZERO, no segundo trimestre de 2022 foram adquiridos 106 artigos em 13 países europeus, incluindo Portugal, tendo sido analisados ​​por um laboratório independente e acreditado. “Dos 106 artigos analisados, cerca de um terço continha pelo menos uma substância química de elevada preocupação e 10 continham estas substâncias acima de 0,1%, o que significa que um conjunto significativo dos artigos disponíveis no mercado europeu ainda contém substâncias que podem ter impactos negativos na saúde humana e no ambiente”, alerta a ZERO. Nesta análise, foi dada preferência a artigos de bricolagem, de jardinagem e natação.

Os resultados dos testes

De acordo com a ZERO, quase um terço dos artigos analisados continham, pelo menos, uma substância química de elevada preocupação, sendo que 10 artigos continham substâncias desta natureza acima de 0,1% em peso.

Segundo a análise, partilhada pela ZERO, seis artigos continham “substâncias plastificantes” que estão restringidas em artigos de consumo desde julho de 2020 devido ao seu impacto negativo no sistema hormonal – mesmo em pequenas concentrações podem ser tóxicas para a reprodução. Ainda assim, nalguns artigos a sua concentração chegou aos 23% em peso. “Estas concentrações elevadas de plastificantes foram encontradas, por exemplo, em luvas para jardinagem e mesmo em aventais de pintura para crianças”, lê-se no comunicado.

Os resultados dos testes realizados a tantos artigos no mercado Europeu mostram que “ainda existem muitos produtos que contêm substâncias de elevada preocupação, por vezes em concentrações elevadas”. Comparando com as rondas de testes anteriores (esta é a terceira) já se nota uma evolução quanto à perceção do problema por parte de produtores e retalhistas, nomeadamente, quanto às respostas a pedidos de informação. Contudo, “a ausência de resposta continua a ser a opção mais frequente, ou seja, muitos dos pedidos de informação enviados no âmbito desta iniciativa, não foram respondidos”, refere a ZERO.

Em Portugal, em relação aos 16 artigos enviados para análise, só “cinco produtores/retalhistas responderam aos pedidos de informação enviados através da app Scan4Chem”, ou seja, “menos de um terço”. Nestes 16 artigos, “nenhum continha substâncias de elevada preocupação acima de 0,1% em peso”, refere a mesma análise.

O direito a conhecer que substâncias químicas estão nos produtos que usamos

Enquanto consumidores, estes têm o direito a saber no momento da compra se um artigo contém substâncias químicas de elevada preocupação (habitualmente designadas por SVHCs). A ZERO lembra que as marcas e os retalhistas estão legalmente obrigados a informar o consumidor, a seu pedido, se o produto contiver alguma destas substâncias em concentração superior a 0,1% em peso. Este direito à informação por parte dos consumidores foi consagrado pelo regulamento europeu de produtos químicos “REACH”.

Para facilitar a comunicação com os consumidores, as empresas podem colocar a informação sobre os seus produtos na base de dados associada à Scan4Chem, permitindo que as informações sejam fornecidas de imediato ao consumidor após a pesquisa do código de barras, economizando tempo e esforço a todos. As informações que constam da base de dados são da responsabilidade das empresas, devendo estas zelar pela sua correção.

As empresas que desejem disponibilizar a informação sobre os seus artigos de forma rápida e simples aos seus clientes, podem registar-se na base de dados AskREACH.

Compras mais saudáveis e seguras

A app Scan4Chem pode ajudar a tomar decisões de compra acertadas para um estilo de vida mais saudável e ecológico. Caso a informação sobre o produto ainda não esteja na base de dados, a app pode ser usada para facilmente enviar um pedido de informação ao produtor e/ou ao retalhista.

O envio de pedidos de informação através da Scan4Chem é muito útil ao contribuir para aumentar a consciência sobre o tema e sublinhar o interesse do consumidor em produtos sem substâncias tóxicas. Quantos mais pedidos receberem, maior o incentivo das empresas para colocarem a informação sobre os seus produtos na base de dados da Scan4Chem e torná-la facilmente acessível a todos os cidadãos.

A app Scan4Chem já foi descarregada mais de 90 mil vezes e fornece informações sobre a presença de substâncias perigosas sobre cerca de 8,5 milhões de produtos.