Neste #Ambiguia, Teresa Guedes, diretora do Zoo Santo Inácio, conta como este espaço contribui para a manutenção da biodiversidade e da sustentabilidade dos diversos habitats e dos diferentes animais que abriga.
Nos países do sul da Europa, nem sempre é óbvio que os parques zoológicos desempenham um papel crucial na proteção da biodiversidade e na sustentabilidade. Persiste a ideia de que Zoos e Aquários são apenas locais de exibição de animais para lazer, uma perceção desatualizada que não reflete a evolução destas instituições nas últimas décadas. Hoje, os Zoos são agentes ativos na conservação de espécies, educação ambiental e promoção de práticas sustentáveis, desempenhando um papel crucial na preservação da biodiversidade.

A biodiversidade, frequentemente chamada de “teia da vida”, representa a variedade de organismos vivos e a interdependência entre as espécies. Atualmente, existem mais de 8,7 milhões de espécies na Terra e, apesar dos humanos representarem apenas 0,01% da vida no planeta, as suas ações têm um impacto desproporcional na destruição dos ecossistemas. O crescimento exponencial da população nos últimos 200 anos intensificou a pressão sobre os recursos naturais, levando à degradação de habitats e à perda de inúmeras espécies. Esta perda não afeta apenas a vida selvagem, mas também os próprios seres humanos, comprometendo a produção de alimentos, a regulação climática e a qualidade de vida.
De acordo com o DL 59/2003, os parques zoológicos devem garantir o bem-estar animal, promover a educação ambiental e contribuir para a conservação das espécies. A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) reforça, através da recente Declaração elaborada em finais de 2023, que os Zoos modernos desempenham um papel essencial na preservação da vida selvagem, participando em programas de conservação locais e globais, financiando projetos ambientais e promovendo a sensibilização do público. Através da ligação entre conservação ex situ (fora do habitat natural) e in situ (no habitat original), os Zoos tornam-se ferramentas fundamentais para travar a extinção de espécies e garantir o equilíbrio dos ecossistemas.
Contudo, para que os Zoos sejam amplamente reconhecidos como centros de conservação, é necessário desmistificar o seu papel e aumentar o conhecimento da população sobre as suas atividades. Em Portugal, a cultura de visita a Zoos e Aquários ainda não está enraizada, o que limita a sensibilização dos visitantes para o papel destas Instituições na preservação da biodiversidade. Paralelamente, a falta de um trabalho articulado entre instituições governamentais, associações ambientais e parques zoológicos compromete a eficácia das ações de conservação. Um esforço conjunto entre entidades como a APZA, EAZA, ICNF, DGAV, Universidades e Centros de investigação é essencial para criar estratégias mais robustas e contínuas para a proteção da fauna e flora nacional e global.
O compromisso com a conservação e a sustentabilidade não se limita aos Zoos. Em 2022, foram estabelecidos os objetivos da meta 30×30 para a proteção dos ecossistemas, mas quantas pessoas conhecem esta iniciativa ou sabem como contribuir para a sua implementação? A ONU, através dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), apela à adoção de práticas que garantam um equilíbrio entre o progresso humano e a preservação ambiental. Muitas empresas já estão a traçar o seu caminho sustentável, reduzindo consumos, reaproveitando materiais e promovendo a mudança de comportamentos, mas a consciencialização e o envolvimento da sociedade como um todo ainda precisam de ser ampliados. Mas este trabalho seria mais eficiente, se organizado e trabalhado em conjunto por várias instituições.
O Zoo Santo Inácio tem vindo a intensificar o seu contributo para a conservação da natureza, dentro e fora de Portugal. A sua missão passa por sensibilizar a população para a importância da biodiversidade, apoiar projetos ambientais e promover um futuro sustentável, onde os ecossistemas estejam restaurados, os habitats sejam ricos em vida e a humanidade coabite harmoniosamente com as outras espécies. Sentimos que a população quer fazer mais pelo meio ambiente, mas muitas vezes não sabe por onde começar. Mais do que proteger espécies emblemáticas como o lince ibérico ou a águia-real, falamos de assegurar recursos essenciais como alimento, água, oxigénio e energia para a sobrevivência de todos. O futuro da biodiversidade depende das escolhas que fazemos hoje, e os Zoos são um pilar fundamental nesse caminho.