O incêndio de há cerca de um mês em Pedrógão Grande, na região Centro, levou a que finalmente houvesse “uma discussão ampla” sobre a floresta, disse a associação ambientalista Zero, mas a “verdadeira lição” só se verá daqui a uma década, segundo a Lusa, que perguntou à associação se o país aprendeu alguma coisa com a tragédia e se está a tomar as decisões corretas.
Paulo Lucas, que na Zero acompanha a área da biodiversidade, agricultura e florestas, respondeu que, na área do combate ao fogo existiram falhas, pelo que é preciso colocar em dúvida todo o funcionamento do sistema. “Morreram pessoas e isso não é explicável só com o fogo”, mas admitiu não saber se se aprendeu alguma coisa.
Já quanto ao problema estrutural, que é a reforma da floresta, “as coisas estão encaminhadas no bom sentido”, porque “finalmente houve uma discussão ampla, que já devia ter sido feita há décadas”. Mas, avisa, a reforma da floresta vai levar anos a surtir efeito, “não basta aprovar uma lei no parlamento”. Essa reforma envolve mentalidades, envolve governantes e população, e as lições só serão tiradas daqui a sete ou dez anos.
A floresta, alerta, é desorganizada e lutar contra os fogos é ordená-la, criar locais sem floresta, gerir numa lógica de conjunto “e não de cada terreno um voto”, colocar técnicos no terreno. “Era bom que o Governo testasse isso em Pedrógão Grande e Figueiró dos Vinhos”. Mas diz também que nada é rápido nem fácil. Reduzir e condicionar a produção de eucaliptos, exemplifica, vai levar a uma pressão da indústria e a um aumento de plantações ilegais, difíceis de fiscalizar.
Para começar, adianta, devia haver planos regionais de ordenação florestal, com uma expressão cartográfica. “É preciso um bom sistema de informação geográfica, o sistema não pode continuar com a opacidade que tem neste momento”. Depois, sobre os incêndios, há muitos trabalhos e estudos que é preciso juntar e articular. Por agora o que sentem Paulo Lucas e a Zero é que “não há articulação, há desorganização”.
E não percebe como é que não há planos municipais para fazer face às alterações climáticas, porque é que as pessoas não são informadas e sensibilizadas para estas matérias, porque é que pode haver bocas de incêndio nas cidades mas não em espaços rurais. Aprendeu o país alguma coisa com a catástrofe do mês passado? Pelo menos há uma discussão, diz o ambientalista. Mas a verdade é que agora, como há um mês, no tema dos incêndios florestais e da luta que é preciso travar “não há articulação nenhuma”, está-se “sempre à espera do bombeiro e do helicóptero”.
*Foto de Lusa