O impacto das alterações climáticas na saúde será desastroso, ao ponto de destruir os ganhos de saúde dos últimos 50 anos. Este é o principal resultado de um estudo divulgado ontem ao final do dia por uma comissão internacional de peritos instituída pela revista médica “Lancet”. “Com base nas actuais trajectórias de emissões, os aumentos de temperatura nos próximos 85 anos podem ser incompatíveis com uma comunidade global organizada. Os efeitos já se sentem hoje e as projecções futuras representam um risco inaceitavelmente elevado e potencialmente catastrófico para a saúde humana", lê-se, ainda, no documento.Os investigadores estimam que até 2100 o número de episódios de pessoas com mais de 65 anos expostas a ondas de calor – conceito que descreve o número de indivíduos que, ao longo do ano, passam por um período de cinco ou mais dias com temperaturas acima da média – ultrapassará os 3 mil milhões/ano, quando actualmente não chega a 500 milhões. Os períodos continuados de calor, como o que no Verão de 2010, associado a 11 mil mortes na Rússia em dois meses, poderão passar a ser a norma, adianta o relatório.Vão aumentar as doenças respiratórias em consequência do agravamento da poluição atmosférica, haver mais casos de malária, dengue ou cólera devido à proliferação de mosquitos e à contaminação da água e, ainda, mais problemas de saúde mental, com uma subida das perturbações de ansiedade e casos de stresse pós-traumático em refugiados provocados pelo desaparecimento de zonas costeiras em todo o globo.A exposição a situações de seca também crescerá de cerca de 500 milhões de episódios por ano para 1,4 mil milhões. E a exposição a inundações resultado do aumento da precipitação, passará de 500 milhões de episófios/ano a mais de 2 mil milhões. A equipa cita dados da Organização Mundial de Saúde que apontam para um aumento de 250 mil mortes por ano em consequência das alterações climáticas, sejam directos – como vítimas de tempestades – ou indirectos, de pessoas que sucumbem à fome por diminuição ou destruição das colheitas. Os autores consideram que o instrumento estratégico mais poderoso para proteger a saúde humana dos riscos de alterações climáticas será taxar o dióxido do carbono ao nível do tabaco.
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