A ALS Life Sciences Portugal é especializada nas áreas da segurança e qualidade alimentar, controlo ambiental e saúde animal, integrando a ALS Global que marca presença em mais de 70 países. Com o surgimento da pandemia e a necessidade de testagem a ALS Portugal desenvolveu serviços laboratoriais de deteção da COVID-19 para diagnóstico humano, com o parecer favorável do INSA (Instituto Ricardo Jorge). A Ambiente Magazine esteve à conversa com Daniela Silva, Responsável de Inovação e Desenvolvimento e cientista membro da equipa técnica da ALS Portugal responsável pelo desenvolvimento dos métodos laboratoriais de deteção e quantificação do SARS-CoV-2 em águas residuais já acreditados pelo IPAC.
- Qual tem sido a aposta da ALS Portugal na deteção precoce de surtos Covid-19?
Na sequência da Recomendação da Comissão Europeia sobre a estratégia comum a ser adotada para a vigilância sistemática da presença do vírus SARS-CoV-2 na população por meio da sua monitorização em águas residuais, o laboratório da ALS considerou importante e prioritário o desenvolvimento, implementação e validação métodos de deteção e quantificação de SARS-CoV-2 em águas residuais.Neste momento, a ALS Portugal está já a monitorizar a presença de SARS-CoV-2 em águas residuais, recolhidas em ETARs e estações afluentes.
- Quais as vantagens destes métodos laboratoriais?
O rastreio e monitorização da Covid-19 por via das águas residuais permite a deteção precoce de surtos. Uma pessoa infetada com COVID-19 elimina o vírus SARS-CoV-2 nas fezes a partir do segundo dia após a infeção. Os sintomas manifestam-se, em média, a partir do 5º dia, o que leva ao teste individual de RT-PCR, mas somente no 7º dia após a infeção é obtido o resultado do teste, com consequente alerta de foco. A deteção de SARS-CoV-2 em águas residuais permite assim antecipar em 2 a 7 dias a deteção de um surto. A vigilância sistemática do SARS-CoV-2 em águas residuais e a análise das tendências dos resultados são, portanto, úteis na avaliação da eficácia das medidas tomadas para mitigar a transmissão do vírus.A ALS desenvolveu dois métodos, um qualitativo e outro quantitativo para a deteção do vírus em águas residuais. O método qualitativo é muito útil para a monitorização de proximidade de núcleo populacional que habita um determinado edifício como por exemplo um lar, permitindo atuações imediatas. O método quantitativo, quando realizado partindo de um plano de monitorização regular, permite determinar a evolução do nível de infeção num núcleo populacional e estabelecer uma linha de tendência, alertando as autoridades responsáveis para um possível surto que possa estar iminente.
- Que entidades podem recorrer a estes serviços?
Estes serviços dirigem-se não só às empresas e zonas industriais, escolas e campus universitários, como também a autarquias locais, resorts turísticos, aeroportos e quaisquer entidades com responsabilidades na área de gestão de águas residuais, identificando precocemente o surgimento de surtos e dispondo assim de um sistema de alerta que possibilita a implementação de medidas para mitigar a propagação do vírus na população.
- O que significa para a ALS Portugal obter a acreditação do IPAC sobre os métodos de deteção e quantificação de SARS-CoV-2 em águas residuais?
Os ensaios desenvolvidos pela ALS, agora acreditados de acordo com a norma ISO 17025, são realizados pelas técnicas de PCR em Tempo Real (RT-qPCR) para deteção do vírus, e por PCR digital (ddPCR) para quantificação absoluta da carga viral, permitindo a sua monitorização de forma precisa. A ALS é assim o primeiro laboratório em Portugal com os métodos de deteção e quantificação de SARS-CoV-2 em águas residuais acreditados. A acreditação do laboratório da ALS Life Sciences Portugal é o reconhecimento por uma entidade externa da capacidade, qualidade e rigor técnico do laboratório e representa uma garantia adicional na confiança dos resultados.
- Que outros sistemas são desenvolvidos pela ALS Portugal para a deteção da COVID-19 em saúde Humana?
Ao longo dos últimos meses a ALS Portugal tem vindo a investir na investigação e de desenvolvimento de testes RT-PCR e testes RT-LAMP (projeto desenvolvido em parceria com o INL), ambos considerados pela DGS como sendo o padrão de referência para a testagem da população por serem baseados na amplificação de ácidos nucleicos. Estes testes foram já lançados no mercado nacional e internacional e posicionam a ALS como uma das poucas empresas portuguesas a produzir e exportar testes para o SARS-CoV-2 aptos a detetar todas as variantes até agora conhecidas do vírus.
- Como perspetivam o futuro?
Por um lado, esperamos aumentar significativamente a exportação destes produtos e serviços, considerando que, infelizmente, a pandemia Covid parece não querer abrandar. Por outro lado, o conhecimento e a tecnologia subjacente a estes testes desenvolvidos pela ALS serão aplicados a outras áreas e patologias. A ALS Life Sciences Portugal concluiu recentemente um processo de fusão a nível nacional, integrando 7 empresas que o grupo detinha em Portugal. Este aglomerado de empresas registou, em 2020, um volume de negócios de 15 milhões de euros. A atividade em torno da deteção e testagem à Covid-19 representa uma fatia menor no conjunto de serviços prestados pela ALS em Portugal, onde é empresa líder nas áreas da segurança e qualidade alimentar, controlo ambiental e saúde animal. A inovação e garantia da qualidade dos nossos serviços continuarão a ser as prioridades e a base para o crescimento da ALS em Portugal e nos mercados internacionais.