Almaraz: último incidente grave foi o quarto na vida da central
O incidente de nível 1 que ocorreu no passado mês de julho na central de Almaraz e que desencadeou uma série de contactos do Governo português com Espanha foi o quarto a ocorrer desde a sua entrada em atividade, no início da década de 1980, refere o jornal Público. Na extensa lista de mais de meia centena de incidentes com os dois reatores da central, este quarto foi considerado o mais grave.
A preocupação crescente de ambientalistas e populações de Portugal e Espanha que se opõem à construção de um armazém de resíduos nucleares e à extensão de vida ativa da central de Almaraz justifica-se pelo número e tipo de ocorrências registadas. O Movimento Ibérico Antinuclear (MIA) elenca falhas, avarias e anomalias e outras ocorrências que começaram ainda antes de a central, a 100 quilómetros da fronteira portuguesa, entrar em funcionamento.
Num histórico realizado há quase seis anos, a Greenpeace contabilizava nessa altura que Almaraz tinha sido sujeita a quatro mil modificações desde o seu arranque, algumas delas de “grande envergadura”, concluindo ainda que a central “foi mal nascida”. O primeiro reator entrou em funcionamento em 1981 e o segundo em 1984.
As incertezas acumulam-se em Almaraz, com incidentes, erros, paragens não programadas ou recargas fora da especificação, que, segundo o MIA, afetaram elementos essenciais de segurança. “A central funciona com margens de segurança insuficientes, dado que se permite que funcione com as bombas afetadas por um problema de desenho que pode causar uma falha no circuito terciário, o que impedirá este de extrair o calor do secundário e, por sua vez, do primário”.
Manter a central por mais anos a funcionar, já amortizado o investimento, permite aos seus donos receberem lucros líquidos de 161 milhões de euros por ano, segundo as contas do MIA, e adiarem os custos do seu desmantelamento e a decisão, sempre controversa, sobre o destino a dar ao lixo radioativo produzido.