A partir do dia 1 de janeiro de 2024, vai ser obrigatório fazer a recolha seletiva dos biorresíduos. Os desafios do Regime Geral de Gestão de Resíduos (RGGR) são vários e cabe às empresas, entidades e municípios acelerar o nível de atuação. Entre os vários desafios, minimizar o desperdício alimentar é talvez aquele que deve ser rapidamente combatido: a título de exemplo, “34% do desperdício alimentar na restauração é proveniente das sobras deixadas no prato pelo consumidor”.
A APEMETA (Associação Portuguesa De Empresas De Tecnologias Ambientais) dedicou esta segunda-feira, dia 17 de maio, um webinar aos “Impactos do RGGR nos vários setores económicos”, dando destaque aos “Resíduos Alimentares: Prevenção e Separação”.
“Queremos ser uma parte da solução e não do problema”, começou por dizer Susana Leitão, coordenadora do departamento da Qualidade e Ambiente da AHRESP (Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal), destacando que é reconhecido pela associação as “vantagens da recolha dos biorresiduos” e o facto de poderem ser uma “parte muito importante” no fluxo que se pretende criar. Por isso, a Estratégia dos Biorresíduos à qual tiveram acesso desafia a AHRESP a contribuir, essencialmente, para a minimização do desperdício alimentar. Entre os vários “apelos”, destaque para a disponibilização da AHRESP em reforçar mensagens de alerta ao consumidor para que faça compras responsáveis: “Temos um papel importante naquilo que é consumo dos consumidores e na sensibilização que têm de ter, quando se deslocam aos estabelecimentos”. Também foi pedido que a AHRESP colaborasse, juntamente com outras entidades, na atribuição de um prémio no âmbito do desperdício alimentar e na elaboração de boas práticas para o setor HORECA. Do balanço que é possível fazer acerca destes desafios, Susana Leitão sublinhou que a associação tem feito muitos progressos, destacando que a grande preocupação centra-se, essencialmente, no combate ao desperdício alimentar: “O grande objetivo, enquanto cidadãos, é reduzir a quantidade de resíduos que produzimos”. E aqui, as empresas do canal HORECA têm uma vantagem acrescida, no sentido de sensibilizar e informar a população: “Temos a capacidade de comunicar e influenciar todos os consumidores para que tenham os comportamentos que pretendemos”, reforça.
Olhando a números, Susana Leitão refere que “45% do desperdício produzido na restauração” provém da preparação das refeições: “Há uma dificuldade em prever o número de refeições que são servidas e, portanto, produz-se em excesso, resultando em desperdício”. Em termos percentuais, “34% é proveniente das sobras deixadas no prato pelos consumidores”, algo que tendencialmente aumenta quando são restaurantes de buffet, e 21% resulta do armazenamento e da gestão inadequada de stocks: “É um tema que tratamos há anos e já está bem melhor”, assegura. A isto tudo acresce ainda outros motivos de desperdício como o “tamanho excessivo da doses servidas” ou a “falta de conhecimento de reaproveitar as sobras”, destaca. Face a este cenário “preocupante”, a coordenadora do departamento da Qualidade e Ambiente da AHRESP atenta na importância de haver “noção” de quanto e onde se produz para que as medidas possíveis de adotar para o setor sejam “focadas” e o “mais objetivas possíveis”, frisando que “a sensibilização que podemos ter junto dos consumidores é essencial”.
Desta forma, há um conjunto de medidas que a AHRESP considera essenciais, como, a “introdução do conceito de conteúdos programáticos” sobre como reduzir e eliminar o desperdício alimentar no setor da restauração e de bebidas; “promover a sensibilização dos empresários de restauração para a possibilidade de fazer doações”, sem risco de imagem e segurança associados (muitas empresas ainda têm receio de fazer doação de alimentos porque pode ter repercussão na imagem das empresas da restauração); potenciar parcerias locais entre fornecedores e instituições de solidariedade social; sensibilizar os profissionais e os consumidores para o tamanho das doses servidas; ou, ainda, trabalhar as interpretações e menções da data limite de consumo e data de durabilidade mínima. Nesta última, Susana Leitão destaca que os esforços têm sido feitos ao nível dos profissionais e das empresas de consultoria que prestam serviço ou das entidades fiscalizadoras: “Muitos alimentos acabam no lixo que, apesar de terem a data de validade passada, estariam em perfeitas condições de consumo”, atenta.
De forma a colmatar todas as preocupações existentes nestas matérias, a AHRESP tem desenvolvido e apoiado inúmeros projetos, desde campanhas de sensibilização até às sessões e webinars, de forma a fornecer conteúdo e informação a todos os stakeholders envolvidos.
Relativamente a receios de curto-prazo sobre como vai decorrer a recolha seletiva destes resíduos, Susana Leitão destaca o facto dos sistemas municipais de gestão de resíduos urbanos não terem capacidade de ter esta oferta de âmbito nacional a todas as empresas: “Quando se fala em restauração, a esmagadora maioria são micro e pequenas empresas e há aqui a necessidade de se fazer recolhas diárias e eficazes”. A legislação também fala em outros materiais que podem ser juntos com os biorresiduos: “É preciso saber e informar os operadores e profissionais de como este tipo de embalagens podem ser facilmente identificadas e o que é que podemos ou não colocar nos biorresíduos”. Há um conjunto de desafios que precisam ter resposta rápidas e o setor da restauração está a atravessar a “maior crise das última décadas”, sendo para a AHRESP essencial salvaguardar que não recaem sobre os mesmos maiores custos: “Não falo de custos financeiros, mas custos de contexto e dificuldade de operação inerentes a esta recolha de biorresíduos”, atenta.