Com o objetivo de reduzir as perdas de água potável ao longo das redes de abastecimento nos concelhos de Alter do Chão, Arronches, Castelo de Vide, Crato, Fronteira, Gavião, Marvão, Nisa, Ponte de Sor e Sousel, a Águas do Alto Alentejo lançou um projeto de eficiência hídrica. Hugo Pereira Hilário, presidente da entidade explica à Ambiente Magazine no que consiste esta aposta.
Que problemas enfrenta a região do Alto Tejo no que diz respeito aos recursos hídricos?
O Alto Alentejo é um território cuja condição de seca é muito frequente, pelo que é urgente alterar esta situação. Existem severas perdas de água potável nas redes de abastecimento dos dez municípios onde a Águas do Alto Alentejo atua – Alter do Chão, Arronches, Castelo de Vide, Crato, Fronteira, Gavião, Marvão, Nisa, Ponte de Sor e Sousel – ou seja, ao longo de 4.000 km² (dois terços do Alto Alentejo).
Adicionalmente, em média os contadores da região têm entre 15 e 20 anos, pelo que não são eficientes. O excesso de calcário reduz, por exemplo, a pressão da água e isso constitui um problema para o cidadão.
Como surge o Projeto de Eficiência Hídrica com Remuneração por Desempenho?
Os dez municípios que integram a Águas do Alto Alentejo representam mais de 4.000 km² de território e mais de 763 km de rede de distribuição. Nesta região, os recursos hídricos são escassos e as perdas de água rondam os 50%. Neste âmbito, a concretização do Projeto de Eficiência Hídrica com Remuneração por Desempenho surge como um investimento, no valor de seis milhões de euros, que vai permitir poupar 10 mil milhões de litros de água potável, o equivalente a 4.000 piscinas olímpicas. Ou, se preferir, o suficiente para abastecer os 10 municípios geridos pela Águas do Alto Alentejo, durante quase quatro anos.
Trata-se de um plano, a oito anos, desenvolvido em parceria com a Aqualevel, empresa do Grupo INDAQUA, que tem a particularidade de ser inovador no setor da água em Portugal. O projeto assinado em Nisa, na Casa das Memórias, responsabiliza todos os intervenientes, unindo-os ativamente na prossecução do objetivo primordial: eficiência dos recursos hídricos. Isto é, transfere-se o risco do investimento para a empresa e não para a entidade contratante. Isto porque a quase totalidade da remuneração da Aqualevel depende do seu desempenho, ou seja, do real cumprimento dos objetivos definidos contratualmente para a redução de perdas.
Com a abrangência que vai ter, com oito anos de desenvolvimento e este grande investimento, acredito vivamente que estamos perante uma das maiores operações de sustentabilidade ambiental do país e que vai permitir à Águas do Alto Alentejo assegurar uma poupança ao nível da gestão do líquido incolor finito, enquanto garante benefícios económicos e ambientais para os municípios.
Na prática, como funcionará este projeto?
A execução deste Projeto de Eficiência Hídrica, ao longo dos oito anos, vai envolver várias ações, nomeadamente a reabilitação de infraestruturas, a sensorização das redes de água e a implementação de ferramentas de inteligência artificial, que permitirão recolher e analisar dados cruciais para uma rápida atuação na eliminação de fugas. Adicionalmente, procurar-se-á gerir eficazmente a pressão em zonas críticas, de forma a diminuir o número de roturas e, consequentemente, os gastos associados à resolução das mesmas. Será feita ainda a deteção e eliminação de consumos e ligações ilícitas, bem como uma avaliação da renovação do parque de contadores, para tornar mais eficiente a medição e a faturação do serviço, aos 40.000 clientes da Águas do Alto Alentejo.
A troca de contadores no cliente, é uma das ações previstas no projeto e será efetuada por pessoal afeto à Aqualevel com acompanhamento da Águas do Alto Alentejo. Este pessoal estará identificado por “cartão de identificação” onde consta o nome e cargo do colaborador e os logótipos das empresas Águas do Alto Alentejo e Aqualevel.
Que resultados esperam alcançar com este projeto?
A INDAQUA tem um vasto know-how na gestão de sistemas de abastecimento de água para consumo humano e de saneamento de águas residuais, e tem provas dadas em projetos semelhantes a nível nacional. Por isso, o objetivo é muito claro: reduzir as perdas de água potável ao longo das redes de abastecimento dos dez municípios onde a Águas do Alto Alentejo atua – Alter do Chão, Arronches, Castelo de Vide, Crato, Fronteira, Gavião, Marvão, Nisa, Ponte de Sor e Sousel.
Simultaneamente, e porque estamos perante um projeto onde se transfere o risco do investimento para a empresa e não para a entidade contratante, onde a quase totalidade da remuneração da empresa parceira depende do seu desempenho, ou seja, do real cumprimento dos objetivos definidos contratualmente para a redução de perdas, acredito que vamos nos próximos oito anos alcançar uma poupança estimada de cerca de 10 mil milhões de litros de água potável, o suficiente para abastecer por quatro anos os municípios geridos pela Águas do Alto Alentejo.
Quem serão os principais beneficiados com esta novidade?
Os principais beneficiados com o Projeto de Eficiência Hídrica com Remuneração por Desempenho serão os cerca de 40 mil clientes da Águas do Alto Alentejo, distribuídos pelos dez municípios abrangidos. A poupança de água potável, estimada em 10 mil milhões de litros de água potável, e a redução das perdas de água em 50% vão assegurar não só uma maior disponibilidade de água, mas também benefícios económicos e ambientais significativos. Este projeto contribuirá para mitigar os efeitos da escassez de água, numa região frequentemente afetada pela seca, beneficiando os cidadãos e a estrutura de abastecimento, assim como o meio ambiente.
Haverá alteração na fórmula de cálculo do tarifário?
Não haverá alteração na fórmula de cálculo do tarifário diretamente relacionada com o projeto. No entanto, é importante notar que, tal como em outros serviços essenciais como, por exemplo, as comunicações ou eletricidade, as tarifas podem ter de ser ajustadas anualmente de acordo com a inflação e seguindo as orientações do regulador ERSAR.
Que outras iniciativas a Águas do Alto Alentejo quer promover na luta contra a seca e contra o desperdício de água?
Além do Projeto de Eficiência Hídrica com Remuneração por Desempenho, a Águas do Alto Alentejo está comprometida com a implementação de várias outras iniciativas para combater a seca e o desperdício de água. Por exemplo, temos trabalhado com a comunidade escolar e desenvolvido campanhas de sensibilização ambiental que têm como missão incutir valores e promover o respeito e a valorização do meio ambiente.
Adicionalmente, estamos atentos a oportunidades de modernização e aumento da eficiência dos sistemas de saneamento, com vista a um uso mais sustentável e responsável dos recursos hídricos na região.