O tema do Dia Mundial da Água 2022 já está escolhido e pretende dar visibilidade a um recurso “escondido”: a Água Subterrânea. A Ambiente Magazine falou com António Chambel, presidente do Grupo Português da Associação Internacional de Hidrogeólogos (IAH), para conhecer melhor as águas subterrâneas.
“Água Subterrânea: tornar visível o invisível” serve de lema ao Dia Mundial da Água 2022, uma proposta do Centro Internacional de Avaliação dos Recursos Subterrâneos (IGRAC), que tem como competência a recolha de dados de monitorização de águas subterrâneas e aquíferos de todo o Mundo.
A proposta contou com o apoio da Associação Internacional de Hidrogeólogos (IAH), criada em 1956, que tem como missão “promover o entendimento, o uso inteligente e a proteção dos recursos de água subterrânea, a fim de assegurar o acesso a água potável”. A IAH conta atualmente com Grupos Nacionais em cerca de 40 países, incluindo Portugal, e com mais de 4.000 membros de mais de 130 países.
António Chambel avança que: “A água subterrânea corresponde entre 97% e 98% de toda a água doce do Planeta em estado líquido, rega 45% de toda a área regada do Globo e é um recurso essencial para os abastecimentos domésticos e particulares em grande parte do Mundo.”
Por ser um recurso “escondido” debaixo do solo é “praticamente invisível para a maior parte das pessoas”. “Daí a importância de se ter conseguido dedicar um Dia Mundial a este recurso. A ideia é torná-lo visível para todos”, afirma.
Ameaças às águas subterrâneas
O presidente do Grupo Português da IAH explica que existem, atualmente, duas grandes ameaças às águas subterrâneas: a sobrexploração e a contaminação. A sobrexploração acontece quando a extração e o uso das águas subterrâneas ultrapassa o volume dos recursos hídricos subterrâneos renováveis, ou seja, “dos volumes de precipitação que se infiltram no solo”. Nesse caso, passam a utilizar-se “as águas do armazenamento do próprio aquífero” o que pode levar à exaustão do recurso.
Em adição, “são muitas as formas de poluição que podem provocar a contaminação grave de um aquífero”, entre elas, a poluição com resíduos de hidrocarbonetos, resíduos contaminantes da agricultura, de zonas habitadas, como águas residuais e resíduos sólidos urbanos, resíduos industriais ou a contaminação depositada pela precipitação. O responsável alerta que existem já “muitos aquíferos contaminados a tal ponto que já deixaram de ser considerados aquíferos, por impossibilidade de usar a sua água”.
Torna-se então necessário proteger as águas subterrâneas através de uma “gestão conjunta com o restante ciclo da água”, compreendendo a interação permanente entre estas e as águas superficiais, protegendo os aquíferos, calculando os seus valores renováveis e não permitindo extrações que ultrapassem os valores de infiltração anuais.