Água e energia (II): A tecnologia como fator de diferenciação e sustentabilidade
As empresas do setor da água e da energia têm vindo a aproveitar cada vez mais as mais-valias da tecnologia em seu benefício, procurando um caminho certeiro rumo à sustentabilidade e à eficácia. A Ambiente Magazine falou com algumas empresas e entidades para ficar a par das mais recentes soluções destes setores a nível tecnológico. Leia agora a 2ª parte deste trabalho.
Investimento em pesquisa e parcerias com a academia
Também a Greenvolt afirma estar atenta às evoluções disponíveis no setor, inovando, por exemplo, com a implementação de sistemas de energias renováveis híbridos com injeção num único ponto de ligação à rede de energia gerada através de parques eólicos e solares. A empresa tem investido em pesquisa e desenvolvimento através de parcerias com a academia e, recentemente, pastou nos sistemas de armazenamento, as baterias, seja em soluções de larga escala como as que está a construir na Polónia e na Hungria, seja através da disponibilização destas baterias para projetos de geração distribuída para autoconsumo.
Carlos Coelho, diretor executivo do Grupo Greenvolt, explica que num setor concorrencial como este é essencial “termos uma oferta que seja diferenciadora para os nossos clientes”. E esta diferenciação faz-se através de projetos desenhados à medida, ou da disponibilização das mais recentes tecnologias ao serviço da eficiência na geração de energia a partir de fontes renováveis.
O responsável considera que embora tenha havido, nos últimos anos, um forte investimento tecnológico no setor energético, ainda existe espaço para crescimento, especialmente em áreas como o armazenamento de energia e a inovação tecnológica. “A flexibilidade na regulação de políticas públicas, a colaboração internacional e o investimento contínuo em pesquisa, serão fundamentais para manter o ritmo de desenvolvimento do setor, acompanhando os restantes líderes europeus”, aponta.
Para Carlos Coelho, a importância do uso da tecnologia no setor da energia é inquestionável pois permite “aumentar a penetração de fontes renováveis, otimizar os modelos de gestão de energia e aumentar capacidade de armazenamento e produção de energia”.
A Helexia tem procurado proporcionar financiamento aliado à performance em novas soluções tecnológicas de forma a que os clientes possam canalizar os investimentos para o seu negócio. É o que nos explica Pedro Alves, sales director da Helexia Portugal. Por isso, tem acompanhado as necessidades dos clientes, tanto no domínio da geração e disponibilização de energia, como da sua utilização racional.
Para os clientes no setor do turismo, por exemplo, a empresa já instalou centrais fotovoltaicas no formato de cobertura de parque de estacionamento e carregadores de veículos elétricos. “Este tipo de instalação é um instrumento de comunicação dos objetivos de sustentabilidade de uma empresa, além de fornecer os benefícios diretos da produção de energia renovável e da sombra para os utentes”, explica o interlocutor. Tem também realizado auditorias energéticas com vista a descarbonizar o consumo de energia e alinhar com os objetivos de sustentabilidade da UE.
Pedro Alves não hesita em afirmar que a tecnologia contribui diretamente para a sustentabilidade. Por um lado, na produção de energia local renovável, evitando a geração de energia centralizada através de fontes não renováveis como o gás natural (redução de emissões) e o transporte de energia através da rede elétrica nacional (redução de utilização de ativos e de custos). Por outro lado, esclarece, contribui diretamente na gestão eficiente da energia através de formas mais eficientes de fornecimento da utilidade ao cliente, como é o caso da produção de águas quentes sanitárias com uma bomba de calor elétrica a substituir uma caldeira a gás, uma solução que tem um consumo de energia primária muito inferior e não liberta gases de efeito estuga para a atmosfera. Mas também indiretamente a tecnologia está a contribuir para uma maior sustentabilidade, garante o responsável, “através de comunicação e sensibilização aos clientes finais na utilização racional da energia e da água”.
A equação para uma gestão mais sustentável
E o caminho para a sustentabilidade acaba por ser incontornável em qualquer abordagem dos setores da água e da energia. Jorge Cardoso Gonçalves é fundamental combinar soluções, “não romper com o que fizemos bem, adaptar o que não fazemos tão bem e inovar no que ainda não foi feito”. O presidente da APRH acredita que, no setor da água, há um caminho a percorrer quer na gestão da procura, através da redução de consumos e da melhoria da eficiência hídrica, como na gestão da oferta, explorando origens de água alternativa. O responsável defende que é importante “medir para conhecer, e conhecer para gerir”, sublinhando que, considerando o balanço das últimas décadas, o atual contexto e os desafios futuros, “é urgente um «uso inteligente da água»”.
Já para João Paulo Mesquita, da Filotipo, o ponto de partida nos setores da água e da energia passa pela monitorização dos consumos de água, eletricidade e gás. “É imprescindível perceber onde se encontram os pontos críticos de consumo para conseguirmos priorizar os investimentos”, salienta.
Na Helexia Portugal, Pedro Alves acredita que a gestão sustentável de energia requer uma análise cuidada das necessidades dos utentes e do investimento em equipamentos eficientes. Mas considera imprescindível “o acompanhamento sistemático e a gestão fina de consumos para reduzir ou anular a emissão de gases com efeito de estufa, direta ou indiretamente”.
Por sua vez, Carlos Coelho, do Grupo Greenvolt, não hesita em afirmar que a equação certa para uma gestão energética mais sustentável reside na multiplicidade de sistemas de geração de energia a partir de fontes renováveis. Algo que a sua empresa faz recorrendo a um mix de tecnologias verdes, seja a biomassa sustentável, os parques eólicos e solares ou os sistemas de geração distribuída. O responsável explica que estas tecnologias permitirão, em conjunto, “dar passos largos no processo de transição energética, sendo que dificilmente se conseguirá alcançar a geração de energia 100% renovável”.
Luísa Matos, da Cleanwatts, garante que a gestão sustentável da energia cruza cinco grandes fatores: eficiência energética, fontes renováveis, inovação tecnológica, políticas públicas eficazes e consciencialização social. “Melhorar a eficiência com tecnologias avançadas e práticas conscientes reduz desperdícios e emissões, economizando recursos”, reconhece.
Por fim, Ricardo Jorge Santos lembra que encontrar o equilíbrio para uma gestão sustentável da energia envolve uma abordagem multifacetada e coordenada. O responsável da E-
Redes admite que “a eficiência energética é fundamental e passa necessariamente pela implementação de tecnologias e práticas que aumentam a eficiência, como iluminação LED, a digitalização do setor, a flexibilidade do mercado ou o recurso a novos meios de inspeção da rede elétrica, como o recurso a drones”. E não tem dúvidas de que o desenvolvimento tecnológico e a inovação desempenham um papel vital: “A eficiência energética, a integração de fontes renováveis e o desenvolvimento tecnológico devem ser coordenados para criar um sistema energético equilibrado e sustentável”, resume.
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Por Inês Gromicho, publicado na edição 106 da Ambiente Magazine
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