Agroinsider: Mercado de Carbono e Sustentabilidade

O mercado voluntário de carbono é um instrumento utilizado na rota da descarbonização e tem sofrido alterações nos últimos anos devido aos debates políticos associados às alterações climáticas, à implementação de novos regulamentos e ao escrutínio por parte de organizações não governamentais e opinião pública.

Após um crescimento exponencial, o mercado atingiu um ponto de inflexão de um valor transacionado estimado em 1.22 biliões em 2022 para 926 milhões de dólares em 2023. As estatísticas indicam que o total de créditos desceu de 183 milhões de toneladas em 2022 para 174 milhões de toneladas em 2023 (Bravo & Mikolajczyk, 2024; Viridios AI, 2024a).

Os preços variam em função do tipo, qualidade e vintage dos projetos. Tendo por base os créditos gerados na faixa equatorial, os valores caíram de 9,75€ em 2022 para 5,75€ em 2023 (Bravo & Mikolajczyk, 2024). As principais causas prendem-se com a instabilidade política, a desatualização das metodologias que certificam os projetos e os erros técnicos que levam a um clima de desconfiança (Bravo & Mikolajczyk, 2024; Donofrio et al., 2023; Greenfield, 2023; Sustainability in Business, 2024). O valor da capitalização do mercado desceu do máximo atingido em 2022, de 9.7 biliões de dólares, para 4.7 biliões de dólares em 2024 (Viridios AI, 2024c).

O escasso desenvolvimento do artigo 6 do Acordo de Paris pós COP 28 (Zaman et al., 2024) e o estabelecimento de acordos como o Carbon Border Adjustment Mechanism da União Europeia (UE), que obriga ao pagamento de uma taxa pelos produtos importados, têm sido duramente criticados, quer devido aos setores abrangidos quer por afectarem os países subdesenvolvidos (Agarwal, 2024).

A UE, através do “Carbon Removal Certifiation Framework”, favorece os mercados de carbono regulamentados, promovendo as metodologias mais atuais e a traceabilidade das operações no registo de projetos e transações de créditos. Disponibiliza ferramentas para certificar e monitorizar os projetos de forma rápida e eficaz, carregando os ficheiros numa plataforma comum disponível para consulta pública.

O Integrity Council for the Voluntary Carbon Market estabeleceu padrões de integridade no mercado voluntário de carbono através dos “Core Carbon Principles”, fazendo com que os primeiros créditos emitidos valorizassem até 50% no preço de aquisição (DGB Group, 2024; Viridios AI, 2024b).

Os estudos enfatizam a necessidade de as empresas reduzirem as emissões internamente utilizando créditos de carbono ligados à remoção e sequestro, uma vez que se prevê atingir o limiar do benefício a partir de métodos como energias renováveis ou evitando o corte de florestas. O sequestro de longo prazo do CO2, com os projetos de reflrestação, biocarvão, recuperação de turfeiras, captura de carbono através dos oceanos e rochas e estações de captura industriais, tem permitido um conjunto de benefícios como a restauração de ecossistemas naturais, a promoção da saúde do solo e água e a captura permanente de C02. Só promovendo a recuperação do clima e da natureza seremos capazes de limitar o aquecimento global até 2050 (Axelsson et al., 2024; Boehm et al., 2023).

É necessário apoiar todas as nações nesta luta, promovendo o mercado de carbono como mecanismo transparente e escrutinado de transferência de fundos entre quem polui e quem protege a floresta e o solo. As empresas que utilizam créditos de carbono duplicam a velocidade de execução da sua estratégia de descarbonização, criam negócios mais sustentáveis e resilientes e melhoram a sua imagem (MSCI ESG Research, 2023).

Por Miguel Messias, analista de ativos financeiros verdes na Agroinsider

(publicado na edição 106 da Ambiente Magazine)