Produtores de Tábua e Oliveira do Hospital afetados pelos incêndios de 2017 estão a retomar a atividade agrícola com renovada esperança, mas alguns vacilam perante as atuais dificuldades, noticiou a agência Lusa esta quinta-feira.
A extensão dos prejuízos causados pelos fogos de 15 e 16 de outubro na região Centro e os constrangimentos financeiros têm obrigado os produtores de frutos, vinho, azeite e hortícolas a ponderarem o futuro como nunca. “Há muitas reservas em relação a tudo”, afirma à agência Lusa o fruticultor Nuno Pereira, presidente da Cooperativa Capital dos Frutos Silvestres, criada no ano passado, em Oliveira do Hospital, e que reúne associados de 22 municípios dos distritos de Coimbra, Viseu e Guarda.
Devido aos fogos, “muitos perderam a produção na totalidade e irão desistir”, enquanto outros têm “vontade de fazer novos investimentos” e reagir ao sentimento de desolação que se instalou a seguir à tragédia.
No geral, o Estado deu “uma resposta muito tardia” aos agricultores, que “ficaram mais fragilizados” após terem perdido casas, plantações, estufas, alfaias e sistemas de rega, lamenta Nuno Pereira.
“O futuro vai ter de passar por reavaliar muito bem as coisas”, corrobora José Luís Fernandes, que em 2017 produziu duas toneladas de mirtilo, em Lagares da Beira, concelho de Oliveira do Hospital. Trata-se de uma área de dois hectares onde este professor de Físico-Química, com ajuda da família, cuidava de 6.000 plantas, entre mirtilos, framboesas, cerejeiras, macieiras, romãzeiras, pereiras e outras, dizimadas há quatro meses pelo fogo. Para voltar a produzir, encara “a possibilidade de uma parceria” com a Capital dos Frutos Silvestres.
Natural da Bélgica, o agricultor Peter Vansant instalou-se em Vila Nova de Oliveirinha, Tábua, em finais do século XX. Ele e o filho, Aaron, cultivam espargos, em Oliveira do Hospital, e desenvolvem outras atividades agrícolas na região, como a seleção de sementes, com apoio da Escola Superior Agrária de Coimbra. “Fazemos aqui muitos ensaios, para ver quais as variedades novas de hortícolas que se adaptam ao nosso clima”, revela Aaron Vansant à Lusa.
Em outubro, o fogo causou danos superiores a 400 mil euros nas explorações da família, que perdeu câmaras frigoríficas, linhas de lavagem, estufas e um armazém. “Não sobrou mesmo nada, só ficou a casa, em Vila Nova de Oliveirinha. Vamos ter muitas dificuldades em retomar, económica e psicologicamente”, admite.
Gestor de profissão, Eduardo Costa, a mulher e outros familiares avançaram há quatro anos com uma plantação de diversas variedades de maçãs, em Meruge, Oliveira do Hospital. Terrenos outrora povoados de pinhal, eucaliptal e avelal, com uma área de 18 hectares, acolhem agora 42.500 macieiras, ao abrigo de um investimento de 900 mil euros financiado com fundos comunitários. Serão substituídas mais de 3.000 árvores queimadas. A empresa apresentou uma candidatura às ajudas do Estado “para reposição do potencial produtivo”, mas foi reprovada.
O Ministério da Agricultura alegou que “não estava afetada 30% da capacidade produtiva” do projeto. “Vamos contestar”, promete Eduardo Costa, frisando que o sistema de rega e fertilização foi danificado na totalidade.
Este ano, a empresa prevê uma produção de 120 a 150 toneladas de maçãs certificadas.
Nuno Pereira e o pai, o empresário Fernando Tavares Pereira, presidente do Movimento Associativo de Apoio às Vítimas dos Incêndios de Midões, possuem mais de 100 hectares de campos com diferentes produções, entre Tábua e Oliveira do Hospital, todos devastados pelo fogo. “A vinha foi afetada em 80 a 90%”, tendo sido ainda destruídos 30 hectares de medronhal. As videiras “estavam a produzir bem e muitas são irrecuperáveis”, segundo o jovem.
O fundador da Capital dos Frutos Silvestres realça que, em 2017, a cooperativa vendeu mais de 50 toneladas de mirtilo. No entanto, o incêndio “afetou algumas explorações” de framboesa, ficando a produção abaixo das previsões. A cooperativa vai incentivar novas plantações desta espécie ainda este ano, a fim de colmatar as perdas dos associados.