“Ter uma estratégia para sabermos onde temos de ir e quais são os nossos objetivos para lá chegar é fundamental”. Quem o diz é o ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, reforçando que a “verdadeira transformação” só é possível quando se “cria bem-estar para a sociedade” e, simultaneamente, quando a economia cresce: “Mas, crescer implica uma economia neutra em carbono, que regenere recursos e numa sociedade em que não se perca tempo em questionar os limites do planeta terrestre porque já sabemos quais são e é dentro deles que temos de caber”.
O ministro do Ambiente que falou esta quarta-feira, 23 de fevereiro, na Conferência Economia Mais Circular, promovida pela CIP (Confederação Empresarial de Portugal), destacou aquele que é o princípio essencial da economia circular: “Dissociar o crescimento da economia do consumo de recursos”. E voltando ao passado, Matos Fernandes lembra que, ao longo da história, “o crescimento da economia esteve sempre acoplado àquilo que era o aumento das emissões e associado ao consumo de recursos”. Num tempo em que o planeta suporta sete mil milhões de pessoas é “impossível” trilhar o mesmo caminho: “Temos de saber crescer sem explorar mais recursos do que aqueles necessitamos”. E neste processo a economia circular tem um papel fundamental: “Aqueles que ainda acham que a economia e a sustentabilidade são faces opostas de uma mesma moeda estão completamente errados”. Mesmo com as empresas e o Governo a terem formas de “gestão diferentes” e “tempos de decisão diferentes”, há um foco comum: “Sem qualquer populismo, um Governo governa em nome do povo e, tal significa, ir ao encontro daquilo que são as vontades da nossa sociedade, garantindo a proteção dos mais desfavorecidos”. Já do lado das empresas, o foco primeiro é o “mercado”: “É a pensar no mercado que têm de construir as soluções tecnológicas, organizar a gestão, expandir no território ou fazer o inverso, exportar ou concentrarem-se no mercado interno (…), ou seja, tudo aquilo que forem as opções estratégicas e de processos”. Matos Fernandes está convencido que “as empresas que, pensando no mercado, não reconhecem que os seus clientes são profundamente exigentes nos compromissos com a sustentabilidade vão estar fora do mercado”. Esta é, no entender do ministro, a “principal razão pela qual as empresas se interessem mesmo por estas matérias”. O mesmo acontece do lado do setor financeiro: “Não é possível (este setor) não considerar na sua análise de risco a cor do financiamento que financia ou do portfólio de clientes que têm porque terá problemas graves de, simplesmente, ter falta de clientes no futuro próximo”. Tão importante nesta equação é a “redução da utilização das matérias primas” que garantirá o sucesso empresarial e, particularmente, das empresas em Portugal, afinca.
Com a Europa a ter “9% das matérias críticas para o seu desenvolvimento” e com a “pandemia” a confirmar as “dificuldades de aprovisionamento daqueles que acreditam que o preço pode ser a variável única e que continuam a consumir matérias primas vindas do outro lado do mundo”, Matos Fernandes alerta para a consequente “limitação profunda do desenvolvimento da economia e do desenvolvimento empresarial”. Por isso, a economia circular afirma-se, essencialmente, como uma questão das empresas: “Numa zona industrial é absolutamente essencial saber o que produzem as empresas à minha volta para saber e conhecer dos seus resíduos, o que posso incorporar ao meu processo de fabrico e vice-versa”, exemplifica, acreditando que “esta relação tem que ser cada vez mais densa”, mais ainda “quando estamos numa idade precoce daquilo que é afirmação da economia circular em Portugal: uma afirmação que se faz com estudos de caso e partilha de experiências”, remata.