Enfrentamos hoje desafios crescentes na gestão da água em Portugal, especialmente críticos num contexto de alterações climáticas e de crescente escassez de água, agravado pelo aumento da frequência e intensidade de períodos de secas, e de maior pressão sobre os recursos hídricos como consequência do aumento da procura pelos diversos utilizadores, nomeadamente da produção agrícola e pecuária, indústria, usos recreativos, abastecimento público, entre outros.
É, pois, fundamental encontrar um equilíbrio entre a oferta e a procura que garanta a sustentabilidade do recurso, numa visão integrada e multissetorial da água, que é essencial ao bem-estar social, à competitividade económica a longo prazo e à proteção dos ecossistemas, em especial num contexto geopolítico, social e económico particularmente adverso.
O incremento da circularidade na utilização da água constitui uma boa prática para enfrentar estes desafios, de que é exemplo o aproveitamento das águas residuais tratadas nas infraestruturas das empresas do Grupo Águas de Portugal.
A água para reutilização (ApR) é uma fonte alternativa de água que é segura para diversos usos compatíveis – da rega agrícola, de campos de golfe e de espaços verdes urbanos a lavagens e utilizações industriais, entre outros, e que se está a tornar cada vez mais atrativa, nomeadamente para a agricultura.
As águas residuais urbanas tratadas, além de serem uma fonte quantitativamente confiável de água durante todo o ano, contêm nutrientes que podem contribuir para o aumento da produtividade das culturas e para a redução do consumo de fertilizantes minerais.
Existem já projetos de investigação & desenvolvimento colaborativos do Grupo Águas de Portugal com parceiros do setor agrícola para reforçar o conhecimento relativo à utilização de ApR como, por exemplo, o REUSE e o AQUA VINI Sustentável, ambos implementados na região do Alentejo e alinhados com os eixos de ação da nova Política Agrícola Comum.
O projeto REUSE foi desenvolvido entre 2019 e 2021 por uma equipa multidisciplinar, composta por vários intervenientes do setor da água, ambiente e agricultura – Águas Públicas do Alentejo, AdP VALOR, EDIA – Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva, Escola Superior de Agronomia, EFACEC e COTR – Centro Operativo e de Tecnologia de Regadio.
O piloto de demonstração do projeto, instalado na ETAR de Beja, consistiu num sistema de afinação de qualidade de ApR através da desinfeção solar das águas residuais tratadas na ETAR, para utilização, por um agricultor da região, na rega de um jovem pomar de romãzeiras de 0,5 hectares no Monte Olival do Miguelito, situado a 1,2 km da ETAR. O objetivo deste piloto foi estudar o impacto da utilização desta água no desenvolvimento das plantas e frutos, o balanço de nutrientes e a avaliação da eventual poupança na dosagem de fertilizantes minerais, para além de avaliar o impacto da ApR nos recetores ambientais (solo e água) e o impacto desta água no sistema de rega da exploração agrícola.
Em 2021, foi implementado o projeto AQUA VINI Sustentável. Resultante de uma parceria entre a Águas Públicas do Alentejo, a AdP VALOR, o COTR – Centro Operativo e de Tecnologia de Regadio, a Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA) e o utilizador Monte da Ravasqueira (produtor de vinho), teve como objetivo contribuir para aumentar o conhecimento técnico sobre a reutilização de água na atividade de regadio na indústria vitivinícola do Alentejo, os efeitos desta aplicação no desenvolvimento das culturas irrigadas e o impacto nos recetores ambientais solo e recursos hídricos, bem como nos sistemas de rega.
A ApR produzida na ETAR de Arraiolos Poente foi descarregada numa charca de armazenamento (2.000 m3) utilizada para rega da parcela de vinha em estudo. Foi ainda estudada a viabilidade da utilização do caroço de azeitona seco como meio filtrante no tratamento complementar de afinação para produzir ApR, promovendo sinergias entre os diferentes setores da região numa lógica de economia circular.
Ambos os projetos foram concebidos tendo em conta a abordagem fit-for-purpose, tendo sido realizada uma avaliação de risco para testar a metodologia regulamentar. Adicionalmente, foram estudados os potenciais impactes da utilização de ApR nos recetores ambientais (culturas, solos e massas de água), nos sistemas de irrigação e na poupança de fertilizantes, comparando assim o desempenho ambiental e económico do uso da ApR com a irrigação com origens de água naturais, com resultados muito positivos.
Com financiamento do Fundo Ambiental do Ministério do Ambiente e Ação Climática, estes projetos permitiram estimar os custos de investimento e de funcionamento operação associados à produção e ao fornecimento de ApR.
O acompanhamento pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) permitiu ainda testar a aplicação de alguns dos instrumentos regulamentares e legais que enquadram a atividade de reutilização de água, nomeadamente na agricultura.
Sublinhe-se que ambos os agricultores demonstraram a sua vontade de continuar a ser abastecidos por esta ApR.
Constituindo uma relevante medida de adaptação às alterações climáticas, a utilização de águas residuais tratadas incorpora também os desafios da economia circular na gestão do ciclo urbano da água, gerando benefícios ambientais, sociais e económicos significativos.
Estes e outros projetos de reutilização desenvolvidos pelo Grupo Águas de Portugal, em diferentes escalas e contextos regionais, têm contribuído para aumentar o conhecimento, criar sinergias entre stakeholders, ultrapassar barreiras e desenvolver soluções seguras e adequadas em termos de custo-benefício.
À medida que se vão conhecendo estes casos de sucesso regista-se um aumento da procura de ApR, mesmo em regiões com menor escassez de água, tendo como objetivo o uso eficiente e preservação a proteção dos recursos hídricos.
* Branded Content (conteúdo da responsabilidade da AdP VALOR, empresa do Grupo Águas de Portugal)