O GEOTA destaca que o açude da Murta, situado na Herdade de Murta, “é um spot de biodiversidade e fornece água doce a inúmeras espécies de aves e mamíferos, entre outros”, e vai mais longe ao sublinhar que “não se trata tão somente de manter a diversidade de habitats, mas de concentrar esforços na mitigação das alterações climáticas, preservando e fomentando o uso sustentável dos recursos hídricos”.
A organização afirma que “é de lamentar a falta de visão de empresas que apostam numa perspetiva de lucro/beneficio imediato, camuflado por valores de competitividade económica e social, ao promoverem monoculturas tropicais de regadio intensivo, que aos poucos descaracteriza a nossa paisagem e que levam à exaustão dos recursos hídricos numa zona do país que há muito se encontra em seca estrutural. A cultura do abacateiro exerce enorme pressão sobre os aquíferos, e se a CCDR Alentejo der o aval a mais uma plantação, neste caso com mais de 658 hectares, calcula-se que o volume de água subterrânea extraída por ano pela empresa promotora do projeto (a Expoente Frugal do grupo Aquaterra.farm) corresponderá a mais de 2850 milhões de litros, alterando de vez o equilíbrio deste aquífero e consequentemente pondo em risco o açude da Murta”.
A equipa de especialistas desta organização ambiental relembra ainda que “o açude é essencialmente alimentado por uma nascente do aquífero freático que lhe permite ter água disponível todo o ano. Se os níveis de água subterrânea forem rebaixados pela extração intensa para rega, a nascente seca e a lagoa do açude pode secar, uma vez que as escorrências superficiais após as chuvas não são suficientes para manter a lagoa durante todo o ano”.
“Na prática, o que constatamos é que as sucessivas aprovações de projetos agrícolas e turísticos na sua maioria pela CCDR Alentejo, como autoridade de EIA, já permitiu a destruição de 30% da área da Zona Especial de Conservação (ZEC) Comporta-Galé, assim como o consumo excessivo de recursos hídricos”, afirma o GEOTA.
Mas, o alerta do GEOTA vai mais longe ao constatar que “após o parecer desfavorável da Comissão de Avaliação a este projeto de plantação de abacate, a CCDR Alentejo suspendeu o prazo do procedimento de AIA e incentivou o promotor – a empresa Expoente Frugal – a reformular o projeto de modo a evitar ou reduzir efeitos significativos no ambiente, assim como a necessidade de prever medidas adicionais de minimização ou compensação ambiental, ou seja, tudo indica que se está a preparar o caminho para a sua aprovação”.