Acordo do clima de Paris poderia salvar milhões de peixes
Muitos peixes migram ou morrem quando a água fica muito quente, mas milhões poderiam ser salvos se o mundo cumprisse os objetivos de aquecimento global estabelecidos no Acordo de Paris de 2015, revelou um estudo publicado na passada quinta-feira, e noticiado pelo Ambiente Brasil.
Os peixes são uma parte importante da cadeia alimentar e uma indústria global que vale cerca de 141 bilhões de euros em exportações a cada ano. Os resultados, publicados na revista científica Science, comparam os cenários de aquecimento de 1,5 graus Celsius no final do século em relação à era pré-industrial, conforme previsto no Acordo de Paris, e de 3,5ºC, se o planeta continuar no caminho atual.
Se o aquecimento global continuar a não ser controlado e o cenário de 3,5ºC acontecer, a redução das populações de peixes privaria a indústria de seis milhões de toneladas de capturas por ano, segundo o estudo.
Uma vez que as pescas perto do Equador seriam as mais afetadas se as metas de Paris não forem cumpridas, as pessoas que dependem de peixes para sua subsistência nessa região também são mais propensas a sofrer do que as populações mais ao norte. O potencial máximo de captura pode cair 47% na região do Indo-Pacífico, que inclui o Golfo de Bengala, o Golfo da Tailândia, o Mar da China Meridional e Mar de Celebes, disse o estudo.
“Os benefícios para as áreas tropicais vulneráveis é um forte motivo para o cumprimento da meta de 1,5ºC”, disse o autor principal do estudo, William Cheung, professor do Instituto para os Oceanos e Pescas da Universidade da Colúmbia Britânica (UBC), no Canadá.
“A cadeia de abastecimento de frutos do mar está agora altamente globalizada. Todos se beneficiariam do cumprimento do Acordo de Paris”, acrescentou.
O estudo analisou dados de 19 modelos de sistemas da Terra, comparando os impactos em cerca de 900 peixes marinhos sob dois cenários – um de continuidade das altas emissões de gases de efeito estufa e outro de grandes cortes no uso dos combustíveis fósseis. Em ambos os cenários, a quantidade de peixes diminuirá.
Um aquecimento de 3,5ºC “irá diminuir o potencial de captura máximo em nível global em 8%”, disse o estudo. Já o aumento de temperatura de 1,5ºC “diminuirá o potencial máximo de captura em 2,5%”.
Os pesquisadores disseram que os resultados devem convencer os países – incluindo os Estados Unidos sob o governo do presidente eleito, Donald Trump, que ameaçou abandonar o Acordo de Paris – da importância de aumentar seus compromissos de reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
“Se um dos maiores países emissores de dióxido de carbono sair do Acordo de Paris, os esforços dos outros serão claramente reduzidos”, disse o co-autor Gabriel Reygondeau, membro sénior do Programa Nereus da Fundação Nippon e da UBC.
“Não é uma questão de quanto podemos nos beneficiar do Acordo de Paris, mas de quanto não queremos perder”, completou.