“A sobrepesca e o bycatch continuam a ser dos principais motores da perda de biodiversidade marinha”
Em prol do Dia Nacional da Conservação da Natureza, assinalado no passado dia 28 de julho, a Ambiente Magazine foi conversar com Rodrigo Sengo, responsável do Marine Stewardship Council (MSC) em Portugal, sobre o estado do nosso ecossistema marinho.
A verdade é uma: “os oceanos estão submetidos a uma enorme pressão”, estimando-se que “aproximadamente 15% da vida marinha esteja ameaçada”.
E os problemas vão desde a atividade humana, à contaminação e às alterações climáticas, mas a “a sobrepesca e o bycatch (captura acidental de espécies indesejadas) continuam a ser dois dos principais motores da perda de biodiversidade marinha nos nossos oceanos”.
Olhando para o estado global dos recursos, a sobrepesca, por exemplo, aumentou, em todo o mundo, sendo que 35,4% dos stocks comerciais de peixe avaliados são explorados de forma “biologicamente insustentável”: “a pesca excessiva, mas também a pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (IUU) têm impactos prejudiciais muito além das espécies-alvo”, explica Rodrigo Sengo.
“Há melhor ciência disponível sobre o estado dos oceanos, o que se traduz em melhores planos de gestão em muitas partes do mundo”
Já as alterações climáticas são uma ameaça que começa a “ter profundas repercussões na saúde dos oceanos, criando desafios ao nível da gestão sustentável dos recursos”, entre eles a redução das populações de peixes: “situações similares em anos anteriores levaram ao fecho de pescarias nos EUA e Austrália durante três anos para ajudar a reconstituir os respetivos stocks”.
E o que estão a fazer as associações para conservar os mares e os oceanos? O MSC (Marine Stewardship Council) é “um programa voluntário de certificação que utiliza incentivos do mercado para impulsionar melhorias nas pescas”, atuando na Pesca e Cadeia de Custódia e no Selo Azul, que identifica os produtos de pesca sustentáveis: “contabilizamos 2.087 melhorias introduzidas por pescarias certificadas, impulsionadas pelas condições para alcançar e manter a certificação. Nos últimos três anos, de 418 melhorias, 161 constituíram benefícios para espécies em perigo, ameaçadas e protegidas; 107 em benefício do estado dos stocks; 76 que beneficiam a gestão, a governação e as políticas pesqueiras; e 74 melhorias em benefício dos ecossistemas e dos habitats marinhos. Atualmente, mais de 530 pescarias, representando 15% das capturas marinhas selvagens mundiais, estão certificadas de acordo com o Padrão de Pesca do MSC”, explica o biólogo.
O objetivo da organizações internacional sem fins lucrativos passa por “envolver um terço das capturas mundiais de pescado selvagem no seu programa, até 2030”.
E o que podem fazer os consumidores para apoiar a conservação do ecossistema marinho? “O Selo Azul do MSC vem facilitar a escolha para um consumo responsável de pescado” e, atualmente, notam-se cada vez mais pessoas interessadas pela sustentabilidade e que procuram ajudar a prevenir as alterações climáticas – muitas até mudam os seus hábitos alimentares por razões ambientais.
Um estudo da GlobeScan em 2022, concluiu que, em Portugal, 97% dos portugueses estão preocupados com o estados dos oceanos e mostram-se mais conscientes.
Já a nível político, é “necessário mais investimento em ciência e investigação”, evidencia Rodrigo Sengo, “há ainda muito por fazer, especialmente quando falamos de espécies-alvo da pesca cujos stocks são desconhecidos ou pouco os estudados”.
“A biodiversidade marinha traz-nos inúmeros benefícios alimentares, económicos e culturais dos quais dependemos”
No último ano foram alcançados acordos internacionais importantes, “como os acordos de gestão por Organizações Regionais das Pescas para proteger espécies emblemáticos, como o atum rabilho do Atlântico ou populações de atum gaiado Pacífico Ocidental, e até o Tratado do Alto Mar, que finalmente aborda a proteção de águas internacionais, ou o Quadro Global de Biodiversidade”, explicou o consultor da MSC.
Em Portugal, o próprio acredita que a política está “comprometida no cuidado do mar”, mas é preciso mais consciencialização social sobre a relevância de oceanos saudáveis e do impacto dos mesmos na vida humana.