“O futuro da água, um desafio doce e salgado: da água potável à economia do mar” foi o tema de mais um episódio da segunda temporada do programa “Conversas sobre Sustentabilidade” promovido pelo BCSD (Business Council for Sustainable Development) de Portugal.
Atualmente, há uma série de pressões que condicionam o uso da água e a qualidade das massas de água na União Europeia (UE): o impacto das alterações climáticas, o aquecimento global e menos disponibilidades de águas, são alguns exemplos. A Diretiva Quadro da Água tem por objetivo que as massas de água atinjam o bom estado ecológico em 2027: “A probabilidade de todas as massas de água previstas na UE atingirem o bom estado ecológico é zero”. Quem o diz é Nuno Lacasta, presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), que não tem dúvidas de que os progressos vão ser “mais lentos” do que era esperado: “Vamos registrar bilhões e bilhões de investimos quer na gestão dos recursos hídricos, quer no ciclo urbano da água”. Olhando para a “última fotografia”, o presidente da APA destaca que a nível europeu “40% das águas superficiais” e “89% das águas subterrâneas” estavam em bom estado: “O caminho ainda é longo: menos de 50% das águas superficiais estão em bom estado”. E esta é uma realidade muito semelhante à portuguesa: “Temos 1550 massas de água para estudar e a exigência é grande do ponto de vista de recurso”. Ainda assim, enfatiza Nuno Lacasta, o país dispõe de “redes de monitorização”, bem como, de um “sistema nacional de informação dos recursos hídricos” que permite cruzar várias fontes de informação. Em situações de seca, por exemplo, aplicar um conjunto de ferramentas, planeaamentos, licenciamentos ou projetos de investigação que permita tornar a gestão menos complexa é um caminho defendido pelo presidente da APA.
Olhando para o estado das massas de água em Portugal, Nuno Lacasta reconhece ser idêntico àquilo que se passa na UE: “Mas, hoje temos uma qualidade de água no nosso país que é incomparavelmente superior àquela que tínhamos há 10 e 15 anos”. E as medidas que já estão em marcha, em Portugal, estão em muito linha com a “proteção e melhoria” da qualidade das massas de água, uso eficiente ou “olhar para as utilizações e ver se tem que ser condicionadas ou revistas”, bem como o “preço da água”.
[blockquote style=”2″]Olhar para a gestão de recurso hídricos de forma integrada[/blockquote]
Questionado sobre o risco de Portugal ficar dependente de barragens, inclusive da barragem do Alqueva, o presidente da APA é perentório: “Com a situação de seca estrutural que já existe no sul do país, se não existisse Alqueva era completamente diferente: teríamos uma seca catastrófica”.
Mas, um tema que, segundo Nuno Lacasta, vai muito para além das barragens é a estimativa que se faz da água disponível no futuro. E se se olhar para aquilo que “temos” pela frente, como as “disponibilidades da água a diminuir”, as “temperaturas mais elevadas”, a “diminuição da precipitação face ao histórico”, a “concentração de maiores dias” e, com isto, as “necessidades a aumentar”, o presidente da APA sublinha a necessidade de se “olhar para a gestão de recurso hídricos de forma integrada”. Quanto a desafios, Nuno Lacasta destaca a necessidade de se “garantir que na agricultura e no ciclo urbano as ETAR´s estão adaptadas e qual a relação disso com o preço da água para a reutilização”, bem como “estudar novas formas”, como a dessalinização ou tratar de um e interligações existentes: “Temos barragens em Portugal e antes de pensar em novas, pensar nas existentes e ver se podemos interligá-las”, exemplifica.
Por fim, no que respeita às “disponibilidade da água” a APA está a desenvolver dois estudos – Roteiro de Adaptação às Alterações Climáticas e Disponibilidades Hídricas no país -:“Cruzando estes dois estudos, vamos ficar com estimativas credíveis do estado sobre disponibilidade hídricas e olhar para os diferentes usos”, remata.