“A indústria do mobiliário está a dar passos progressivos em direção ao zero carbono”

A Ambiente Magazine esteve à conversa com Rita Pacheco, presidente da AEPF (Associação Empresarial de Paços de Ferreira), responsável pela realização da Capital do Móvel – evento que junta a indústria do mobiliário e do design em Lisboa, para perceber como o setor está a assumir um compromisso mais sustentável na sua atividade.

 

Como foi a 61.ª edição da Capital do Móvel? 

Rita Pacheco, presidente da AEPF

A 61.ª edição da Capital do Móvel, que decorreu de 12 a 16 de junho, foi um grande sucesso. O evento atraiu um público entusiasta, recebendo um total de 3.500 visitantes ao longo dos cinco dias. A feira contou com a ilustre presença de Nini Andrade, Embaixadora desta edição, que trouxe um toque especial ao evento com a sua reconhecida expertise no design. Também marcaram presença o Sr. Presidente da Câmara Municipal de Paços de Ferreira, Dr. Humberto Brito, o Sr. Ministro da Economia, Dr. Pedro Reis, e Pedro Nuno Santos, secretário-geral do Partido Socialista, cujas participações destacaram a importância e o impacto económico da feira para a região e para a indústria do mobiliário. A diversidade de novidades apresentadas e o networking eficaz entre expositores e visitantes fizeram desta edição um marco memorável na história da Capital do Móvel.

Este ano tentaram promover a sustentabilidade na feira? 

Este ano, procuramos sensibilizar os expositores para a adoção de práticas sustentáveis, enfatizando a importância da ecoeficiência e da responsabilidade ambiental. Além disso, optamos por uma comunicação digital, eliminando o uso de materiais impressos e promovendo interações através de plataformas digitais, em linha com os princípios de sustentabilidade fundamentais para o futuro do setor de mobiliário.

Como é que a AEPF tem incentivado a indústria do mobiliário a adotar práticas mais sustentáveis?

A AEPF tem promovido ativamente a adoção de práticas sustentáveis na indústria do mobiliário através de várias iniciativas e projetos. Desde a implementação de estratégias de gestão de resíduos, com enfoque na redução, reutilização e reciclagem, até à sensibilização contínua através de formações especializadas em segurança, higiene, saúde e preservação ambiental, a AEPF garante que as empresas do setor implementem medidas concretas para minimizar o seu impacto ambiental.

Além disso, iniciativas como o Projeto IMobDEC, financiado pelo PRR, tem como principal objetivo dar resposta aos desígnios do PNEC2030 e RNC2050 no que se refere à descarbonização da indústria, promovendo a identificação clara de um conjunto de medidas aplicáveis ao setor da indústria do mobiliário que visem contribuir para o objetivo da neutralidade carbónica. O projeto tem uma abordagem iterativa e participativa, prevendo a participação e envolvimento de stakeholders no processo de desenvolvimento do roteiro de descarbonização do setor, com o objetivo de impulsionar os resultados para a aplicação e implementação do roteiro nas empresas do setor.

Paralelamente, serão desenvolvidas ações de formação em diferentes temáticas para capacitação das empresas à gestão de carbono com vista à descarbonização da sua atividade.

Pretende-se ainda envolver algumas empresas do setor como pilotos de descarbonização, que terão como papel serem casos de estudo de sucesso de descarbonização e que possam ser divulgados como tal.

Acrescentamos ainda a criação de uma comunidade de energia renovável, encetada pela AEPF, que se encontra em fase de acreditação pela DGEE, no âmbito da qual já temos instalado uma central fotovoltaica na cobertura da associação com uma potência de 800kWp, que permitirá uma redução nos consumos de energia de todos os aderentes à comunidade e ainda o consumo de energia verde.

Como está esta indústria no caminho para o zero carbono?

A indústria do mobiliário está a dar passos progressivos em direção ao zero carbono. Muitas empresas têm reconhecido a necessidade de reduzir a pegada de carbono e estão a implementar medidas para alcançar este objetivo. Estas medidas incluem a utilização de materiais reciclados, a adoção de energias renováveis e a melhoria da eficiência energética dos processos de produção. Embora o caminho para o zero carbono ainda seja longo, a consciência e os esforços contínuos demonstram um compromisso crescente com a sustentabilidade.

Quais são os objetivos definidos até agora?

Os objetivos definidos pela indústria do mobiliário em relação à sustentabilidade incluem a redução das emissões de gases de efeito estufa, a utilização crescente de materiais recicláveis e a minimização dos resíduos de produção. Além disso, muitas empresas estão comprometidas com a certificação ambiental e com a implementação de processos de produção mais eficientes. Estes objetivos refletem um esforço coletivo para tornar a indústria mais sustentável e responsável ambientalmente.

Quais os principais desafios que o mobiliário encontra no que diz respeito a tornar-se numa indústria mais amiga do ambiente?

A indústria do mobiliário enfrenta vários desafios no caminho para se tornar mais amiga do ambiente. Entre estes desafios estão os elevados custos iniciais associados à implementação de tecnologias mais sustentáveis, a resistência à mudança por parte de alguns setores da indústria, e a dificuldade em obter materiais ecológicos de forma consistente e acessível. Além disso, a necessidade de cumprir regulamentações ambientais rigorosas e a falta de formação adequada sobre práticas sustentáveis são obstáculos significativos. No entanto, a crescente consciência sobre a importância da sustentabilidade está a ajudar a indústria a superar gradualmente estas barreiras.