O plástico “não vai desaparecer de um momento para outro”, nomeadamente nas embalagens de alimentos, mas são necessários materiais alternativos, amigos do ambiente, e mudanças nas empresas, para enfrentar a grave poluição dos oceanos, afirmou ontem um responsável comunitário, citado pela agência Lusa. “É preciso agir já, por exemplo através de políticas para os plásticos e na economia circular estamos a passar um sinal às empresas que as coisas não vão ser sempre como foram até hoje”, disse o diretor geral dos Assuntos do Mar e da Pesca da Comissão Europeia, João Aguiar Machado.
Mas o excesso de embalagens de plástico “não vai desaparecer de um momento para outro” porque os alimentos têm de ser acondicionados e “é preciso desenvolver produtos alternativos”, como plásticos biodegradáveis, acrescentou. João Aguiar Machado respondia a jornalistas no final do debate sobre como “Tornar o oceano mais limpo e sustentável, políticas europeias e prioridades nacionais” que decorreu ontem, dia 24 de maio, em Lisboa, numa iniciativa que incluiu a inauguração de uma exposição sobre a presença de grandes quantidades de plástico no mar, lixo que afeta o equilíbrio dos ecossistemas.
A exposição, que vai ficar em Lisboa, até 15 de agosto, foi produzida pelo Aquário Nacional da Dinamarca e por uma organização não-governamental (ONG), a Plastic Change, com o apoio da Comissão Europeia e do departamento de Estado dos Estados Unidos.
A mostra, que já passou pelas capitais da Dinamarca (Copenhaga) e da Estónia (Tallinn), irá depois para Malta (Valeta), Itália (Génova) e Bélgica (Bruxelas) na tentativa de sensibilizar os europeus para o problema da poluição dos plásticos no oceano através de informação e de imagens, por vezes, chocantes, de enormes quantidades de resíduos daquele material a boiar.
Como realçaram os intervenientes na iniciativa, nomeadamente a encarregada de negócios da embaixada norte-americana em Portugal, Herro Mustafa, a quantidade de plásticos no oceano está a aumentar e, se nada mudar, em 2050, haverá mais plástico que peixe no mar. Em 2015, as estimativas existentes referiam 150 milhões de toneladas de plástico nos oceanos, quantidade que será de 250 milhões de toneladas em 2025 e de 850 milhões de toneladas em 2050.
Vários estudos científicos referem os impactos do plástico quando deteriorado e fragmentado (resíduos de microplástico) nos peixes e aves, que o ingerem confundindo com alimento. Acerca dos efeitos para a saúde dos humanos, os resultados são ainda inconclusivos, mas a investigadora Filipa Bessa do MARE da Universidade de Coimbra, relatou durante a sessão que um trabalho a decorrer no estuário do Mondego, centrado em linguado, robalo, solha e sargo, detetou partículas de plástico nos estômagos dos peixes.
O diretor geral da Comissão Europeia salientou que a diminuição das quantidades de plástico envolve “a redução do plástico que se usa uma vez e se deita fora” mas também “uma maior reutilização na economia desses plásticos”, assim como o desenvolvimento de outros mais amigos do ambiente, biodegradáveis. João Aguiar Machado valoriza igualmente as campanhas de educação e de sensibilização nas escolas para “as pessoas se darem conta que o plástico é um produto que tem muito valor, é muito útil, mas pode ter grandes inconvenientes”.
“Com o aumento previsto da população no mundo, vamos ter de virar-nos vada vez mais para o mar para obter recursos, não só peixe, mas também minerais, biotecnologias, algas e vai haver uma procura cada vez maior de recursos no planeta e na terra já estão a chegar ao fim”, alertou. No entanto, defendeu, “é essencial que seja feito de um modo sustentável e a solução [que] pode parecer muito fácil é proibir atividades, mas é muito simplista, a realidade é que atividades no mar já acontecem hoje”.
Por isso, têm de ser criados mecanismos para reutilizar os plásticos e fazer com que haja incentivos para que não sejam deitados fora, sejam reciclados na economia e circulem, o que diminui a quantidade que tem de ser produzida, explicou o diretor geral. “Quando os cidadãos se comportarem de maneira diferente, as empresas que fabricam plástico vão ver que a aceitação já não é a mesma”, acrescentou.
A meta fixada para reciclagem de plásticos aponta para que em 2025 sejam reciclados 55% dos plásticos usados, enquanto a redução do lixo no oceano tem como meta 2030.