Um novo estudo do projeto Topten, do qual a Quercus é responsável em Portugal, revela a evolução da eficiência energética de três eletrodomésticos – frigoríficos, máquinas de lavar roupa e secadores de roupa – no mercado europeu, entre 2004 e 2015.
O estudo foi financiado pela Agência Francesa do Ambiente e do Controlo da Energia e tem como objetivo mostrar a relevância da monitorização sistemática, com base em dados de venda fidedignos. Os dados de vendas e as características dos frigoríficos, máquinas de lavar roupa e secadores de roupa, na Europa-21, foram adquiridos à GfK, para o período 2004-2015, e têm como base a informação declarada na etiqueta.
A União Europeia (UE) aprovou, recentemente, a criação de uma base de dados, onde serão registadas as informações dos produtos à venda no mercado europeu. De acordo com a Quercus, isso “facilitará não só a sua monitorização, mas também a troca de informações entre autoridades fiscalizadoras e o processo de revisão das etiquetas energéticas”.
Frigoríficos e combinados
Segundo o estudo, o consumo energético anual dos aparelhos de refrigeração diminuiu 26%. Porém, ao nível da UE, a venda de equipamentos de classe A+++ é ainda pouco expressiva, correspondendo apenas a 5% em 2015. Já o preço médio de venda destes aparelhos aumentou 8%.
O estudo concluiu que a elevada eficiência dos aparelhos de refrigeração com classe superior permite a obtenção de poupanças consideráveis, embora o preço de venda mais elevado faça com que esses benefícios possam não ser imediatos. É ainda observado que o comportamento das famílias, na utilização destes aparelhos (abertura de portas, definição da temperatura, localização do aparelho, etc.), é potencialmente responsável pelo agravamento do seu consumo energético real.
Os regulamentos de etiquetagem energética e conceção ecológica destes aparelhos têm evoluído desde então e encontram-se agora em revisão até ao final do ano. Espera-se que, nesta revisão, sejam eliminados os chamados “coeficientes de correção” atribuídos a determinadas funcionalidades e características, pois acabam por beneficiar o Índice de Eficiência Energética (IEE) dos aparelhos, e ainda que as subcategorias destes aparelhos sejam reduzidas e simplificadas.
Máquinas de lavar roupa
Segundo os dados de 2004 a 2015, o consumo energético diminuiu 27% e o consumo de água cerca de 15%. Admite-se que parte desta redução energética possa no entanto dever-se à alteração, em 2011, do método de cálculo da eficiência energética, e não à melhoria técnica e optimização dos programas de lavagem. A classe energética dominante nas vendas de máquinas de lavar roupa é a A+++, com 55% em 2015. Embora com uma representatividade sempre decrescente, as capacidades iguais ou inferiores a 6kg são ainda as mais vendidas na Europa, com 36% em 2015. Ainda assim, o preço médio de venda deste eletrodoméstico na Europa decresceu 8%.
O estudo salienta que o facto das marcas terem tendência a aumentar a capacidade das máquinas se deve, muito provavelmente, ao objetivo de obterem melhores níveis de eficiência energética, devido à atual fórmula de cálculo do IEE favorecer capacidades maiores. Esta tendência não reflete uma mudança nos hábitos das famílias, que continuam a fazer lavagens com cargas de 4kg em máquinas de maior capacidade. As diferenças no consumo médio anual de água e energia entre as três classes energéticas, atualmente permitidas, é reduzido, pelo que o preço do aparelho com a classe mais elevada pode retardar a obtenção de benefícios. Por outro lado, vários estudos indicam que as famílias não usam os programas normais de lavagem considerados no cálculo do IEE e recorrem a temperaturas inferiores, o que significa que, nesses casos, os consumos reais são mais reduzidos face aos declarados na etiqueta.
Diz a Quercus que, “seria desejável que a revisão em curso dos regulamentos tivesse em consideração que uma classe energética muito eficiente, numa máquina sobredimensionada, não se reflete necessariamente em poupança, mas sim em desperdício de eletricidade e água”. Por isso, frisa, “é ainda necessário definir programas normais de lavagem adaptados às necessidades reais das famílias”.
Secadores de roupa
A redução do consumo energético destes aparelhos entre 2004 e 2015 foi de 27%, embora não tenha sido constante, tendo em conta o pico ocorrido em 2008. Para além da alteração no método de cálculo da eficiência energética destes equipamentos, registou-se uma importante melhoria pela introdução da tecnologia de bomba de calor (que ocupa as classes A a A+++). A classe B foi a mais vendida (33%) na Europa, em 2015, mas a classe A++ apresenta valores próximos (28%). À semelhança das máquinas de lavar roupa, a capacidade dos modelos tem vindo a aumentar e, em 2015, 46% das vendas correspondia a modelos de 7kg. O preço de venda também subiu 32% neste período.
O estudo refere que o aumento da capacidade estará relacionado com o registado nas máquinas de lavar roupa. Os secadores convencionais de classe B (mínima desde Novembro 2015 para novos modelos) consomem cerca de 50% mais energia do que os que têm bomba de calor. Mesmo considerando os preços mais elevados, os modelos A+++ são os que permitem maiores poupanças aos consumidores. A compra e frequência de utilização destes aparelhos varia consideravelmente na Europa, sendo que em Portugal a procura é baixa, tendo em conta o nosso clima ameno.
Os regulamentos dos secadores de roupa serão novamente revistos até ao final deste ano, e as classes inferiores a A+ serão banidas do mercado.
Classes energéticas voltarão ao intervalo A-G
O Parlamento Europeu e o Conselho chegaram recentemente a acordo sobre a revisão da normativa de Etiquetagem Energética, que deverá entrar em vigor em Setembro de 2017. Os principais aspetos aprovados são:
– Reposição da escala inicial A-G, eliminando as classes A+, A++ e A+++. A introdução das novas etiquetas decorrerá até 2020, no caso dos eletrodomésticos e televisores e, possivelmente, só após 2030 para os aparelhos de aquecimento;
– Criação de uma base de dados de registo dos produtos à venda no mercado para facilitar as atividades de fiscalização, monitorização e reescalonamento, que deverá estar operacional a partir de Janeiro de 2019;
– Criação de uma base de dados pública para ajudar os consumidores a comparar a eficiência energética dos produtos;
– Estabelecimento de regras sobre as atualizações de software e os aparelhos “inteligentes”, proibindo a utilização de dispositivos manipuladores.