As temperaturas globais registaram mais um recorde o ano passado e o mundo assistiu a uma camada de gelo marinho excecionalmente baixa e a um aumento do nível da água do mar e da temperatura do oceano, segundo revela a Organização Meteorológica Mundial (OMM) das Nações Unidas, num alerta de que os fenómenos climáticos extremos prosseguiram até 2017.
De acordo com o relatório da OMM sobre o estado global do clima em 2016, apesar das temperaturas globais terem atingido uns extraordinários 1,1º C acima do período pré-industrial, o nível do mar global registou picos e a cobertura de gelo marinho no planeta desceu mais de quatro milhões de Km2 abaixo da média em novembro, um valor sem precedentes nesse mês.
“Este aumento da temperatura global é consistente com outras mudanças que ocorreram no sistema climático”, explica Petteri Taalas, secretário-geral da OMM. “Com níveis de dióxido de carbono na atmosfera a superaram novos recordes, a influência das atividades humanas do sistema climático tornou-se cada vez mais evidente”, acrescentou o responsável.
Todos os anos desde 2001 registaram pelo menos 0,4ºC acima da média de longom prazo para o período de 1961-1990, usada pela agência das Nações Unidas como uma referência para monitorizar as alterações climáticas.
O aquecimento em 2016 foi ainda mais incentivado pelo forte fenómeno El Niño 2015/2016, durante o qual o nível da água do mar também subiu fortemente.
De igual modo, os níveis de CO2 na atmosfera atingiram um marco simbólico de 400 partes por milhões em 2015 e não vão descer abaixo desse nível durante várias gerações futuras devido à natureza duradoura do CO2.
As condições climáticas extremas também contribuiram para o sofrimento humano: 2016 assistiu a secas severas, afetando milhões na Áfirca do Sul e Oriental, bem como América Central.
Perante tudo isto, Petteri Taalas sublinhou a importância da implementação do Acordo de Paris sobre as Alterações Climáticas. “É vital que a sua implementação se torne uma realidade e que o Acordo oriente a comunidade global em termos das mudanças climáticas reduzindo os gases de estufa, incentivando a resistência climática e colocando a adaptação climática nas políticas de desenvolvimento nacional”. Também pediu para que se continuasse a investir na pesquisa climática de forma a que os conhecimentos científicos estivessem a par do rápido ritmo das alterações climáticas.
A OMM explica que os padrões climáticos extremos vão continuar em 2017. Pelo menos três vezes este inverno, o Ártico sofreu o que se pode chamar de onda de calor polar, com tempestades atlânticas fortes a provocarem uma entrada de ar quente e húmido, o que significa que no pico do inverno ártico e do período de recongelamento do gelo marinho, houve dias que estiveram perto do ponto do degelo.
O gelo marinho da Antártida também registou uma quebra recorde, em contraste com a tendência dos anos recentes, e em algumas áreas, incluindo o Canadá e grande parte dos EUA, foram invulgarmente suaves, enquanto outras, incluindo partes da península árabe e África do norte, foram invulgarmente frias no início de 2017.
Só nos EUA, 11,743 recordes de temperaturas quentes foram superados ou igualados em fevereiro, segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA.