Por Luís Almeida Capão, Presidente da Direção da Associação Limpeza Urbana – Parceria para Cidades + Inteligentes e Sustentáveis
Rugulopterix okamurae é uma expressão que já entrou no vocabulário dos autarcas e que vai rapidamente alargar-se ao léxico comum. Esta alga de origem japonesa chegou à costa portuguesa há alguns anos, começando pelos Açores e depois pelo Algarve, mas nunca como neste 2024 deu tantas preocupações aos municípios costeiros.
Já sabemos que o ano de 2024 foi o mais quente de sempre e, por isso, a Rugulopterix okamurae invadiu em força as nossas praias. As perspetivas de futuro, em que não se espera descida da temperatura média do planeta e, pelo contrário, se estimam que as ondas de calor sejam cada vez mais frequentes e prolongadas, faz-nos imaginar um cenário assustador para os anos que se seguem.
Assustador, sim, em termos de biodiversidade a orla costeira e de impacto económico, para as populações que tiram do mar os seus maiores rendimentos, seja a pesca seja o turismo. Quase 13% da atividade económica nacional depende do turismo, são 33,8 mil milhões de euros para o PIB, mas em municípios costeiros e sobretudo no Algarve essa dependência ultrapassa muitas vezes os 50%.
A experiência arruinada de um dia ou de vários tem um impacto direto na economia destes lugares. O que faz um turista ao chegar a um destino onde as praias estão cobertas de algas que podem demorar dias a desaparecer? Provavelmente, não volta a escolher o local nem o recomendará a outros.
Depois há o impacto direto e imediato. Quando chega o aviso, a resposta do município tem de ser rápida e eficaz: iniciar os trabalhos de limpeza, estudar a melhor forma de remover o tapete de algas (e como lá chegar), decidir para onde transportá-lo e reduzir ao máximo os impactos na vida dos residentes e dos turistas. Embora não existam soluções perfeitas, é essencial investir em equipamentos e recursos que garantam uma intervenção mais ágil.
A única coisa que podemos controlar é a rapidez da nossa resposta. Intervir rapidamente acarreta custos inesperados, que recaem sobre os orçamentos municipais, podendo atingir valores elevadíssimos. Só em 2023, a Câmara de Lagos gastou 200 mil euros em intervenções nas praias para lidar com estas algas.
É aqui que os municípios precisam de apoio. Criar um fundo de emergência, semelhante ao apoio concedido aos agricultores em situações de fenómenos climáticos extremos, ajudaria os concelhos afetados a responder e a recuperar. Esta medida garantiria que as praias continuam a ser um cartão de visita importante para o turismo nacional.
Cada alerta de algas nas praias é mais do que um problema logístico: representa um aumento de despesas para resolver a situação e uma redução nos recursos disponíveis para investir noutras áreas. A Associação Limpeza Urbana (ALU) quer ajudar a encontrar soluções, transformando este desafio numa oportunidade para avançar na ciência, valorizar economicamente estas algas e criar uma nova indústria nacional. Os portugueses, com a sua ligação ao mar, saberão, sem dúvida, encontrar forma de tirar partido deste desafio e transformá-lo em algo positivo.