A Ambiente Magazine esteve à conversa com o presidente do Conselho de Administração da Águas do Algarve, SA, António Eusébio. Criada em agosto de 2000 para ser concessionária dos 16 concelhos da região, a empresa serve 450 mil habitantes em época baixa e perto de um milhão e meio em época alta, nas áreas de tratamento e distribuição de água, bem como no tratamento dos efluentes domésticos. Numa altura em que tanto se fala de seca no país, e nesta região, quisemos ouvir o que tem a dizer o gestor da Águas do Algarve e que investimentos tem em curso. António Eusébio garante que a Águas do Algarve veio elevar o padrão de qualidade no abastecimento de água para consumo e contribui para munir o Algarve de um sistema seguro, promovendo a qualidade ambiental. Leia aqui a 2ª Parte desta Grande Entrevista.
A Águas do Algarve submeteu, em 2023, o Estudo de Impacto Ambiental para a construção da Estação de Dessalinização de Água do Mar do Algarve. Quando poderá avançar esta estação e quando estará operacional? Que mais-valias irá trazer à região?
Com a obtenção da Declaração de Impacto Ambiental (DIA) a Águas do Algarve irá proceder à contratação para a execução da empreitada de Conceção, Construção do Projecto da Solução de Dessalinização na região do Algarve. Recorde-se que dia 16 de Fevereiro foi publicado em Diário da República o concurso para a conceção, construção e exploração do Sistema de Dessalinização de Água do Mar da região do Algarve.
A dessalinizadora que a Águas do Algarve está a construir no âmbito do Plano de Eficiência Hídrica do Algarve, financiado pelo Programa de Recuperação e Resiliência (PRR), a concluir em 2026, funcionará como um seguro, tendo a capacidade e de produzir no seu arranque 16 Mm3 /ano de água para consumo humano, ficando preparada na componente de obra civil (incluindo todo o sistema de captação e rejeição) para uma produção futura de 24 Mm3 /ano.
A Águas do Algarve tem apostado no fornecimento de Água para Reutilização? Em que áreas e qual o investimento que tem feito neste sentido, e com que resultados?
A Água para Reutilização (ApR) é uma fonte alternativa de água para usos não potáveis como a rega de campos de golfe, de jardins, lavagens de ruas e equipamentos ou para usos agrícolas, entre outros. No caso do Algarve, a forte sazonalidade contribui para o aumento da disponibilidade de volumes de ApR no Verão, período em que as necessidades de água são superiores por parte dos utilizadores.
Desde 2021, a Águas do Algarve tem vindo a trabalhar no desenvolvimento de soluções de ApR em cinco subsistemas de saneamento com maior potencial de reutilização para rega e usos urbanos: Boavista (Lagoa), Albufeira Poente, Vilamoura, Quinta do Lago e Vila Real de Santo António. Neste momento, a AdA já tem capacidade de fornecer cerca de 2,2 hm3/ano de ApR.
Até final de 2025, o investimento global para a produção de ApR ascenderá a 23 milhões de euros, permitindo produzir 8 hm3/ano, dos quais 71% se destinam à utilização pelos campos de golfe.
Outra aposta forte tem sido na transição para fontes de energia limpa e renovável. De que forma tem procurado apoiar esta transição e o que ainda falta fazer?
Em 2020, o grupo Águas de Portugal, do qual a Águas do Algarve, S.A. faz parte, anunciou o seu programa ZERO, que tem como principal objetivo atingir a neutralidade energética em 2030, através da redução dos consumos energéticos, por meio da implementação de medidas de eficiência energética, e aumento da produção própria de energia 100% renovável.
A Águas do Algarve S.A. tem atualmente em funcionamento seis centrais fotovoltaicas para autoconsumo, perfazendo um total de 1.8 MWp de potência instalada. Em termos futuros, e também no âmbito do Programa ZERO, prevê-se a instalação de mais algumas centrais fotovoltaicas, destacando-se a associada à futura Dessalinizadora, com uma potência total instalada prevista de 5,65 MWp.
Qual é o atual estado da arte do setor da água no Algarve? E em comparação com as restantes regiões do país?
Temos um Sistema Multimunicipal de água e de saneamento que abrange 99.9% da região algarvia, com um serviço de excelência. Estando a trabalhar na melhoria do sistema para enfrentar os desafios que a seca nos impõe.
A Águas do Algarve tem sido propulsora de investimentos inovadores no país, como é o caso do fornecimento da Água Reutilizada há vários anos ao campo de Golfe dos Salgados em Albufeira, na Quinta do Lago na rega de jardins e no campo de Golf de São Lourenço e em Castro Marim, também em dois campos de Golfes. No tratamento da Água Residual, a ETAR de Faro Olhão com tecnologia “NEREDA” (2018) é outro exemplo de inovação e excelência.
No tratamento de Água, a Flotação da ETA de Alcantarilha (2021), além de aumentar a capacidade de tratamento de água, aumentou a eficiência da empresa e neste momento estamos a desenvolver o projeto da primeira Dessalinizadora do País. Diria que a Águas do Algarve está na “vanguarda” no setor da água.
Os municípios têm um papel fundamental na promoção da acessibilidade à água. Como tem sido desempenhado este papel no Algarve?
Este é um momento da maior importância para os municípios/ entidades gestoras dos sistemas em baixa. Além da promoção da acessibilidade à água, é necessário trabalharem no combate às perdas, controlarem a pressão dos seus sistemas e promoverem o uso parcimonioso da água.
A água é um bem precioso que tem de ser tratado com o maior respeito e responsabilidade.
A Águas do Algarve tem sabido acompanhar os avanços que se registam na tecnologia e na digitalização?
Sim, ao longo da entrevista, temos vindo a apontar alguns desses exemplos.
O desenvolvimento tecnológico e a digitalização fazem parte da estratégia de negócio e da atuação da Águas do Algarve. Desenvolver soluções integradas de forma sustentada no abastecimento de água e no tratamento de águas residuais que respondam aos desafios de desenvolvimento da região do algarve sempre estiveram na génese da empresa.
Para a Águas do Algarve a inovação tecnológica tem uma importância acrescida, pois da eficácia e eficiência dos nossos sistemas e processos de tratamento, resulta também uma melhoria ambiental a vários níveis, quer na qualidade e quantidade de água para o abastecimento público, quer no tratamento das águas residuais nas nossas ETAR’S, que contribuem para a qualidade da água nos efluentes, nomeadamente, nos ecossistemas e na qualidade da água do mar das praias de excelência do Algarve.
Ao nível de perdas de água, qual tem sido a resposta da Águas do Algarve?
Podemos afirmar que o sistema em Alta que constitui a Águas do Algarve não têm perdas, entre 1 a 2 %, que resultam essencialmente da lavagem dos filtros das nossa ETA’s (Estações de Tratamento de Água).
Se conseguisse avançar até 2050, como gostaria que estivesse o setor da Água no Algarve?
É de todo desejável chegar a 2050 com maior resiliência e robustez dos sistemas, garantindo a capacidade de abastecimento público durante vários anos para ultrapassarmos os desafios que as alterações climáticas nos impõem. Além do investimento que está a ser desenvolvido para garantirmos novas massas de água, será imperioso conseguirmos reutilizar toda a água residual tratada, produzida nas nossas ETAR’S.
Por outro lado, para garantir a sustentabilidade e a segurança hídrica para as gerações futuras, é imperativo, paralelamente, aumentar a consciência ambiental entre a população. Na nossa região algarvia, estamos a dedicar esforços significativos à área da sensibilização, para a importância da conservação da água e da proteção dos ecossistemas aquáticos. Através do nosso Projeto de Educação Ambiental – Desafio da Água com um vasto e minucioso programa escolar, Campanhas de Sensibilização – Água é Vida, workshops, desenvolvimento projetos com IPSS, ONGAs, ações de rua, (…) estamos a capacitar a população para a adoção de práticas sustentáveis no seu dia-a-dia, sendo que cada ação individual desempenha um papel crucial na preservação dos nossos recursos hídricos. Para além disso, através de parcerias colaborativas com instituições académicas, empresas públicas e privadas, estamos a impulsionar a investigação e a implementação de soluções sustentáveis para os desafios hídricos emergentes. No entanto, a conscientização ambiental não se limita apenas às ações individuais e às inovações tecnológicas. É também sobre a defesa de políticas públicas que promovam a proteção dos recursos hídricos e a mitigação das alterações climáticas em níveis local, nacional e global. Juntos, podemos pressionar por medidas que garantam a gestão equitativa e sustentável da água para todos. À medida que enfrentamos os desafios do século XXI, a conscientização ambiental emerge como uma ferramenta poderosa na luta pela preservação dos nossos recursos hídricos.
Por Inês Gromicho, publicado na edição 104 da Ambiente Magazine.