Uma nova análise das 100 maiores Áreas Marinhas Protegidas (AMP) do mundo, agora publicada na Conservation Letters, sugere que os governos estão a falhar na concretização da promessa de proteção eficaz da biodiversidade, devido à lenta implementação de estratégias de gestão e à falha em restringir as atividades mais impactantes.
O estudo foi conduzido por uma equipa internacional de investigadores (liderada pelo Marine Conservation Institute), entre eles Emanuel Gonçalves, Professor do ISPA – Instituto Universitário e investigador do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente.
A análise revelou que apenas um terço da área designada dentro destas AMP fornece um nível de proteção que poderá resultar em benefícios significativos para a conservação. Mais de um terço da área dentro destas AMP permite atividades industriais ou outras atividades altamente impactantes, como a pesca comercial em larga escala, que são a principal causa da perda de biodiversidade nos oceanos e incompatíveis com as próprias AMP. A maioria das grandes áreas, totalmente e altamente protegidas, está em territórios ultramarinos isolados, como os designados pelo Reino Unido e pelos EUA.
Os resultados indicam que os métodos atuais de reporte e acompanhamento sobrestimam a quantidade e qualidade da proteção marinha. A análise destaca ainda a necessidade de garantir que as AMP sejam implementadas e geridas de forma eficaz, e que se estendam por todos os ecossistemas marinhos. A pesquisa levanta questões sobre a eficácia dos esforços de conservação atuais em alcançar os objetivos declarados de proteção marinha.
Emanuel Gonçalves enfatiza a necessidade de trazer padrões internacionais para implementar redes de AMP com a escala, velocidade e impacto necessários para proteger o que resta e recuperar o que perdemos devido à sobre-exploração e outros impactos no oceano. “Este artigo mostra que uma grande proporção da área que deveria estar protegida no oceano ainda está, na verdade, aberta a algumas das atividades mais impactantes e/ou não reguladas nem implementadas. Apesar dos avanços nos compromissos e intenções, a proteção real e eficaz do oceano ainda está muito aquém do que esses compromissos exigem. Isso significa que precisamos corrigir o que existe e também que precisamos fazer diferente no futuro, nomeadamente trazendo os padrões internacionais da UICN e do Guia das AMP para implementar redes de áreas marinhas protegidas com a escala, velocidade e impacto necessários para proteger o que resta e recuperar o que perdemos devido à sobre-exploração e outros impactos no oceano”, garante.