A sustentabilidade e o turismo estiveram em debate na 3.ª edição da Conferência Smart and Green Tourism, uma iniciativa da Ambitur e da Ambiente Magazine, em parceria com a Fundação AIP, que teve lugar no dia 1 de março, no âmbito da Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL).
No primeiro painel desta conferência, dedicado ao tema “E-Hotelaria no caminho da sustentabilidade”, o moderador, Gonçalo Rebelo de Almeida, consultor em hotelaria e turismo, esteve à conversa com quatro convidados que falaram da sua experiência no que diz respeito à questão da sustentabilidade no setor hoteleiro. Pedro Azeitona, diretor de Qualidade e Ambiente da Vila Galé Hotéis, não podia deixar de estar presente neste debate já que a Vila Galé está praticamente desde a primeira hora a acompanhar o Programa Empresas Turismo 360º numa lógica de ganhar um apoio para um processo interno que já decorria há cerca de um ano e meio. Assim, e no início de 2022, o grupo hoteleiro aderiu ao projeto do Turismo de Portugal e não está nada arrependido pois tratar de todo o processo de reporte a nível da sustentabilidade sem qualquer apoio é “moroso e complicado”. Ou seja, o orador não tem dúvidas de que o programa veio facilitar a vida às empresas aderentes, que sabem assim “o que reportar e como reportar”.
com o programa “temos uma matriz de materialidade que nos indica todos os riscos sociais, todos os objetivos para podermos fazer um roadmap do que é a sustentabilidade das empresas do setor
Além disso, Pedro Azeitona recorda que são muitas as vantagens de estar dentro do Programa Empresas Turismo 360º, desde logo começando pelo facto de haver indicadores de ESG totalmente definidos para o setor e de existir “uma equipa de apoio disponível a toda a hora e sempre pronta a ouvir oportunidades de melhoria que consideramos importantes para a ferramenta”. Por outro lado, diz o responsável do grupo hoteleiro português, com o programa “temos uma matriz de materialidade que nos indica todos os riscos sociais, todos os objetivos para podermos fazer um roadmap do que é a sustentabilidade das empresas do setor” e, posteriormente, adianta, “obter um ranking ESG que vai ser muito importante a curto prazo para, por exemplo, o recurso a apoios financeiros e a crédito mais barato”.
no caso da Vila Galé, havia muita coisa que estava já implementada mas também existia “a necessidade de organizar, de sistematizar e de reportar o que estava a ser feito”
Pedro Azeitona defende que as empresas têm de olhar para o relatório de sustentabilidade não como uma obrigatoriedade de reporte mas como algo “que nós já fazemos bem, a nível de medidas, em todas as áreas, dentro das nossas empresas”. E recorda que, no caso da Vila Galé, havia muita coisa que estava já implementada mas também existia “a necessidade de organizar, de sistematizar e de reportar o que estava a ser feito”.
Até porque a Vila Galé, sublinha o orador, foi sempre muito focada na questão da sustentabilidade. Neste momento, está mesmo com um projeto num município do Alentejo para a separação de resíduos orgânicos, “um desafio grande que temos pela frente, nomeadamente, nos grandes produtores”, explica. Um processo que também vai ajudar o grupo noutro ponto fundamental, o desperdício alimentar, algo que “tem de começar a ser falado nos dias de hoje”, aponta. Por outro lado, além de medidas que considera mais banais como a redução dos consumos de água, a Vila Galé também tem já instaladas, em algumas unidades, sobretudo no interior do país, centrais de osmose que conseguem praticamente durante todo o ano não recorrer à rede pública de abastecimento de água. Além disso, a cadeia hoteleira está a estudar a instalação de uma dessalinizadora no Algarve. E, entre outras medidas que procura levar a cabo, investiu nos últimos anos na troca da frota de automóveis a combustão por automóveis elétricos ou híbridos. “Todo este conjunto de medidas ambientais traduzem-se num conjunto de certificações ambientais”, sublinha Pedro Azeitona, lembrando que o Vila Galé Albacora, por exemplo, um eco-hotel, conta com o certificado internacional TÜV.
Mas também a nível social a Vila Galé aposta em força, apoiando mais de 60 instituições. No ano passado, o grupo investiu mais de 240 mil euros na comunidade local e doou mais de 43 mil refeições, bem como participou em diversas iniciativas que juntaram os colaboradores e a comunidade local, como limpeza das praias ou pintura de escolas.
Por fim, e como ESG não é apenas as componentes ambiental e social, a Vila Galé também se mostra muito focada na governance e isso, explica o orador, passa por “olhar muito para o nosso cliente interno, através de benefícios, ações”, contando mesmo com um Comité de Diversidade e Inclusão que tem vindo a crescer. Conseguiu dar um passo muito importante com a Academia de Formação, que está hoje certificada e, neste momento, ministra mais de 40 mil horas anuais aos colaboradores.
Pedro Azeitona admite que um dos maiores desafios da sustentabilidade passa por as empresas perceberem que se trata de uma criação de valor, e que o investimento que têm de fazer “não é assim tão grande”. Outro desafio é continuar a “manter a proximidade junto de quem nos visita porque não podemos abandonar a parte formativa e informativa, quer seja o nosso cliente externo, mas sobretudo o interno, que é quem consegue dar mais inputs de quem nos visita e quem consegue ir dando pequenos passos para depois atingirmos as grandes metas que temos nos relatórios”.
O orador não hesita em afirmar que a sustentabilidade “é um processo contínuo e de resiliência, que tem de envolver toda a comunidade, fornecedores, clientes, porque é deles que as empresas são feitas, e é de todos nós que a sustentabilidade depende”.
Por Inês Gromicho. Fotos @Raquel Wise.