A gestão operacional das instalações de tratamento de águas residuais bem como a qualidade das massas de água debate-se com um problema crítico, o das afluências industriais indevidas, traduzindo-se no encaminhamento de águas residuais industriais sem os devidos pré-tratamentos às redes de saneamento municipais e Fábricas de Água da Águas do Tejo Atlântico.
Este problema complexo, que tem impactos sociais, económicos e ambientais nas bacias hidrográficas do Rio Tejo e das Ribeiras do Oeste e na região, exige uma resposta urgente e concertada de várias entidades, desde logo a Águas do Tejo Atlântico e as indústrias, mas também os municípios e as entidades gestoras dos respetivos sistemas municipais para minimizar conflitos e riscos, estabelecer parcerias locais que salvaguardem os diferentes interesses e encontrar uma solução robusta e duradoura.
É neste contexto que surge o AgIR – Plano de Ação para a Gestão de Águas Industriais Residuais da Grande Lisboa e Oeste, aprovado pela RCM n.º 204/2021, de 31 de dezembro e com o financiamento de 4,4 milhões de euros do Fundo Ambiental, a executar entre 2022 e 2026 nos 23 municípios da Grande Lisboa e Oeste.
Com uma equipa dedicada e altamente especializada, constituída por seis engenheiros de diversas especialidades, com formação e experiência nos tratamentos de águas residuais e nos processos produtivos industriais, e três operadores, a Equipa Técnica AgIR, supervisionada pelas Águas do Tejo Atlântico implementa o plano e é responsável pelo aconselhamento técnico às Indústrias para a adoção ou melhoria das soluções de pré-tratamento existentes e sua operação e manutenção. Paralelamente, esta equipa promove soluções circulares com desempenho ambiental acrescido, nomeadamente com vista à redução de consumos de água e energia, à maximização da recuperação de subprodutos do processo produtivo ou alteração de práticas de produção ou de matérias-primas utilizadas e à redução da produção de resíduos.
As indústrias são todas muito diferentes no que respeita a sua tipologia, dimensão, complexidade dos processos produtivos, fase de desenvolvimento e capacidade de adoção de medidas de desempenho ambiental, pelo que a atuação AgIR tem de ser diferenciada e adaptada à realidade de cada uma.
Se, numa primeira abordagem, são propostas medidas de fácil implementação no processo produtivo, que não acarretem custos e que a sua execução se reflita numa melhoria muito significativa da qualidade dos efluentes gerados, a crescente complexidade, abrangência e especificidade dos seus problemas exigem soluções “à medida”. Assim, as soluções técnicas propostas a cada indústria são o resultado do estudo técnico detalhado, recolha de dados, campanhas analíticas e de medição de caudal e da partilha de conhecimento e experiências. O próprio conhecimento técnico acumulado ao longo do projeto é essencial para encontrarmos as respostas mais adequadas.
Além disso, a nossa visão global e estratégica das indústrias integradas no território permite-nos propor medidas de circularidade não só na própria indústria, mas também entre as várias entidades e agentes envolvidos, potenciando sinergias para a implementação de soluções win-win.
A execução do AgIR e o cumprimento dos seus objetivos nos prazos estabelecidos apresentam um enorme desafio, tendo em conta o universo de municípios e indústrias com os quais se iniciou um trabalho de proximidade e de atuação conjunta. À data, e cumprindo o planeamento definido, os trabalhos já arrancaram em 12 municípios, nos quais foram cadastradas 1092 indústrias, 121 das quais categorizadas como prioritárias. Destas, 98 já foram visitadas e sujeitas a avaliação técnica.
Começam a surgir os primeiros casos de sucesso, onde a implementação de medidas foi efetiva e contribuiu para a melhoria muito significativa da descarga do efluente industrial produzido. Um desses casos decorre do trabalho conjunto entre Águas do Tejo Atlântico, os SMAS de Torres Vedras e a indústria CAMPOTEC S.A. O desenvolvimento deste trabalho de proximidade revelou-se consequente e bem-sucedido com resultados diretos no funcionamento da Fábrica de Água de Santa Cruz que recebe os seus efluentes, quer no que respeita a qualidade do efluente final descarregado no meio recetor como na redução dos custos operacionais com os reagentes, lamas, energia.
O AgIR é um projeto estratégico para a Águas do Tejo Atlântico, com elevado impacto no desempenho operacional da empresa. Pelo seu carácter inovador, pretende-se também que constitua uma referência para o setor e para o desenvolvimento económico e ambiental das regiões que o sistema multimunicipal serve, com potencial de replicação quer a nível nacional quer internacional.
A Águas do Tejo Atlântico é a entidade gestora do sistema multimunicipal de saneamento de águas residuais da Grande Lisboa e Oeste, que serve cerca de 2,3 milhões de habitantes equivalentes em 23 municípios: Alcobaça, Alenquer, Amadora, Arruda dos Vinhos, Azambuja, Bombarral, Cadaval, Caldas da Rainha, Cascais, Lisboa, Loures, Lourinhã, Mafra, Nazaré, Óbidos, Odivelas, Oeiras, Peniche, Rio Maior, Sintra, Sobral de Monte Agraço, Torres Vedras e Vila Franca de Xira.