Um dos últimos relatórios das Nações Unidas (ONU) prevê que, no pressuposto que todos os países cumpram as suas metas do Acordo de Paris, o planeta vai na mesma atingir uma temperatura média global de 2,5ºC a 2,9ºC até ao final do século – bem acima do estipulado no acordo, onde se pretende limitar este número a 1,5ºC até 2050.
Mas a realidade é que o mundo já está a 1,2ºC, alertou Jorge Moreira da Silva, subsecretário-geral da ONU e responsável da UNOPS, que participou no ENEG 2023 (Encontro Nacional de Entidades Gestoras de Águas e Saneamento).
De forma clara, frisou que “Paris não cumpre Paris” e que o problema começou exatamente no momento em que cada país estabeleceu as suas próprias metas para atingir o objetivo. Todavia, as realidades são diferentes e sem as condições certas e uma estreita colaboração, a neutralidade carbónica em 2050 “só é possível se houver ambição enorme em 2030”.
”Estamos fora de pista”, sendo que, na atualidade, é preciso duas vezes mais financiamento e acabar com os subsídios à produção fóssil, relembrou o subscretário-geral das Nações Unidas, que espera que a COP28, a realizar no Dubai, seja o momento para estabelecer novas metas.
“Colapsar ou avançar”
Até ao momento, apenas 15% das metas dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) estão cumpridas ou em boa execução, sendo que 30% estão em retrocesso.
E no caso do ODS 6, o da Água, o mesmo tem um “efeito multiplicador”, afirma Jorge Moreira da Silva, exatamente por influenciar os restantes ODS, como por exemplo o da saúde. Mas, agora, os “dados são muito negativos”, visto que 2,2 mil milhões de pessoas não têm acesso a água segura e mil milhões de pessoas estão a viver em situação de pressão hídrica, prevendo-se que outras 340 milhões possam entrar nesta contagem.
Posto isto, é preciso seis vezes mais velocidade no acesso à água, cinco vezes mais velocidade no acesso ao saneamento e três vezes mais no acesso à higiene básica, além de mais financiamento e mais capacitação técnica, relembrou o responsável da UNOPS.
O ENEG 2023 decorre de 27 a 30 de novembro, no Multiusos de Gondomar, com área de exposição, mesas-redondas e vários momentos de comunicação sobre a atualidade e os desafios do setor das águas e do saneamento.
No setor da água e do saneamento “ficam esquecidos os fundos”