Desde a semana passada que é possível acompanhar em tempo real um ninho de cagarras da ilha da Berlenga em www.berlengas.eu/ninho-ao-vivo. A equipa do Life Berlengas colocou uma câmara que transmite em direto para a Internet o dia a dia desta família dentro do seu ninho.
O ovo foi posto no início de junho e esteve a ser incubado pelos progenitores, tendo a cria eclodido no dia 19 de julho. Nos próximos dias será possível observar os progenitores a revezarem-se na alimentação à cria. É durante o início da noite que o ninho apresenta maior atividade, podendo ser observadas as diversas interações desta família de cagarras. A cria será alimentada até outubro, altura em que também deixará o ninho e tornar-se-á autónoma.
Geralmente as cagarras nidificam em cavidades debaixo do solo, com pouca luminosidade, onde põem e incubam o seu único ovo. Mas por sorte, os suaves raios de sol que entram neste ninho são suficientes para permitir uma imagem a cores entre as 15h e as 17h de cada dia. Durante o restante período de tempo, as imagens serão maioritariamente a preto e branco.
As cagarras são aves de grande longevidade que deverão viver muito para além dos 30 anos de idade. O nosso casal tem sido seguido anualmente ao longo dos últimos anos. A fêmea tem pelo menos 18 anos, pois foi anilhada em 2007 quando já alimentava a sua cria. Já o macho parece ser mais jovem, estimando-se uma idade de pelo menos 11 anos.
As Berlengas são o único local no continente onde esta espécie nidifica, apesar de poderem ser observadas em toda a costa continental. A população foi estimada em cerca de 1000 casais em 2011. Desde a década de 1980 tem-se registado um aumento de cerca de 10% ao ano da população reprodutora nas Berlengas, como resultado de medidas de conservação, em grande parte implementadas pela SPEA.
A cagarra é uma ave marinha, essencialmente pelágica, que tolera ventos fortes e águas agitadas, passando a maioria da sua vida no mar aberto, só vindo a terra na altura da reprodução. Nidifica em fendas rochosas de falésias e no solo, em cavidades naturais ou em buracos escavados.
De acordo com Joana Andrade, Coordenadora do Life Berlengas, “esta iniciativa vai certamente aproximar uma ave pouco conhecida das pessoas, dando a conhecer os tão peculiares hábitos de reprodução desta ave marinha, e acompanhando o crescimento e desenvolvimento da única cria deste casal que faz da Berlenga o seu lar”.
O Life Berlengas é um projeto coordenado pela SPEA, em parceria com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), a Câmara Municipal de Peniche, a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, tendo ainda a ESTM do Instituto Politécnico de Leiria como observador.
O projeto, que teve início a 1 de junho de 2014, será implementado até 30 de setembro de 2018 e tem um investimento total orçamentado em cerca de 1,4 milhões de euros com o co- financiamento do Programa LIFE+ da União Europeia.