Pelo 26.º ano consecutivo milhares de pessoas monitorizaram o estado da costa nacional através do programa de educação ambiental Coastwatch, da associação GEOTA. As conclusões da campanha 2015/2016, agora apresentadas, merecem reflexão: muito lixo, erosão e pressão urbanística foram os principais problemas identificados.
Entre outubro de 2015 e maio passado, mais de três milhares de pessoas percorreram o litoral nacional para perceber o seu estado. Participaram 320 cidadãos a título individual e muitos estudantes: cerca de 2500, do 1º ciclo do ensino básico ao secundário, vindos de 50 escolas e acompanhados por 250 professores de diferentes áreas disciplinares. Estes voluntários tinham para analisar uma determinada área (500 m) e todos juntos conseguiram passar a pente fino 10% do território costeiro português. As conclusões voltam a fazer soar alarmes.
Terminado o período de férias, onde as limpezas dos areais são regulares, se inauguram novas obras em zonas balneares e há maior vigilância, a realidade não é o que parece. As praias portuguesas estão cheias de lixo. Os resíduos contabilizados estão na ordem dos milhares, sobretudo plásticos, mas há também novos produtos como cápsulas de café e tinteiros de impressoras. Juntam-se às típicas cordas, fios, redes, baldes, esferovites, artes provenientes da pesca e hastes de cotonete, em constante degradação, até se transformarem em microplásticos. Os areais portugueses estão, cada vez mais, repletos destas minúsculas partículas coloridas.
À semelhança de anos anteriores, as equipas de Coastwatchers, continuam a destacar a erosão costeira como o facto mais preocupante. A pressão turística e a consequente impermeabilização dos solos, devido a construções, são os dois fatores seguintes destacados como negativos.
Teresa Lemos, coordenadora nacional do projeto Coastwatch, do GEOTA, destaca o importante papel das escolas: “Formar pessoas civicamente ativas e com espírito critico é essencial para a preservação do território e do ambiente. Todos os anos introduzimos inovações na forma de reportar a realidade. É cada vez mais fácil fazê-lo através de novas soluções tecnológicas e isso incentiva a participação dos mais jovens, dos seus familiares e das comunidades. Quando participam ficam a conhecer melhor o litoral e tornam-se seus guardiões”.
É no outono e inverno que a costa mais se altera. De ano para ano, tem havido processos violentos de destruição: praias sem areia, inundações repentinas, aluimentos constantes, etc. Quais as causas? E as consequências? Quais os impactes de grandes obras nos nossos rios, como as barragens? Como lidaremos com os desafios da gestão dos recursos marinhos? Porque há tanto resíduos nas praias?
Entre ontem (7 de julho) e hoje (8 de julho) os resultados nacionais são apresentados e debatidos no seminário nacional GEOTA – Coastwatch/Rios Livres 2016 “Vamos Devolver os Rios às Praias”, que junta professores, associações cívicas e peritos nos vários temas em reflexão: da erosão costeira, ocupação e ordenamento do litoral aos impactes ambientais e socioeconómicos das barragens, passando pela gestão de recursos hídricos e bacias hidrográficas ou à problemática do lixo marinho. O evento decorre no Parque Biológico de Gaia, junto ao estuário do Douro e à faixa do litoral que mais sofre de fenómenos de erosão costeira em Portugal continental.
“Se o inútil Programa Nacional de Barragens, cujas obras se encontram previstas para a Bacia do rio Douro, for concluído a situação agravar-se-à ainda mais. As barragens impedem as areias de chegar ao mar e de recarregar as praias. Se fazemos barragens os sedimentos deixam de chegar onde deviam. Perdemos assim uma linha natural de defesa, gratuita, ainda por cima. Estamos em Gaia porque precisamos de mais cidadãos e cidadãs a cuidar do litoral nortenho, já há demasiado betão no Douro e nos seus afluentes. Basta de artificialização dos nossos rios”, defende Marlene Marques, presidente do GEOTA.