Ainda são muito poucas as empresas que despertaram para o tema da sustentabilidade. Esta é uma das conclusões que Inês Costa, especialista em ESG na Deloitte, quis realçar de um inquérito internacional feito a dois mil líderes empresariais. Os resultados do inquérito promovido Deloitte, relativos a 2023, mostram que a visão do CEO’s está muito centrada no “carbono e nas alterações climáticas”, algo que a antiga secretária de Estado do Ambiente lamenta, justificando que o “carvão e as alterações climáticas são, apenas, um dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável)”, e deixando para “segundo plano outros fatores que representam tanto ou mais riscos” para o negócios: “É importante não perder esta visão sistémica sobre o tema”.
Inês Costa, que foi uma das oradoras do segundo painel “Financiamento verde, climático e sustentável” da conferência “Smart and Green Tourism II”, promovida pela Ambitur, juntamente com a Ambiente Magazine, no âmbito da BTL – Bolsa de Turismo de Lisboa, destacou ainda que a “escassez dos recursos e o acesso às matérias-primas” são dos riscos que os gestores mais falam: “As estratégias, num primeiro momento, deveriam estar orientadas para áreas como a economia circular, no sentido de minimizar tais riscos”.
Algo que também parece contraditório é o facto de “80% dos líderes afirmarem que sentem as alterações climáticas”, mas quando lhes perguntam sobre se as suas empresas têm algum compromisso com o tema da sustentabilidade, apenas 30% responde que sim. Isso significa que os mesmos gestores e líderes que dizem que sentem as alterações climáticas e as questões de sustentabilidade como um dos principais riscos são os mesmos que afirmam que não existe compromisso por parte das organizações com o assunto: “Há um desfasamento muito grande entre o ter perceção e sentir o risco e os efeitos dessa não atuação no seu modelo de negócio e aquilo que efetivamente as empresas estão a fazer no terreno”. Este é um “gap” que Inês Costa considera urgente fechar: “Temos um pipeline regulatório ambicioso para as empresas e não é só para as grandes. Estamos a falar de um aumento de 11 mil empresas a nível europeu (atualmente) que teriam que responder as esta exigência para passar a ser 50 mil, ou seja, são cerca de mil organizações em Portugal que terão de responder a esta necessidade”. Na prática, isto significa que as empresas deixam de integrar as suas ações sustentáveis nos relatórios de sustentabilidade, passando a ser obrigadas a reportar no regulatório de contas: “Isto representa uma necessidade de as empresas reverem a sua visão estratégica relativamente a estes domínios e tomarem as rédeas daquilo que as pode influenciar”, alerta.
A “falta de conhecimento e consciência dos líderes empresariais” é preocupante: “Assusta-me ver, ao longo da minha carreira profissional, seja do lado público, seja do lado privado, esta posição de «estar à espera da folha do excel» ou de que «isso vai demorar dois anos a acontecer»”. Com isto, a antiga secretária de Estado do Ambiente não quis deixar de fazer um apelo a todos líderes para “estarem atentos e se informar”, até porque “o que aí vem exige preparação e não se faz em dois meses: exige formação e é mesmo preciso fazer esse caminho para estarem prontos para responder”.
Em jeito de conclusão, Inês Costa partilha mais um resultado preocupante de um inquérito da Circular Economy que concluiu que “Se a CSRD (Corporate Sustainability Reporting Directive) fosse hoje exigida às empresas, menos de 5% teriam capacidade de responder e isto é trágico!”.
Além de Inês Costa, Filipa Saldanha, diretora de Sustentabilidade do Crédito Agrícola, Pedro Teixeira, diretor de Sustentabilidade do NEYA Hotels, e João Meneses, secretário-geral do BCSD Portugal, foram oradores neste painel moderado por Sofia Santos, fundadora da Systemic.
📸 ©Raquel Wise