“O turismo está na ordem do dia, por boas e más razões”, considerou Pedro Teixeira, diretor de Sustentabilidade do grupo NEYA Hotels, no segundo painel da conferência “Smart and Green Tourism II”, “Financiamento verde, climático e sustentável”, organizada pela Ambitur e a Ambiente Magazine, no passado dia 3 de março, durante a BTL – Bolsa de Turismo de Lisboa.
Importa considerar as razões más, elencadas pelo responsável, que produzem impactos ambientais, sociais e económicos negativos, em edifícios que têm um nível elevado de consumo. Este foi o ponto de partida para desenvolver as estratégias do ponto de vista da hotelaria para “minimizar os impactos ambientais do alojamento”.
Esta necessidade acresce em “hotéis totalmente urbanos”, como é o caso do grupo NEYA Hotels. Como refere Pedro Teixeira, “são os edifícios nas cidades que são os maiores consumidores de energia, água, produção de resíduos, questões de mobilidade, emissões de CO2, etc.” Por isso é necessário “atacar” diretamente nestas vertentes.
Projetar edifícios sustentáveis desde o zero é fundamental, mas “a questão da arquitetura ainda é um desafio”, considera o responsável da Sustentabilidade no grupo NEYA Hotels, que salienta o “passo gigante” que é começar pelo princípio com um hotel sustentável.
“Todas as questões de arquitetura são difíceis de executar”, explica Pedro Teixeira. Dimensionar e projetar um edifício sustentável requer uma orientação, questões técnicas, práticas e financeiras, e também uma mentalidade acrescidas, que muitas vezes põe em luta “o dono da obra, o arquiteto e o projetista”.
Pedro Teixeira dá o exemplo prático do segundo hotel do grupo NEYA, no Porto, que sofreu várias cedências até chegar ao resultado final: “ficaram algumas, mas não todas as que idealizávamos”, assume o responsável. Ainda assim, vê com bons olhos a consciencialização para as questões da sustentabilidade, bem como o avanço das tecnologias, que permitiram ao longo dos anos reverter algumas dificuldades.
Mas se a questão da arquitetura ainda é um tema complexo, “hoje em dia a gestão do edifício já é mais alcançável”. Pedro Teixeira refere-se ao conteúdo do edifício, tecnologia de controlo, reaproveitamento e mitigação do desperdício, nomeadamente através dos fatores mencionadas de energia, água, resíduos, mobilidade e emissões de CO2.
Quando às emissões de CO2, destaca-se a neutralidade carbónica, que consiste na compensação das emissões através de ações que equilibrem a quantidade de emissões produzidas. Em primeiro lugar, importa prevenir, reduzindo despesas. Mas, quando a prevenção não é suficiente, é necessário remediar.
Segundo esclarece Pedro Teixeira, os NEYA Hotels são certificados com o selo Carbono Zero®, pela Sociedade Ponto Verde. O que esta entidade faz é “calcular as emissões de carbono dos hotéis e compensar as ações pelas toneladas de CO2 produzidas”.
No caso dos NEYA Hotels, a compensação é feita através de áreas atribuídas por acordos da Sociedade Ponto Verde para manutenção ou reflorestação de zonas verdes, que ficam à responsabilidade do grupo hoteleiro durante 30 anos, “com uma compensação equivalente à produção de CO2 pelo grupo”, esclarece o responsável. Esta atribuição é paga: “é dos custos mais elevados que temos na nossa gestão, mas é um desígnio”, fez notar Pedro Teixeira.
Sobre comunicar a informação acerca das práticas sustentáveis, em destaque durante a segunda metade do painel, Pedro Teixeira só vê vantagens. A cadeira NEYA Hotels não é obrigada a comunicar este tipo de informação, por ser uma PME, mas “está envolvida em diversos objetivos de ‘reports’ em ESG”.
É um “desígnio voluntário” que Pedro Teixeira considera não ter as vantagens suficientes. “Nós realmente temos custos com isto”, custos acrescidos pela preocupação ambiental que, embora tenham benefícios fiscais, através de apoios e programas específicos, não são suficientes. Para o responsável, falta mais acessibilidade nas taxas, nos financiamentos, “mais incentivos e comunicação sobre esses incentivos”.
“Deveria haver mais apoios e vantagens para quem quer ser mais sustentável.”
Esta comunicação é, aliás, fundamental noutra perspetiva. Pedro Teixeira queixou-se da dificuldade em comunicar com outros grupos hoteleiros no sentido de “partilhar dados de sustentabilidade”. Estes dados, que para muitos podem ser vistos como uma competitividade maliciosa, serviriam meramente para perceber as relações de eficiência e compará-las com as dos outros.
“Hoje em dia há muita informação”, por isso Pedro Teixeira considera que o problema é “a falta de vontade”, mascarada numa aparente dificuldade que não deveria ser vista senão como um investimento – para as empresas e para o ambiente.
Para além de Pedro Teixeira, participaram neste painel Filipa Saldanha, diretora de Sustentabilidade do Crédito Agrícola, Inês Costa, antiga secretária de Estado do Ambiente e especialista em áreas de ESG na Deloitte, e João Meneses, secretário-geral do BCSD Portugal.
A Bolsa de Turismo de Lisboa realizou-se entre os dias 1 e 5 de março na FIL – Feira Internacional de Lisboa.
Por: Redação da Ambiente Magazine, na BTL.
©Raquel Wise
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