Ajudar a encontrar soluções sustentáveis para empresas do setor agroindustrial é o grande foco do Projeto S4Agro. Além de acelerar o desenvolvimento de novas soluções ao nível do plástico das embalagens, o projeto impulsiona outros projetos como a digitalização da indústria, a redução de desperdício, a eficiência produtiva ou a economia circular.
À Ambiente Magazine, Pedro Dinis, da Universidade da Beira Interior e responsável pelo S4Agro, afirma que o projeto visa essencialmente qualificar as PME (Pequenas Médias Empresas) do setor agroindustrial, nomeadamente as da fileira dos “produtos cárneos, hortofrutícolas, lácteos e de padaria/pastelaria”, para a “adoção de soluções inovadoras e sustentáveis” que permitam “aumentar a sua produtividade, eficácia e eficiência ao nível da indústria 4.0 e economia circular”. Para tal, o projeto realizou um benckmarking internacional para “identificação das tecnologias mais eficazes e eficientes, reuniu as boas práticas e fatores críticos para a aplicação de embalagens primárias, secundárias, ativas ou inteligentes na redução e valorização de desperdícios”, na “cibersegurança” e no “acesso a processos de capacitação para a introdução de inovação de base científica e tecnológica” adaptados a cada uma das fileiras.
Questionado sobre a necessidade do projeto, Pedro Dinis refere que a maioria das PME agroindustriais apresentam alguma “debilidade financeira” para, de forma “autónoma e individual, selecionarem e implementarem soluções inovadoras e à medida das suas necessidades” na área da economia circular. Por outro lado, o docente aponta a “existência de uma apetência para a introdução de inovação no domínio da indústria 4.0”, desde que com recurso a ferramentas de fácil utilização e com segurança: “Existem hoje novas oportunidades de negócio com o desenvolvimento de novos produtos para consumidores mais informados, conscientes da necessidade de produtos de qualidade associados à tradição e genuinidade, respeitando o ambiente, assim como uma forte dinâmica da procura internacional por produtos ambientalmente sustentáveis como instrumento facilitador da mudança no setor da produção industrial para adoção de práticas de ecodesign e ecoeficiência e redução e valorização de desperdícios”. Deste modo, “novos negócios na cadeia de valor do setor agroindustrial, no que diz respeito a embalagens ecológicas, inteligentes e sustentáveis (recicláveis e reutilizáveis), podem ser desenvolvidos”, precisa o responsável.
Soluções desenvolvias no âmbito do S4Agro
O decente explica que diferentes materiais são utilizados no fabrico de embalagens para produtos alimentares, sobretudo os plásticos, metais, vidro e celulose: “Cada material possui diferentes características para conservar o produto, entre as quais o aroma, luz, água, microrganismos e resistência mecânica”. No entanto, apesar das “diversas vantagens da sua utilização”, o seu uso gera um “grande volume de resíduos sólidos”, que estão associados ao impacto ambiental”. Para os reduzir, “começam a ser introduzidos processos de reutilização e reciclagem das embalagens”, bem como o “desenvolvimento de polímeros verdes e materiais biodegradáveis”. O negócio do setor agroindustrial tem, por isso, de estar alinhado com estes princípios: “uma alimentação saudável e ecologicamente sustentável”, afinca.
Num mundo em “crescimento demográfico” e num “contexto de alterações climáticas cada vez mais visíveis”, colocam-se grandes desafios ao futuro da alimentação, atenta Pedro Dinis, acrescentando que o projeto S4Agro identifica, para cada um dos setores alvo, soluções de substituição ou de redução da utilização de embalagem de plástico: “Pretende assim contribuir para uma mudança de atitude e de hábitos que permita uma efetiva redução na utilização de embalagens que promovam a extensão da vida útil dos produtos e, simultaneamente, apresentem elevado impacte ambiental”.
Assente nos pilares de Sustentabilidade ambiental, Salvaguarda de recursos, Segurança de processos e Sustentabilidade económica, o projeto S4AGRO quer, assim, “disseminar a produção e a transferência de conhecimento existente na rede de parceiros que constitui para o uso de informação e ferramentas capazes de induzir a inovação de base científica e tecnológica nas PME da fileira agroindustrial”. Estas soluções vão desde o “material, tipo e estrutura de embalagens” ao “diagnóstico e proposta no aproveitamento de desperdícios”, à “promoção da cibersegurança” e “introdução de inovação”, com vista à melhoria da eficiência produtiva e redução dos impactes ambientais das PMEs do setor agroindustrial, explicita.
Bons exemplos
No âmbito do projeto, foram desenvolvidos manuais de boas práticas para identificação de fatores críticos à implementação, de casos de estudo de aplicação de metodologias mais adequadas e de ferramentas computacionais expeditas de fácil utilização. Alguns exemplos práticos abordam a “mudança de atitude, decorrente da preocupação crescente com a sustentabilidade”, algo que é comprovado pela “disponibilidade dos consumidores para pagar mais por produtos responsáveis”. A título de exemplo, destacam-se as “cuvetes e caixas para diferentes produtos alimentares em material biodegradável e compostável” ou as “embalagens desenvolvidas a partir de papel de pedra, com elevada resistência e impermeável”. No caso da redução e valorização de desperdícios, destaca-se a “utilização de cascas de laranjas que, trituradas e às quais se incorpora um aditivo, são usadas em impressoras 3D para elaboração de embalagens compostáveis”, indica.
Os exemplos já aplicados são a prova de que o balanço deste projeto não poderia ser mais positivo: “As empresas reconhecem a relevância dos estudos desenvolvidos e a sua premente necessidade de atualização para continuarem competitivas e atuais neste setor cada vez mais exigente”. Ainda assim, Pedro Dinis considera que “é preciso ir mais longe e chegar a todas (as empresas) do setor agroindustrial”, até porque “muitas das soluções sustentáveis preconizadas pelo projeto são transversais ao setor”.
Para o curto e médio prazo, está prevista a disseminação dos resultados do projeto “Iremos desenvolver mais eventos de qualificação, específicos às temáticas do projeto”. Nesse sentido, “pretendemos que as PME que participem nos nossos eventos possam, com ou sem a colaboração dos parceiros do S4Agro, introduzir atividades de inovação no âmbito da embalagem sustentável, redução ou valorização de desperdício ou cibersegurança”, remata.