O Oceanário de Lisboa conseguiu recriar com sucesso o ciclo reprodutivo anual dos corais, que culminou na libertação de gâmetas de três espécies de corais tropicais provenientes da Austrália.
Num comunicado, o Oceanário recorda que os recifes de coral estão fortemente ameaçados e a sobrevivência futura de muitas espécies estará dependente do trabalho desenvolvido em ambiente controlado, por diversas instituições internacionais, comprometidas em contribuir para a preservação destes habitats tentado mitigar os efeitos das alterações climáticas.
Desde 1998 que o Oceanário faz reprodução assexuada de corais, replicando colónias a partir de fragmentos de coral, ou seja, novos corais geneticamente iguais às colónias de origem. Em 2021, iniciou o projeto de reprodução sexuada de corais, que se baseia na indução da maturação das gónadas e libertação dos gâmetas, através da simulação das variações sazonais de parâmetros ambientais como a temperatura, fotoperíodo e ciclo lunar, sendo um dos primeiros três aquários do mundo a fazê-lo. Em 2022 os ensaios incidiram em três espécies tropicais provenientes da Austrália: “Acropora tenuis e Acropora millepora, espécies mais estudadas internacionalmente e Goniastrea palauensis, espécie cuja reprodução nunca tinha sido induzida”, lê-se no mesmo comunicado.
A equipa conseguiu, até ao momento, induzir diferentes fases do processo reprodutivo: “a maturação das gónadas e a consequente libertação de gâmetas (oócitos e espermatozoides) das colónias de coral, e realizar a fertilização «in vitro», gerando larvas de coral e posterior assentamento e metamorfose, dando origem a pólipos primários – um novo coral”.
Esta técnica de reprodução, desenvolvida recentemente, permite a realização de estudos científicos que, anteriormente, dependiam totalmente da obtenção de gâmetas no meio natural. O Oceanário possui o conhecimento e a capacidade técnica para manter e reproduzir corais em ambiente controlado, uma vantagem que lhe permite colaborar com outras instituições científicas. Por agora, o objetivo é “aumentar o número de espécies possíveis de reproduzir em aquário e contribuir para a conservação dos corais”, através da “realização de estudos e ensaios científicos no Oceanário de Lisboa e da partilha de dados, aprendizagens e material biológico para ensaios noutras instituições nacionais e internacionais”, precisa o mesmo comunicado.
Estas técnicas complementam as já utilizadas em projetos de recuperação de recifes de coral e permitem a introdução de corais com maior variabilidade genética e maior resistência às alterações climáticas. Desta forma, o Oceanário pretende contribuir para a conservação futura dos corais na natureza, através do aumento do conhecimento do ciclo de vida das várias espécies e da cooperação com projetos dedicados à recuperação de recifes de coral.