A redução dos consumos hídricos enquanto desafio para os gestores de hotel serviu de tema para um seminário promovido na passada sexta-feira, 28 de outubro, pela ADHP – Associação dos Diretores de Hotéis de Portugal na DecorHotel 2022. O debate, moderado por Fernando Garrido, Presidente da ADHP, contou com Isabel Gonçalves, do Turismo de Portugal, Carlos Vigo, Maintenance and Risk Manager Director do InterContinental – Crowne Plaza Porto, e Carlos Alves, Diretor Regional de Operações do Grupo Vila Galé Hotéis, como oradores.
Partindo do contexto atual, onde a crise energética ocupa um lugar de destaque nas preocupações de toda a sociedade e o consequente aumento exponencial dos custos, Fernando Garrido começou por questionar o Turismo de Portugal se a conjuntura atual precipitou, de alguma forma, a implementação de medidas sustentáveis ao nível da hotelaria e no alcançar dos próprios compromissos explanados no Plano Turismo + Sustentável.
Quando o tema é “sustentabilidade”, aquilo que o Turismo de Portugal tem sentido é um crescente “envolvimento dos nossos parceiros”, no sentido em que “nos incentivam e nos dão força” para avançar nesse sentido: “Antes, era visível o nosso esforço de sensibilização, algo que, agora, são eles quem nos puxam nesse sentido”, afirma Isabel Gonçalves. Desta forma, é notória a “motivação” e o “avanço tecnológico”, até porque apresentam cada vez mais soluções novas: “Queremos perceber até que ponto é que podemos ser uma ajuda”. Tão importante, para a responsável, é a criação de um documento técnico que seja demonstrador das práticas implementadas pelo setor: “Seria um acréscimo ao Plano Turismo + Sustentável”. Com término em 2023, Isabel Gonçalves espera que todas as medidas sejam cumpridas e que sirvam de alavanca para o próximo plano 2024/2025: “Vamos fazer um upgrade com novas medidas”, afiança.
Nesta lógica de medidas, Carlos Vigo defende que a hotelaria aproveite o projeto “Aqua+ Hotéis”, lançado pela ADENE – Agência para a Energia e que permite a avaliação e classificação da eficiência hídrica dos empreendimentos turísticos e dos alojamentos locais em todas as suas fases de vida: “Sabemos que é um projeto de caráter voluntário e que tem um custo, mas é o próximo passo para demonstrar que somos consumidores, mas conscientes”. Para o responsável, é importante “sermos capazes de aferir aquilo que verdadeiramente consumimos”, sendo o “Aqua+ Hotéis” uma “excelente ferramenta” que vai permitir verificar que “o edifício A tem o comportamento hidrográfico X”, algo que é muito importante: “É preciso que cada um e que cada edifício conheça e saiba qual é a sua classificação hidrográfica”. Apesar de o contexto atual ser desafiante em matéria hídrica, Carlos Vigo assegura que a “hotelaria está motivada na busca de dar conforto aos clientes e hóspedes” de forma sustentável.
Por seu turno, Carlos Alves olha para a gestão hídrica como um problema antigo, destacando que a “relação com os vizinhos espanhóis, que controlam parte do nosso recurso, é ancestral e não é das melhores”, algo que também não ajuda: “O que mudou mesmo foi mesmo a perceção do problema porque ele já existia”. E, olhando pela lógica, o responsável considera que a “sustentabilidade” começou a ser “moda”, sendo que, a partir daí, tudo fluiu: “Todos estes temas têm de ser moda. Se não forem, as coisas não vão ser trabalhadas”, considera.
“Clean&Safe” é muito mais que um selo da Covid-19
Partindo destas ideias, Fernando Garrido afirma que a ADHP tem defendido, junto da Secretaria de Estado, a integração de medidas de sustentabilidade a nível económico, social e ambiental. Neste sentido, há medidas que certamente passarão a ser de carácter obrigatório. O presidente da ADHP aproveitou ainda o “bom exemplo” do selo “Clean&Safe” para sugerir uma “certificação” ao mesmo nível e que fosse “transversal a todas as unidades” e demonstradora, junto dos clientes, das práticas implementadas na hotelaria.
Já Isabel Gonçalves reitera o objetivo do Turismo de Portugal em “identificar o que são as práticas sustentáveis dos hotéis” e “incorporar [essas práticas] em ações de auditoria”, no sentido de se perceber o que é que cada unidade está a fazer: “Atualmente, as medidas são de caráter voluntário, mas que poderão ser obrigatórias”, reconhece. No que diz respeito ao “Clean&Safe”, a representante do Turismo de Portugal atenta na importância de se perceber que “não é apenas um selo da Covid-19”, mas sim um “canal de comunicação” que nasceu para dar respostas à pandemia e que, dentro do mesmo, foi congregado todo o setor: “É uma forma de comunicar com o setor em pouco tempo e que nós queremos dotar de mais competências, não ficando preso ao Covid”. A título de exemplo e neste momento de crise energética, o Turismo de Portugal pretende recorrer ao canal “Clean&Safe” para “fornecimento de informação” entre o setor, remata.
A DecorHotel 2022 decorreu entre os dias 27 e 29 de outubro, na Exponor, em Matosinhos. Nos três dias de evento marcaram presença cerca de 300 empresas expositoras e mais de 500 marcas.