O presidente da Câmara de Penamacor considerou hoje “favorável para o concelho” a revogação da portaria que interditava a caça na zona sul da Reserva Natural da Serra da Malcata (RNSM) e atribuiu as críticas ao “desconhecimento”. Em declarações à agência Lusa, António Luís Beites adiantou que além da revogação da portaria – decisão governamental de dia 8 – foi simultaneamente criada uma zona de caça na mesma área, que será gerida pelo município de Penamacor.
“Este é um processo que foi promovido pela Câmara de Penamacor, em colaboração com o Instituto de Conservação da Natureza e Floresta, e naturalmente consideramos que esta é uma boa notícia e uma decisão favorável para o nosso concelho, porque pode potenciar o turismo cinegético e gerar fluxo económico”, afirmou.
Confrontado com a contestação e críticas que entretanto foram surgindo, designadamente por parte da Quercus e do PAN, que afirmam que esta decisão carece de fundamentação científica e que coloca em risco a recuperação de espécies como o lince ou o lobo, o autarca considerou que tal só pode ser fruto de “desconhecimento”. Garantiu ainda que nem a biodiversidade nem as espécies protegidas são colocadas em causa.
“É importante que se esclareça que esta medida está acompanhada de um plano cinegético que pretende promover uma gestão de caça rigorosa e diferenciada, que visa a caça grossa e que tem como base, exatamente, a preservação da biodiversidade. E isto é possível e faz sentido. Só não faz sentido para quem não conhece a realidade da gestão cinegética”, afirmou.
Segundo referiu, tal não será uma ameaça para o coelho bravo, “bem pelo contrário”, e poderá até contribuir para a sua proliferação, uma vez que espécies como o javali são “os piores inimigos” do coelho. Deste modo, também não ficaria em causa qualquer plano de reintrodução do lince nesta área, isto se a RNSM não tivesse sido excluída do Plano Nacional de Reintrodução do Lince.
“Acompanhamos esse processo, estivemos sempre disponíveis e tivemos reuniões a perder de vista, mas esse foi sempre um processo mal gerido pelo Estado e, no ano transato, sem se saber bem porquê, a Serra da Malcata foi excluída de forma vergonhosa e lamentável”, disse. Explicando que tal decisão foi depois justificada com os “timings” definidos para o fim do projeto, os quais já não permitiriam a criação das condições ideais para a reintrodução nesta área, o autarca também lamentou que nessa altura não se tenham ouvido vozes a defender a RNSM.
António Luís Beites sublinhou igualmente que a área em causa não foi alvo de qualquer investimento monetário no âmbito do projeto de reintrodução do lince e reafirmou que “se algo mudar” e caso se opte por reintroduzir o lince na RNSM o facto de aí existir a uma nova área cinegética (na área que integra o concelho do Sabugal já era permitida) não será impeditivo para que isso aconteça.
“Não são realidades incompatíveis, basta olharmos para o que acontece em Mértola, concelho que deve estar garantidamente quase todo abrangido por zonas de caça e onde o lince-ibérico está a ser reintroduzido. Isto prova claramente que é possível conciliar as duas vertentes”, fundamentou.
A RNSM tem como símbolo o lince-ibérico e estende-se ao longo de 16.348 hectares dos concelhos do Sabugal e de Penamacor, respetivamente nos distritos da Guarda e Castelo Branco.