A Conferência dos Oceanos das Nações Unidas já vai no seu segundo dia e, até sexta-feira, 1 de julho, são desejadas e esperadas soluções e medidas que garantam a saúde dos oceanos. À margem deste Encontro, a Ambiente Magazine entrevistou Mário Parra da Silva, presidente do Conselho da Global Compact Network Portugal (GCNP), que, além de partilhar “sinais encorajadores”, acredita que a Conferência vai ser um impulso para que “mais países se comprometam com o ODS 14 – Conservar e usar de forma sustentável os oceanos, mares e os recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável”.
Questionado sobre o estado atual dos oceanos, Mário Parra da Silva, tal como “toda a comunidade internacional”, reconhece que é “mau” e, as evidências mostram que está a “piorar conforme mais e mais vagas de poluição chegam aos oceanos e uma vez lá se transformam em ameaças à vida animal, vegetal e humana”.
Sendo que “a grande maioria da superfície do planeta é oceano” e, que, apesar de “ignorado” funciona, em grande parte, como “regulador do clima e do oxigénio na atmosfera”, o responsável considera central colocar o tema em destaque, não só porque a “vida humana depende dos oceanos”, como “a Economia ter todo o interesse em se virar para soluções nesse domínio de desafios”. Em relação às mais-valias de Portugal acolher o Encontro, o presidente do Conselho da GCNP acredita que é o “resultado do esforço nacional” para colocar o país no mapa das soluções para os Oceanos: “A atividade económica à volta das novas soluções para os problemas do Oceano, mas também os novos negócios que poderão resultar do aproveitamento sustentável da sua riqueza, poderão tornar Portugal uma economia mais avançada e mais criadora de riqueza”.
A ação que tem sido feita pelo país em prol do oceano é vista pelo responsável como um “compromisso” e, ao mesmo tempo, como uma “enorme oportunidade” que é gerada por esta situação: “Prova disso é a escolha do atual Ministro da Economia e do Mar, não só pelo conhecimento na área, como pela inteligência de juntar economia e mar no mesmo Ministério”. Para Mário Parra da Silva, sempre que um problema se torna grande, logo surgem projetos para o resolver, acreditando que, o mesmo está a suceder com as alterações climáticas e a poluição oceânica: “Os projetos de solução poderão ser a alavanca para novas atividades económicas e Portugal parece, desta vez, ter compreendido e estar a atuar para esse fim, nas Universidades, onde tudo começa, mas também nas empresas, onde se nota atenção às startups que surgem com projetos interessantes e às oportunidades de investir na economia azul”.
[blockquote style=”1″]“Não acompanhar os tempos significará a decadência e a extinção”[/blockquote]
No entender do responsável, os benefícios económicos que Portugal pode beneficiar do oceano passam, essencialmente, por investimentos: “Ou seja, pelo dinamismo científico e pela capacidade financeira”. Se forem “reunidas as condições” e se houver uma “orientação política adequada”, Mário Parra da Silva não tem dúvidas de que “o benefício pode ser enorme e a geração seguinte pode ficar centrada em atividades viradas para o mar, em vez do que sucedeu na nossa geração, que ficou essencialmente virada para fornecer produtos baratos a Espanha e ao centro da Europa”.
Enquanto “alavanca global” para as empresas portuguesas que procuram alinhar os seus negócios com as necessidades do Desenvolvimento Sustentável e a Agenda 2030, no quadro de valores e princípios internacionalmente aceites, a Global Compact Network Portugal acredita que o interesse empresarial sob os oceanos aumentará consoante a explicação que é dada sobre a enorme oportunidade de negócio que está implícita nos 17 ODS: “Trata-se de um novo modelo de desenvolvimento, que criará muitas atividades que até agora ainda não existem. Não acompanhar os tempos significará a decadência e a extinção”.
Em jeito de “expectativas” sobre a 2.ª Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, que decorre no Parque das Nações, em Lisboa, Mário Parra da Silva espera que sejam “definidos ambiciosos objetivos para Oceanos, saudáveis”, e que sejam “abertas linhas de financiamento suficientes para as concretizar: sem adequado financiamento será só poesia e idealismo, mas nada mudará na prática”.