A sustentabilidade e a transição energética são temas prioritários em todas as indústrias, e o setor imobiliário não é exceção. Aliás, a construção é uma das indústrias mais poluentes devido aos resíduos gerados e ao consumo de materiais e energia durante o ciclo de vida dos edifícios. Com base nesta realidade, os países mais desenvolvidos têm tornado as leis e regulamentos, cada vez mais exigentes, e os clientes estão cada vez mais informados e interessados sobre o tema, o que obriga os players do setor a encontrar novas soluções. E, em Portugal, como é que este setor se tem preparado? Esta foi uma das perguntas que a Ambiente Magazine fez a Duarte Ferreira dos Santos, representante da Casavo em Lisboa, uma plataforma digital direcionada para mercado residencial.
Apesar de ainda existir um longo caminho a percorrer em Portugal, o responsável considera que o mercado tem demonstrado uma preocupação cada vez maior em desenvolver os “novos projetos” com foco na “sustentabilidade e descarbonização”, bem como “apostar na renovação dos edifícios existentes para que estes melhorem o seu desempenho ambiental”. A título de exemplo, Duarte Ferreira dos Santos confirma que já se vê clientes que “apenas compram casas que apresentem soluções sustentáveis”, investidores que “apenas investem em projetos que tenham determinadas certificações (como BREEAM e LEED)”, bancos que “oferecem taxas de juro bonificadas para clientes que compram casas com bom desempenho energético” e ainda “incentivos governamentais (através de benefícios fiscais) para acelerar esta transição”.
Relativamente ao caminho que tem sido feito pelo setor no âmbito da sustentabilidade, Duarte Ferreira dos Santos admite que na “nova construção vê-se uma preocupação crescente dos promotores imobiliários em tornarem os seus projetos mais sustentáveis” através da utilização de “energias renováveis (sobretudo solar), instalação de equipamentos e sistemas que asseguram uma elevada eficiência energética, aumento das áreas verdes (incluindo em coberturas ajardinadas) e utilização de soluções construtivas e materiais menos nocivos para o ambiente”. Já sobre a “renovação de imóveis existentes”, o responsável acredita que nos próximos anos será possível investir em larga escala na reabilitação do parque habitacional de forma a torná-lo mais eficiente e sustentável: “O parque habitacional em Portugal encontra-se bastante envelhecido e desatualizado, o que acarreta desafios acrescidos ao nível da eficiência energética: os imóveis não estão preparados para acomodar variações acentuadas de temperatura sem colocar em causa o conforto térmico dos utilizadores, levando a grandes consumos de energia, o que não só revela ser pouco sustentável como se traduz em elevados custos energéticos”. Desta forma, a redução da pegada ecológica do setor imobiliário terá de passar obrigatoriamente pela “renovação dos imóveis e edifícios existentes”, e não apenas em nova construção, sucinta.
No que respeita aos entraves, o especialista aponta, primeiramente, o “aumento acentuado dos preços de construção”, deixando “menor margem para que os promotores e investidores possam apostar em soluções tecnológicas inovadoras e em materiais mais avançados sem aumentar significativamente os preços de venda ou inviabilizar a execução dos projetos”. Em segundo lugar, a “indústria da construção está bastante atrasada na adoção de práticas sustentáveis durante o processo construtivo”, nomeadamente no que respeita à “gestão de resíduos e às tecnologias construtivas”, refere. Por último, “o facto de Portugal ter um parque habitacional disperso, antiquado e sem critérios de eficiência energética, obriga a que apareçam novos players que profissionalizem a renovação de imóveis granulares e que tenham capacidade de investimento para esta transformação”, sustenta.
Duarte Ferreira dos Santos não tem dúvidas que a transformação passa, sobretudo, pela “renovação dos imóveis e edifícios já existentes”, possibilitando uma “melhoria da eficiência das casas até 60%” e, segundo dados da União Europeia, “reduzir as emissões de dióxido de carbono em pelo menos 5%”. Acresce que a renovação das atuais habitações contribui ainda para “reabilitação sustentável do parque habitacional”, uma vez que esta ação permite “poupar tempo e recursos”, bem como “reduzir as emissões poluentes”. Contudo, a “construção de novos edifícios com base em princípios de sustentabilidade e neutralidade carbónica” também será fundamental para tal transformação: “Se é necessário reabilitar ou construir, é importante que se adotem práticas mais sustentáveis, como utilizar materiais e soluções construtivas menos poluentes, reciclar ou reutilizar os materiais provenientes de demolições ou reabilitações e incorporar características específicas nos projetos (incluindo a adoção de soluções tecnológicas de última geração) que promovam a redução da pegada da indústria e a maximização do bem-estar e saúde das populações”. Neste sentido, quer ao nível da renovação, quer ao nível da reabilitação e construção, o papel do setor imobiliário também deve passar por “sensibilizar e incentivar” esta transição, defende.
Das várias intervenções que devem ser privilegiadas aquando da renovação de casas antigas, o responsável destaca como fundamentais a “substituição das janelas por novos caixilhos com vidro duplo e corte térmico”, a “melhoria do isolamento térmico”, a “colocação de proteções solares (estores e portadas)”, a “substituição dos sistemas de climatização e de aquecimento por novos sistemas” e a “instalação de equipamentos e eletrodomésticos com elevada classificação energética”. Também aqui a tecnologia terá um papel fundamental, na medida em que a “colocação de sistemas inteligentes de gestão que otimizem os horários de funcionamento dos sistemas de climatização e monitorizem os consumos de energia” permitirá “uma melhor gestão dos consumos energéticos”, acrescenta.
O que é uma construção sustentável?
“A construção sustentável passa pela utilização de materiais recicláveis e soluções com menor pegada ecológica na construção de novos edifícios, bem como a redução do consumo de energia e do desperdício em todo o ciclo de vida dos imóveis. A sustentabilidade dos edifícios mede-se não apenas pela sua fase de construção propriamente dita, mas também pelo seu impacto no meio ambiente ao longo de toda a sua vida útil. Isto significa que o projeto do edifício deve incorporar elementos e soluções tecnológicas que assegurem ao máximo a neutralidade carbónica e independência energética do mesmo, bem como adotar materiais duráveis e com reduzida pegada ambiental”.