O Dia Mundial da Água, que se assinala este terça-feira, 22 de março de 2022, é mais um motivo para empresas, entidades e associações se juntarem em prol de um recurso cada vez mais escasso. Entre ações, campanhas, eventos ou projetos, todas as razões são boas para assinalar a efeméride e, ao mesmo tempo, apelar à sensibilização do uso da água. Mais ainda num cenário em que se avizinha que, no futuro, haverá menos chuva e mais calor. “Águas subterrâneas: Tornando o invisível visível” é o mote que a ONU (Organização das Nações Unidas) escolheu, este ano, para assinalar a data.
Depois de 2021 ser mais um ano marcado pela instabilidade e incerteza devido à pandemia da Covid-19, celebrar o Dia Mundial da Água é também celebrar o setor que, desde o início, mostrou resiliência para garantir o abastecimento e o tratamento de efluentes sem problemas nem interrupções. Quem o diz é Francisco Oliveira, presidente da Águas do Ribatejo (AR), assinalando que a sensibilização para a importância do Ciclo Urbano da água decorre todo o ano com campanhas regulares: “Em março, vamos lançar um conjunto de novos conteúdos de sensibilização e educação ambiental que serão divulgados nas várias plataformas físicas e digitais”. Para 2022, está ainda previsto o lançamento de vários vídeos e informações sobre o valor da água: “Sob o mote ‘Esta Água que nos Une’, vamos dar a conhecer o contributo da AR para a sustentabilidade e a melhoria das condições de vida de mais de 140 mil pessoas que vivem no nosso universo”.
Já para Francisco Furtado de Mendonça, diretor-geral da APIAM (Águas Minerais Naturais e de Nascente de Portugal), celebrar o Dia Mundial da Água é reafirmar e reforçar o compromisso de defender e continuar a valorizar o recurso, assumindo como a grande missão do setor “garantir que as gerações futuras podem beber água mineral e de nascente em quantidade e qualidade idêntica à que nós bebemos atualmente”. Em Portugal, as Águas Minerais Naturais são recursos do domínio público do Estado. Celebrar a água é continuar a garantir a diversidade geológica de Portugal e a genuína e singular ligação à natureza das águas minerais e de nascente, que permitem ao consumidor fazer “escolhas da sua preferência, de gosto e paladar e dar resposta a preocupações cada vez mais relacionadas com uma alimentação mais saudável e equilibrada”.
Mesmo com a pandemia a estar no centro das atenções, os Serviços Municipalizados de Água e Saneamento de Sintra (SMAS de Sintra) prosseguiram o objetivo estratégico de garantir a melhoria contínua da disponibilidade, qualidade e eficiência dos serviços prestados à população, nomeadamente na área do abastecimento de água. Para 2022, ano em que a entidade celebra 75 anos, estão previstas conferências presenciais e online, no âmbito das três áreas de atuação: “abastecimento de água, drenagem e tratamento de águas residuais e recolha e transporte de resíduos”. Carlos Vieira, Diretor Delegado do SMAS de Sintra, adianta que o Dia Mundial da Água faz certamente parte da agenda da entidade que, à semelhança do objetivo das Nações Unidas ao instituir a data. Desta forma, serão realizadas iniciativas de sensibilização para a necessidade urgente de preservação e poupança do recurso. Dentro das iniciativas previstas, será promovido um concurso de desenho e textos, destinado a alunos do 3.º Ciclo e ensinos Secundário e Profissional, subordinado à temática “Águas Subterrâneas”. Em 2021, os SMAS de Sintra vão aprofundar a sua oferta para a população, com particular incidência na comunidade educativa, criando o Museu da Água e Resíduos no espaço SMAS da Ribeira de Sintra.
Os elevados montantes de faturas por regularizar em resultado das sucessivas proibições legais de interrupção de fornecimento decretadas, bem como as dificuldades por diversas vezes sentidas no completo escalonamento das equipas operacionais, em resultado da obrigatoriedade de isolamento de vários elementos, foram alguns dos desafios da pandemia da Covid-19 que condicionaram o normal funcionamento da Águas do Interior do Norte (AdIN). Apesar disso, Carlos Silva, presidente do Conselho de Administração AdIN, destaca que todas as dificuldades têm sido ultrapassadas através da “dedicação e sentido de serviço público de todos os trabalhadores do setor”. Tratando-se de um setor com grande capacidade de resposta, também a AdIN se associa ao Dia Mundial da Água: “Estamos a ultimar, em conjunto com as Câmaras Municipais nossas acionistas, um conjunto de iniciativas de carácter ambiental particularmente destinadas aos mais novos, tendo sempre subjacente a consciencialização da necessidade de todos fazermos um uso eficiente desse bem público essencial tão escasso como é a água potável”. Comemorar a efeméride é também “abordar temas muito relevantes para o setor como os problemas do abastecimento de água potável, inimagináveis no hemisfério, mas infelizmente ainda presentes numa parte significativa do planeta” e, nessa sequência, “aumentarmos a consciência pública sobre a necessidade de conservação, preservação e proteção de um bem tão essencial como escasso”.
“Estabilidade” e “mudança de paradigma” são as melhores palavras que traduzem o ano 2021 para o setor da água: “Estabilidade porque, foi evidente a capacidade de resposta à crise pandémica e a fiabilidade no funcionamento deste serviço essencial, com a estabilidade que se exigia do setor durante esta crise; mudança de paradigma, na medida em que os efeitos da pandemia trouxeram maior motivação dos agentes do setor para acelerar esta mudança que já vinha a ser percetível”. Este é o balanço que Alexandra Serra, presidente do Conselho de Administração da Tejo Atlântico, faz de 2021, lembrando que abrangência da Tejo Atlântico obriga a uma resiliência do serviço que só é possível garantir com a colaboração de todos os municípios. Tal como já tem sido habitual, a Tejo Atlântico vai assinalar o Dia Mundial da Água com uma série de iniciativas de sensibilização em parceria com os municípios, tendo como objetivo envolver as populações para as questões do uso racional da água, dinamizar a relação entre a comunidade e as Fábricas de Água e organizar atividades no Centro de Educação Ambiental destinado a alunos e professores. Mesmo com o tema ‘água’ a estar na agenda diária, a comemoração da efemeridade é, para Alexandra Serra, muito importante: “A nível global, são organizadas várias iniciativas, muitas delas com grande impacto, e que têm contribuído para uma consciencialização e mudança de comportamentos no acesso e uso eficiente deste recurso limitado”.
[blockquote style=”2″]Ano crítico para a viabilidade económica e sustentabilidade do setor[/blockquote]
Com 2022 a dar sinais de maior estabilidade, é objetivo da Águas do Ribatejo continuar a recuperar a normalidade de funcionamento com um rigoroso cumprimento das normas: “Será́ a consolidação de novos modelos de funcionamento, ao mesmo tempo que continuaremos a desenvolver as operações em curso na construção e requalificação de equipamentos nos sistemas de abastecimento e saneamento”. Francisco Oliveira adianta ainda que o presente ano será marcado pela “inovação” com a participação de projetos, bem como a “aposta na formação de todos os colaboradores, de modo a garantir eficiência, segurança e qualidade nos serviços que prestamos e a motivação permanente das equipas”.
As perspetivas para 2022 são de “redobradas exigências” para todo o setor, particularmente pelo período de seca que o país atravessa: “Essas exigências ocorrerão ao nível dos processos quotidianos das organizações, mas também, no caso da AdIN, na materialização de todos os investimentos em curso lançados com o apoio do POSEUR. A “escassez de mão-de-obra” e a “aparente escalada do custo das matérias primas”, no entender de Carlos Silva, resultarão num “ano crítico para a viabilidade económica e a sustentabilidade” de todo o setor da água em Portugal.
Continuar com a estratégia de renovação das infraestruturas de abastecimento de água mais antigas com maior índice de roturas é um dos focos dos SMAS de Sintra para 2022, segundo Carlos Vieira. Sendo a redução da percentagem de água não faturada um objetivo estratégico, os SMAS de Sintra vão a apostar no projeto EcoÁgua, que visa a reutilização de águas residuais tratadas para fins múltiplos, como a lavagem e higienização de contentores de recolha de resíduos, varrição urbana e lavagem de arruamentos, limpeza e desobstrução de coletores e limpeza de mecanismos de ETAR. Iniciar o estudo sobre a utilização dos processos de dessalinização na zona costeira de Sintra é algo que também vai marcar este ano.
Afirmando-se como “player de referência” na economia circular do ciclo urbano da água, a Tejo Atlântico vai continuar a preparar as fábricas de água para transformar a matéria-prima que recebe em produtos com valor: “A inovação é absolutamente instrumental neste processo”, refere Alexandra Serra. O digital, a gestão de informação, a gestão de risco e novos modelos de financiamento são áreas em que também é necessário “criar novas abordagens e novas soluções” e, por isso, “temos em curso mais de uma dezena de projetos de inovação” adianta. Uma prioridade para empresa é a eficiência e valorização energética: “Prevê-se o início da construção de 23 centrais fotovoltaicas para autoconsumo nas principais Fábricas de Água da Águas do Tejo Atlântico, com prioridade para as centrais de Alcântara e Beirolas”. Os projetos de reutilização de água em parceria com os municípios da área de concessão vão também marcar o ano: “O projeto de reutilização de água para a rega do Parque das Nações – Norte, em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa, irá iniciar o seu funcionamento em breve”, exemplifica.
Este artigo foi publicado na edição 92 da Ambiente Magazine.